Geraçons de pessoas nascidas nos anos 70 e 80 no mundo ocidental abraçárom o amor pola ciência graças a Carl Sagan, um astrofísico norte-americano que, além de pesquisas de alto nível, virou um grande popularizador do conhecimento do universo; Sagan combinou com um mérito muito especial o conhecimento das profundidades cósmicas com umha prosa clara e talentosa. Milhares e milhares de crianças e adolescentes olhavam com fascinaçom cada capítulo televisivo da sua série ‘Cosmos’; e algumhas delas, já jovens, debruçárom na leitura dos seus livros e enveredárom profissionalmente polo caminho da ciência.

Sagan foi grande abandeirado do método científico, como nom podia ser de outro modo, e era um profundo confiante no espírito de afouteça, exploraçom, e ánimo disposto à prova, todo aquilo que anima a sede de saber e transformar da nossa espécie. Alviscava um futuro de transformaçons inéditas e ainda aventurava mesmo possíveis viagens espaciais. Foi, nesse sentido, um dos grandes expoentes que alenta o espírito prometeico do homem da mulher da Europa e Norteamérica, em muitas escolas filosóficas, e tanto na direita como na esquerda do espectro ideológico. Ainda, e isto é menos recordado por evidentes razons políticas, Sagan também deu a voz de alarma: no seu livro ‘Cosmos’ advertiu do contraste entre o súper-desenvolvimento do nosso cérebro lógico-racional e a plena potência, ainda intocada, dum cérebro reptiliano dirigido pola resposta automática, a visom binária da realidade e a tentaçom da violência. Nesse sentido, assinalou o risco real de destruçom numha guerra nuclear e, com muita antecipaçom, apontou que podemos caminhar para um planeta climaticamente invivível graças à nossa adiçom à sobreproduçom e o consumo. Com grande acerto, acunhou a expressom ‘adolescência tecnológica’ para definir os nossos tempos. Umha jeira na que se combinam conhecimentos e poderes potentíssimos com a energia descontrolada que acompassa a inconsciência. Os accidentes ou efeitos indesejados da velocidade automobilística, das pelejas entre iguais, do sexo ou de consumo de substáncias adoitam ter o seu pico precisamente na adolescência ou na primeira mocidade: essa etapa em que confluem o sentido do poder com a ignoráncia do saber.

A política económica dominante, as empresas políticas, o desporto, boa parte do género da auto-ajuda, medram baixo o guieiro, neste século XXI, da consigna ‘podemos’. Umha evidente constataçom das forças aparentemente inesgotáveis do ser humano, coincidentes com a sua juventude biológica, e a sua carência de experiência. Um exercício de poder que tem muito de desfrute de novíssimas habilidades recém descobertas, de certo gosto pola exibiçom entre os iguais, e de sérias dificuldades de pensar no longo prazo.

O que serve para entender algum dos grandes problemas mundiais, na sua dimensom colossal, também pode alumar problemas mais domésticos (ao cabo, os grandes problemas do mundo nom som mais que derivaçons labirínticas de milheiros de problemas nacionais e locais). Como temos dito em outras ocasions, é doado os movimentos radicais (incluído o nosso) ficarem na sua versom adolescente ou juvenil: exibicionista e acelerada, competitiva e energética, imediatista, tam consciente da sua força do presente como ignorante das forças que restarám vivas num futuro. ‘Queremo-lo tudo e queremo-lo agora’, dizia um desafortunado lema do movimento estudantil dos anos 60, antecipando pola esquerda o espírito consumista regido pola internet. Nenhuma consigna poderia conduzir a umha frustraçom mais certa: pois nem a luita política regala nunca tudo, nem o concede no prazo dumha geraçom.

Cultivar e alimentar a própria potência é um trabalho necessário e meritório; controlar os seus efeitos e o seu alcanço, outro labor que até o de agora só olhamos de esguelho.