O que quiçá seja o mais novo de todos os movimentos sociais em andamento, o movimento pola justiça climática, debate nesta terceira década de século quais as estratégias e tácticas mais acaídas ante um capitalismo acelerado cara um colapso ou funda crise de dimensons incertas. Polo seu interesse para o público galego, reproduzimos duas partes umha parte importante deste debate, catalizado polo activista Andreas Malm.

Em 1957, quando o auge económico de pós-guerra deu lugar a umha «grande aceleraçom» no uso de energia de hidrocarburos, um grupo de científicos que trabalhava para umha companhia petroleira de Texas chamada Humble Oil (que depois se chamaria ExxonMobil) embarcou-se num estudo motivado pola crescente preocupaçom pública sobre a poluiçom do ar e por novas investigaçons arredor das conseqüências da queima de combustíveis fósiles. O que atopárom foi que «a enorme quantidade de dióxido de carbono» presente na atmósfera estava relacionada coa «queima de combustíveis fósiles». Sesenta e cinco anos depois, a realidade demonstrou ser pior que os seus achádegos. Devido à queima sem límites de combustíveis fósiles e a conseguinte emisom de enormes quantidades de CO2, o mundo dirige-se agora cara os 3,2 ºC de aquecimento por cima dos níveis pré-industriais. Na última Conferência da ONU sobre a mudança climática, os dirigentes lá reunidos chegárom, de novo, a um total de zero compromissos vinculantes para reduzir essas emissons. E a pesar da retórica verde, só o 6 % dos pacotes de estímulos fiscais aplicados polas naçons do G20 em 2020 e 2021 contribuírom para reduzir as emisons, mesmo quando os lucros das empresas petroleiras alcançárom níveis de récord. Ademais da inacçom dos Governos, também ficou claro que o setor privado nom nos vai salvar. Dixo-se-nos que os investidores benévolos poderiam redirigir o capital e tirá-lo dos setores energéticos sujos cara as indústrias verdes do futuro. Mas a promessa dumhas «finanças socialmente responsáveis» demonstrou ser na sua maioria umha fraude. A pesares de que prometeu fazer o contrário, Blackrock, o principal gestor de ativos do mundo, continuou investindo em empresas de combustíveis fósseis, e a produçom do carvom –o combustível fóssil mais sujo de todos– está em alça.

Por enquanto, como nem os Estados nem o capital estám a fazer muito para reduzir as emissons de CO2, estas recuperárom-se completamente da sua queda pandémica. Em 2021, o mundo bateu dous desalentadores récords: o nível mais alto registado de emissions de CO2 na história e o maior crescimento absoluto anual. Ano após ano, os países do Norte Global adiam a prometida financiaçom climática para o Sul Global, que contribuiu menos para a crise mas sofre as suas piores conseqûências. Em lugar da redistribuiçom, os Governos do Sul Global podem aguardar o que Daniela Gabor e Isabella Weber chamam «terápia de choque do carbono», na que os préstamos do FMI venhem condicionados à adopçom de mecanismos regressivos de fixaçom de preços ao carbono e recortes aos subsídios aos combustíveis. As condiçons geopolíticas estám engadindo lenha ao lume. A raíz da invasom rusa de Ucrania, os Governos de EE UU e Europa estám adiando os seus compromissos de energia renovável.

Porém, o reino do capitalismo fóssil enfrenta-se a umha feroz resistência. Durante a vaga de greves estudantis de 2019, a juventude de todo o mundo denunciou a injustiça geracional de herdar um planeta em chamas. Em EE UU houvo umha enxurrada de exitosas campanhas em oposiçom aos novos projetos de oleodutos e prantas energéticas e extratoras. Em Memphis, umha coaliçom pola justiça ambiental parou o oleoduto de Byhalia, que ia cruzar os bairros negros do sul da cidade; em Luisiana, a resistência da populaçom desbaratou o projeto da terminal de exportaçom de petróleo de Plaquemines, que, entre muitos outros danos, teria sido construida sobre um cemitério de escravos. Após seis anos de organizaçom, os ativistas climáticos de Virginia Ocidental a Carolina do Norte forçárom a Duke Energy e Dominion Energy a cancelar o oleoduto Atlantic Coast. A naçom Lumni e os seus aliados ajudárom a evitar a construçom dumha terminal de exportaçom de carvom no condado de Whatcom em Washington; ao outro lado do Estado, grupos ecologistas ajudárom a evitar que o Governo conceda permissos para umha refinaria de metano em Kalama. Nas Grandes Chairas, após mais dumha década de luita contra o oleoduto Keystone XL –que teria transportado petróleo de areias bituminosas extraido de debaixo do bosque boreal de Alberta, Canadá, a refinarias na costa do Golfo de Texas– o presidente Biden revocou o permiso transfronteiriço e TC Energy abandonou o projeto.

Estas campanhas seguírom estratégias muito variadas. Os movimentos liderados polas indígenas como as defensoras da água em Standing Rock som distintos do que Kai Bosworth chama «populismo de oleoduto» (movimentos compostos sobre todo por terratenentes rurais brancos e ecologistas de base), e ambos, à sua vez, diferem das comunidades negras e latinas que luitam contra o racismo meioambiental. Mas todos eles partilharam um aspeto clave: a nom violência. As excepçons –um punhado de ativistas que destruírom maquinária pola sua conta– só confirmam a regra. Em EE UU, o compromisso das ativistas climáticas co pacifismo impossibilita o dano à propriedade, por nom falar da agressom física a executivos da indústria fóssil. Mas a pesares destes heroicos esforços, as corporaçons seguem emitindo impunemente e os Estados continuam retrasando qualquer acçom para detê-las. E, por enquanto, o mundo quenta-se cada vez mais.

É este consenso sobre o ativismo pacífico frente a insensatez da élite o que rechaça Andreas Malm. “Como dinamitar um oleoduto” nom che explicará como voar um oleoduto, mas tratará de convencer-te de que os esforços por desmantelar fisicamente os tentáculos infraestruturais do capitalismo fóssil estám historicamente fundamentados, som estrategicamente inteligentes, e um imperativo moral. «Houvo um tempo para o movimento climático gandhiano; quiçá agora é o momento para um movimento fanoniano», afirma a penúltima linha do livro. Esse «quiçá» é performativamente ambivalente; situa-se entre a prediçom e a provocaçom. Se bem os desliçamentos entre estes modos retóricos permeam o texto, umha cousa é cristalina: para Malm, o movimento climático necessita atacar a crise na sua raiz, desativando um a um os «aparelhos de emisom de CO2».

Andreas Malm leva vários anos trás a pista dos perpetradores dum dos maiores crimes da história: a descarga de centos de miles de milhons de toneladas de dióxido de carbono à atmosfera, com conseqüências fatais (os investigadores estimam que pode atribuir-se às temperaturas extremas causadas pola mudança climática um excesso de 5 milhons de mortes ao ano). A viagem começou co seu livro «Capital fóssil». Nele, tratava de refutar essas histórias positivistas da energia que mostram o passado como um arco que se inclina cara os combustíveis fósseis e explicar, no seu lugar, que a revoluçom dos combustíveis fósseis dos anos 20 e 30 do século XIX era o resultado de conflitos de classe dinámicos em lugar dumha progresom inevitável. A auga, aponta, era ao fim e ao cabo abundante e grátis, e os moinhos de auga, mais potentes e fiáveis que os temperáns motores de vapor ao começo da era industrial. A adopçom de motores de vapor e carvom deveu-se a que os proprietários dos moinhos queriam resolver um problema que dificultava os seus esforços para asegurar-se umha oferta de trabalho fiável e disciplinada: o feito de que houver fontes de auga corrente desaproveitadas distribuidas polo campo, enquanto que a gente estava concentrada em povos e cidades. Ao utilizar os motores de carvom e vapor em lugar dos rios e os moinhos de água, atopárom a forma de dominar melhor tanto as pessoas trabalhadoras como a natureza –e assim pavimentar o caminho para umha era de crescimento económico sem precedentes entre cheminês que expulsavam o dióxido de carbono que quenta o planeta–.

Em “O progresso de esta tormenta”, Malm salta-se quase dous séculos e passa do estudo académico da história às teorias cada vez mais populares entre os próprios académicos. Dirige a sua ira polémica à torre de marfil, onde, insiste, um bom número de prominentes filósofos, geógrafos e sociólogos jogárom o papel de tontos úteis para os capitalistas fósiles ao arrassar coa distinçom entre a sociedade humana e a natureza nom humana. Ocultar a responsabilidade da classe dominante na mudança climática nom era, por suposto, o objetivo de esses académicos que procuravam reincorporar às humanas na «trama da vida» (por usar o termo de Jason Moore) ou recuperar a agência da natureza nom humana (a «teoria do actor red» de Bruno Latour) e mesmo da «matéria» (o «novo materialismo» de Jane Bennet). Mas ao misturar o social e o natural, sostém Malm, estes académicos renunciárom a considerar às humanas, e especificamente às humanas capitalistas, culpáveis da excessiva destruiçom da terra. Para Malm, a única forma de opor-se a esta destruiçom é reter «a singularidade da agência humana» e a dicotomia social/natural que esta garante. A agência, depois de todo, atopa-se no coraçom tanto da cumplicidade das elites como da capacidade das massas: «A guerra política contra umha classe dominante cada vez mais fedorenta demanda manuais cheios de binários».

Recolhendo a sua própria luva, Malm entom publicou alguns materiais deste estilo. «White Skin, Black Fuel», escrito por ele e um coletivo de outros 20 autores, explicava como a extrema direita se mobilizou em defesa do capital fósil, transformando o negacionismo da propaganda num princípio fundamental de reaçom etnonacionalista. «Corona, Clima, Chronic Emergency» remata cumha visom de «comunismo ecológico de guerra», na que propom expropriar o capital fósil sem compensaçom e escalar massivamente as tecnologias verdes. O seu último manual, «Como dinamitar um oleoduto», tem como objetivo provocar no movimento climático um estado de raiva coletiva adequado para afrontar o reto dumha catástrofe planetária. Entre o passado revolucionário e um futuro utópico, argumenta, está o pesado impasse do presente: «a inércia extraordinaria do modo de produçom capitalista frente à reaçom da Terra». As opçons som o fatalismo ou a sabotagem. Malm roga-nos que optemos pola segunda.

«Como dinamitar um oleoduto »pode dividir-se em tres partes: a história da resistência ao cámbio climático, as estratégias que adotou e as que devera adotar, e a moralidade das suas acçons. Para Malm, os anais do ativismo climático podem entender-se em dous planos relacionados. O primeiro é o ativismo climático de curto prazo que mostrou umha trajetória prometedora de crescimento e desafio entre 2006 e 2019. A pesar de cumprir estritamente com a nom violência, este movimento, segundo Malm, foi disruptivo –cum «impresionante repertório» de «bloqueios, ocupaçons, sentadas, desinvestimento, greves escolares, apagom de centros urbanos, a tática própria do campo climático», que demostravam a observaçom de John Berger de que a lógica do protesto nom é a persuasom moral se nom a amenaça crível–. O segundo plano da história do ativismo climático é a longue durée do fermento social que parte das revoltas de escravos, o abolicionismo, as sufragistas, os levantamentos anticoloniais, a luita pola liberdade negra, e o movimento contra o apartheid. Esta história mais longa, segundo Malm, é diretamente relevante para o mais recente ciclo do ativismo climático: é a razom pola que estes ativistas abraçam o pacifismo –e é também a razom, argumenta Malm, pola que nom deveram–. Grupos como “Sunrise Movement” o “Extinction Rebellion”, afirma, suscrevem-se a umha imagem suavizada dos diversos movimentos emancipatórios do passado –borrando polo tanto qualquier atisbo de violência e chegando às conclusons táticas equivocadas a partires das suas próprias confabulaçons–. Malm nom anda com rodeios: «A “psicologia do pacifismo estratégico” é “um exercício de repressom ativa”; a sua narrativa aceptada é umha “mistura de hipocrasia e falsificaçom” e “um fetiche, fora da história, sem relaçom coa época”».

Para opor-se a este “fetiche”, Malm adica dezesseis páginas a refutar de forma sistemática o revisionismo pacifista, com animadas explicaçons do abolicionismo armado de John Brown, a massiva campanha de incéndios provocados das sufragistas, a «violência subalterna» desde Irlanda a Argélia, a autodefesa armada e los distúrbios urbanos no movimento polos direitos civis, e a destruiçom da propriedade por parte de “A Lança da Naçom” durante a luita contra o apartheid. Estes movimentos vitoriosos nom só empregárom a violência defensiva e ofensivamente, se nom que, insiste Malm, as suas organizadoras deixárom tras de si um historial de sabiduria prática sobre as razons polas que a violência por vezes é necessária. O “Congresso Nacional Africano” ofereceu umha teoria do poder que combinava «o martelo da luita armada» e o «iunque da acçom massiva», e a “Uniom Social e Política das Mulheres” demostrava que o seu lema «Feitos, nom palavras» podia fazer anaquinhos coa dominaçom de género.

*Este artigo foi publicado originalmente com o título «A planet in flames – Should the climate movement embrace sabotage?» na revista The Nation. Traduçom para o galego do Galiza Livre a partir da versom espanhola de El Diluvio.