Por David Rodríguez/

Nos anos 30 do s. XX, o fascismo apareceu num contexto de crise capitalista e de mudança de hegemonia mundial. A tentativa de Alemanha de converter-se em novo hegemon, como já tentara em 1914, contou coa oposiçom tanto da URSS como, finalmente, da nova potência emergente, os EEUU. Foi graças a essa aliança, onde a URSS puxo verdadeiramente a carne no assador, que resultou possível neutralizar o nazi-fascismo.

A Revoluçom russa tivo lugar num país onde as grandes massas nom estavam completamente assimiladas nem polo capitalismo nem polo Estado. Todas as revoluçons que tivérom lugar no mundo dérom-se em países com características semelhantes. Os Estados “ocidentais”, eram muito mais estáveis e difíceis de ser vencidos com umha revoluçom do tipo da russa. Neste sentido, desde entom, a cousa nom fijo mais que complicar-se.

Nas ilhas de bem-estar euro-americanas, cresceu um movimento obreiro sólido que, se bem se foi enquadrando cada vez mais, através do consumo de massas, no capitalismo e no Estado, conseguiu arrincar conquistas democráticas e económicas ao capital. Nesse clima optimista do bem-estar de massas, emergia um novo tipo de fascismo. Um fascismo, se se quer, menos primitivo que o dos anos 30, mas com capacidade de aceder a onde aquele fascismo nom acedera: a mais íntima vida quotidiana das pessoas.

O poder dos meios comunicaçom para moldar ideologicamente a sociedade, unido ao enquadramento das massas no ethos do capitalismo de consumo massivo, anunciava umha nova realidade social. Quando a URSS esboroa e o movimento obreiro sofre as suas primeiras derrotas históricas, e quando o capital, dedicado agora à sua reproduçom na esfera das finanças, fai do mundo um todo sem fora, esta nova realidade pretenderá, presuntuosamente, ser considerada como a do fim da Historia. Assistíamos a um presente contínuo onde a chegada do desenvolvimento económico a todo o orbe era só umha questom de tempo e onde a democracia liberal se apresentava como a forma política perfeita e que devía ser exportada mesmo a bombaços.

Em 2007, a utopia civilizadora quebra. Mas o capital nom tem, politicamente, nada sério que se lhe oponha. O totalitarismo mediático, agora repotenciado a través de Internet e outras tecnologias em maos de grandes monopólios, encarregara-se de pulverizar o esterco básico necessario para que os agredidos se convertam em classe para si. Porém, co estourido da crise endurece-se a disputa larvada desde os anos 70 entre os novos candidatos a hegemon mundial chamados a destronar os EEUU para fazer-se cos recursos dum mundo cada vez mais pequeno. É aí que há que situar os diversos movimentos, a começar polo fenómeno Trump e os seus émulos, que lembram o velho fascismo dos anos 30. Lembram, mas nom som idênticos. Recriam, nalguns tics, o velho fascismo; mas movem-se num cenário em que as tecnologias da informaçom permitem um controlo ideológico da populaçom a cujo lado a rádio de Goebbels semelha um joguete. A mistura de ambos fascismos dá como resultado umha nova criatura, sem dúvida mais perigosa. Esta criatura reproduz-se num contexto onde já nom existe nengum fora sociológico, nem o fora do movimento obreiro com autonomia política e cultural, nem o fora do campesinato, pouco ou nada integrado no capitalismo. Um sistema de produçom sem buracos nem excepçons no que toda a sociedade nom é mais que um reflexo construído à sua imagem e semelhança.

A convivência de capitalismo e democracia, ao longo da curta existência deste sistema de produçom, foi mais bem anedótica. O habitual, na fase previa à irrupçom das massas na política capitalista, a começos do século XX, era que o capitalismo fosse governado por umhas elites que, mediante o sufrágio censitário, se trocavam nos postos de mando.
O que estamos a viver no presente bem pode ser outro episódio —pois a tecnocracia globbish também tinha por cometido afastar ás massas da política— que marca a passagem do tempo da irrupçom das massas na política capitalista a umha nova época de grande exclusom, tanto a nível económico como a nível político. O paradoxal, ou nom tanto dado o carácter totalitário do capitalismo actual, é que esta grande exclusom se está a produzir, em cada vez mais lugares, com o beneplácito dos votantes a través da toma dos governos mediante o sistema eleitoral das democracias liberais.