Nom é a consciência que determina a vida, é a vida que determina a consciência”.

Karl Marx

O nosso país é o segundo do Estado Espanhol no maior consumo de fármacos como antidepressivos e tranquilizantes. Estas cifras ligam-se diretamente com o processo de mudanças cara a umha sociedade cada vez mais individualista, pola ideologia neoliberal que sustenta o sistema capitalista.

O nosso país rege-se por indicadores sociais, que favorecem o crescimento de patologias diversas de doenças mentais:

O envelhecimento elevado da nossa classe, que tem que continuar em trabalhos superprecários exploradas polos empresários, ou polo próprio abastecimento do rural que abandona a juventude, vê-se totalmente isolada, tanto polo ritmo frenético de trabalho, como pola falta de recursos de atençom especializada nas suas zonas.

O conjunto da classe trabalhadora, sob as estratégias de alienaçom do capital que constroem o nosso subconsciente, dam-nos a falsa realidade de uns desejos exigentes e insaciáveis de consumo e ascenso no mercado laboral, assim como nas estruturas patriarcais da família nuclear. Ao nom sermos capaces de cumplir com as quotas de ‘felicidade’ do capitalismo, é quando chega a frustraçom, a depressom, a ansiedade e inestabilidade psicológica, sendo estas quotas de felicidade, umha meta inalcanzável, por nunca ver-se satisfeita, na medida que o capitalismo avança.

A juventude, é das mais afectadas por estas doenças, sendo esta o setor que é, nos últimos tempos, mais permeável a sofrê-las, ou cair em condutas aditivas, que favorecerám estas doenças. Somos a juventude na época em que nada nos pertence, na que nom temos aspiraçom nem esperanças de tê-la. Somos a juventude que vivemos no máximo incerto.

Também temos que tomar em conta as pessoas com doenças crónicas. Aquelas que regem a sua estabilidade emocional polas políticas públicas que reformem a sua vida. A psiquiatria nom avançou na medida que as doenças o precissassem, se nom nas medidas que a produçom o requerisse. Assim pois, todas as teorias, instrumentos e evoluiçons da psiquiatria, vam da mao dadas com o facto de as novas realidades produtivas e sociais surgirem com o desenvolvemento capitalista.

Agora, com a nova crise sócio-económica gerada polo COVID-19, temos diante um novo paradigma social em que as doentes ficam desamparadas, mentres os meios neoliberais, fam pedagogia vazia de conselhos para passar a quarentena sem chegar a essas doenças.

Assim podemos observar nos últimos dias, umha moreia de titulares, fios de Twitter, ou contas de Instagram, com conselhos, por parte tanto de profissionais como nom profissionais, de como nom cair na “histeria”, de como nom padecer algum tipo de transtorno, quer seja ansioso quer depressivo ou obsessivo-compulsivo, perante umha situaçom para a qual a sociedade em geral nom está preparada.

Mas, desde um primeiro momento, nos próprios meios de comunicaçom, gerárom umha série de dinâmicas que favorecêrom o pânico generalizado diante desta nova crise biológica. O medo, a incerteza de nom saber até quando vai durar esta situaçom, a falta de luto ante as vítimas, a desvalorizaçom do vírus, ou a magnificaçom deste, contribuírom para a preocupaçom da populaçom, tanto como para levar-nos à lei do mais forte, no desabastecimento de produtos sanitários, de alimentaçom ou higiene.

Esta série de condutas levárom a umha hipocondria generalizada em que as condutas obsessivas estám agora normalizadas. Conforme às quotas de vítimas e efeitos do COVID-19 vaiam minguando, fará-se finca-pé em aqueles que sejam parte da economia, das quotas de produçom ou das patologias ansiosas-depressivas geradas por esta crise.

Mas, o que passa e passará com as que já padeciam doenças desde antes desta crise?

Todas temos clara a legenda ‘’Eu fico na casa’’. E se nom a temos clara, as forças do Estado, autorizadas polas estruturas competentes, já se encarregaram de fazê-lo. Mas, há excepçons, como para aquelas que tenham que cumprir os desejos do capital assistindo aos seus postos de trabalho, aquelas que tenham animais de companhia que precisem de fazer as suas necessidades fisiológicas na rua, ou as que vaiam ao supermercado ou farmácias.

Mas há algo que esquece o governo espanhol. As doentes, as que padecem depressons, ansiedade, transtornos da personalidade ou de conduta, entre outras, precisam umha série de rotinas às que lhe custou muito chegar, para nom desestabilizarem-se emocionalmente. Se somarmos todos os pontos que criam umha situaçom de confinamento complexa às patologias prévias, temos umha lotaria onde o que se joga som as mentes e as vidas das esquecidas pola sociedade. Este tipo de situaçoms, ademais agravadas pola dificuldade de acudir às citas médicas para terapia ou medicaçom, tanto para conseguir esta última, dificultam cada vez mais o convívio destas nos seus fogares.

Assim, estes últimos días aparecem iniciativas populares, de psicólogos e especialistas da saúde mental, em que atendem todas aquelas que o precisarem, por nom terem assistência médica para a sua condiçom tam complexa. Desta forma, mais umha vez as classes populares, da mao das sanitárias nos hospitais, as trabalhadoras no campo, nas fábricas, no comércio, as teleoperadoras e, agora, as psicólogas e psiquiatras, tenhem que fornecer aqueles meios de subsistência que o sistema esquece. Fornecer redes comunitárias em que nom se julgue aquela que nom tem a quarentena como lazer e tempo de retiro, mas como umha tortura para a sua vida. Ajudar, na medida do possível, a sobreviver, a enfrentar esta crise, sócio-económica mas também mental.

E nunca esquecermos, que as presas, as MENAS, as pessoas sem teto, as prostitutas, as mulheres maltratadas convivendo em quarentena com os seus agressores, as dependentes, a juventude baixo o maltrato do poder adulto, as que nom tenhem família, as que perdem a família e nom podem fazer o luto. Todas elas, seguem a luitar.