Em círculos académicos o conceito ‘sexta extinçom massiva’ leva lustros circulando. Alude à desapariçom acelerada e apavorante de milheiros de milheiros de espécies animais e vegetais que vinham acompanhando a humanidade no seu percurso, normalmente precedendo-a. Desde o ano 2015, esta terrível problemática está a fazer-se conhecida para o grande público, nomeadamente para a populaçom mais sensibilizada com a possibilidade dum colapso civilizatório. Mais umha vez, cumpre perguntarmo-nos: a que nos enfrentamos ?

Alarma conhecida

Há quatro anos, umha equipa interdisciplinar recorreu à base de dados da Uniom Internacional para a Conservaçom da Natureza para chegar a umha conclusom de arrepio : durante a vida dumha pessoa nascida em 2015, a humanidade assistiria à extinçom de até 400 espécies. Investigadores de México e Estados Unidos afirmavam que, se bem as extinçons massivas som um fenómeno recorrente desde que o mundo é mundo, nunca alcançaram tal velocidade. O comum do público conhece a tam recriada extinçom dos dinossauros, acontecida há 65 milhons de anos, e que conduziu à desapariçom do 75 % de espécies ; possivelmente também saiba que antes do fim dos grandes sauros decorreram três grandes extinçons provocadas por meteoros ou volcáns.

É menos conhecido ainda, porém, que nós estamos a viver também umha etapa em certa medida semelhante à todas aquelas que banírom da superfície do planeta formas muito diversas de vida. Se começarmos o cómputo em 1500 (ano que, grosso modo, alguns autores situam como ponto de partida da economia mundo capitalista), comprovaremos que fôrom já 338 as desapariçons consumadas. Na realidade, os cientistas acham que se trata de bem mais, porque muitas espécies nom fôrom nunca conhecidas polo ser humano, e muitas outras resistem na vida de escassíssimos exemplares: som as que se conhecem na gíria investigadora como ‘mortos vivintes.’ Gerardo Ceballos, um dos responsáveis do projecto investigador, assinalou na altura que ‘estamos ante à primeira extinçom causada polo homem, e aliás em prazos muito curtos. Se antes decorriam uns 10000 anos para se extinguir umha espécie, agora abonda o passo de cem anos. Sem se atrever a nomear a palavra proibida -capitalismo- como responsável da desfeita, Ceballos apontou porém causas que se relacionam profundamente com ele: sobrepopulaçom, desigualdade e ineficiência tecnológica.

A confirmaçom

A imprensa capitalista confirmava nestes dias o já sabido com os dados dum novo estudo. Nesta ocasiom trata-se dos fornecidos polo Informe do Inter Governammental Science-Policy Platform on Diversity and Ecosistem Services, apresentado na passada segunda feira na sede da Unesco, em Paris. 450 expertos e expertas trabalhárom durante dez anos para concluirem que o 77 % do contorno terrestre e o 66 % do marinho estám em sério perigo ‘pola exploraçom irracional dos recursos.’ Ainda que a mudança climática contribui para o processo, nom se trata do único nem do principal agente. Se na terra vivem e rebolem na actualidade 8 milhons de espécies diferentes, até 1 milhom correm perigo de esmorecerem de vez. Robert Watson, presidente da fundaçom encarregada da pesquisa, assinalou que ‘se estám a erodir gravemente as condiçons de vida na terra’ ; nesta viagem para nengures, nocivo para todos, haverá ainda perdedores : ‘as populaçons pobres vam ser as mais danificadas’, ratificou. Na mesma linha de crítica comedida ao capitalismo, um outro dos cientistas, Eduardo Brundizio, salientou que a tendência só poderia ser cambiada ‘se o objectivo é a qualidade de vida, nom o crescimento económico.’

Para quem é o perigo?

O descentrado da visom da ideologia dominante reflecte-se na popular legenda ‘salvemos a Terra’. Pois embora a depredaçom humana levou ao fim de inúmeras espécies, nom é a vida na Terra a que está ameaçada : esta sobrevivirá dum ou outro modo, como tem ratificado a comunidade científica que aponta o ecologismo decrescentista. O que está em causa, entom, é a vida do género humano, no caso das tendências que hoje conhecemos alcancem dimensons incontroláveis e imprevisíveis.

Com um ponto de vista tam fanado, o ecologismo aparece como um passa tempos urbano de sectores relativamente abastados, que mantenhem umha certa relaçom afectiva com plantas e animais, mas em todo desligado das ‘cousas de comer’, por utilizarmos as palavras da política convencional. Pesquisadores como Lluis Brotons, membro do CSIC e um dos participantes na pesquisa, esclarecem com as suas palavras esse perigoso equívoco : ‘entramos numha situaçom de emergência, manifesta.’ Com a extinçom massiva, declarava nas páginas da impensa empresarial, ‘ponhem-se aliás em perigo o que chamamos ‘serviços ecossistémicos’, aqueles que gratuitamente oferece a natureza para a nossa sobrevivência -e a de todas as demais espécies. Polinizaçom, regulaçom do clima que marca as produçons agrícolas, efeito de renovaçom atmosférica graças às massas florestais, auga limpa…no caso da Galiza, cuja economia depende directa ou indirectamente da pesca e da polinizaçom das abelhas, os efeitos poderiam ser evidentes.

A praga das velutinas é nestes momentos um desafio para o sector apícola e ameaça seriamente a abelha de nosso.

Um país empobrecido

E si a riqueza dum país nom se mede fundamentalmente em termos monetários, senom em termos naturais, patrimoniais e cívicos, poderíamos afirmar também que a nossa Terra se encaminha cara um empobrecimento radical. Lembrávamos há umhas semanas neste portal como a desapariçom de aves se enquadra num processo mais amplo de desapariçom de espécies: som 33 as incluídas no Catálogo de Espécies Ameaçadas da Galiza desde 2017. Um problema bem conhecido polos especialistas que porém, como tem denunciado a Sociedade Galega de História Natural, nom merece resposta eficaz da Junta.

O colapso, de fundo

Como pode comprovar qualquera pessoa interessada com umha simples consulta na internet, o termo ‘colapso’ deixou de ser património de pequenas sectas apocalípticas e alcançou, quanto menos, categoria de possibilidade em certa literatura especializada e entre movimentos populares de esquerdas. No campo do pensamento dominante, a noçom alcançou umha amplitude especial em 2005, de mao do geógrafo estadounidense Jared Diamond. Na sua obra ‘Colapse. How societies choose to fail or to succeed’ realizou um ambicioso estudo comparativo entre várias sociedades que ruiram ao longo da história (Ilha de Páscoa, Pitcairn da Polinésia, Maias…) para contrapó-las às que teceram umha exitosa saída às suas crises. Embora as crises ambientais só sejam mais umha peça numha concatenaçom complexa de elementos, jogárom em todos os processos terminais. Diamond foi dos pensadores mais conhecidos que, sem questionar o capitalismo, assinalava a possibilidade de a chamada civilizaçom occidental enveredar para umha implosom irreversível. Mesmo cabeçalhos da imprensa neoliberal como ‘The Economist’ considerárom pertinente levar em conta as suas propostas.

Capitalismo verde, esquerda, decrescentismo

A pretensom dumha remoçom a fundo da economia capitalista a prol dum alegado ‘futuro verde’ fai parte já da ortodoxia de parte das classes dominantes mundiais, e mesmo empresas tam significadas por militar a favor da desfeita como ENCE abraçam já este lavado de cara. No movimento popular que combate o estado de cousas, sem embargo, nom está inteiramente claro que reivindicaçons som justas e populares, e quais som apenas a reciclagem verde da oligarquia de sempre.

A pasteira, um outro herdo do franquismo, vai mantendo-se a flote graças à inacçom e cumplicidade de sucessivos governos e politicalhos que rematam no seu conselho de administraçom.

Ante o surgimento do protesto global ‘Extinction Rebellion’, cujas passadas mobilizaçons deixárom mais de mil pessoas detidas em Londres, as posiçons divergem. Também o fam ante o papel de Greta Thunberg, a adolescente sueca que acapara notícias na mídia por liderar um movimento de rebeldia contra a ‘inacçom da classe política ante a mudança climática.’ A ideia dum movimento transversal além da luita de classes -no que opressores e oprimidos nos uniríamos em nome dum interesse comum- leva muitos sectores da esquerda revolucionária a se desmarcar do movimento. Com palavras muito grossas desqualificava por exemplo o comunista Juan Manuel Olarieta : ‘como o manhá é tam negro, a pseudoecologia resulta conformista, apesar da sua aparência ‘contestatária’. A um entram-lhe ganhas de nom mover-se do sítio, porque nom só estamos a destruir a natureza, senom a nós mesmos como espécie. Carpe diem ! Restam-nos dous telejornais. (…) A pseudociência pujo a natureza no centro do universo. Nom há problemas mais sérios e trágicos que os que atingem o clima, a deforestaçom, a sostibilidade (…) Todo o mundo deve deixar o que tem entre maos para começar a preocupar-se da verdadeira tragédia que nos aguarda’, remata o artigo com ironia.

Ainda, e com todo o interclassismo que o lastre, resulta difícil desligar o ecologismo das suas fundas raízes na esquerda social da Europa dos 60. Como também resulta difícil desconsiderar um dos primeiros anunciadores da ameaça do colapso : Fidel Castro, numha série de discursos anticapitalistas que começárom no Cúmio de Rio de 1992 e continuárom até o fim dos seus dias : numha arenga com o ilustrativo título ‘Ninguém quer pegar no touro de caras’, Fidel manifestava em 2007 os perigos para o meio ambiente e a espécie humana eram um tema no que vinha meditando durante anos. O que nom imaginei nunca era a iminência do risco.’ Continuava assim umha linha de pensamento que vinha de décadas atrás, e que nos deixa fragmentos como estes : ‘é preciso assinalar que as sociedades de consumo som as responsáveis fundamentais da atroz destruçom do meio (…) Os bosques desaparecem, os desertos extendem-se (…) numerosas espécies extinguem-se. (…) Se se quer salvar a humanidade da autodestruçom, cumpre distribuir melhor as riquezas e as tecnologias disponhíveis no planeta. Menos luxo e menos esbanjamento. Nom mais transferências ao Terceiro Mundo de hábitos e estilos de vida que arruinam o meio.’