Durante vários séculos, as ideologias que hoje governam o nosso mundo occidental, que virárom quase sentido comum e deixárom de ser ‘política’, fórom património de minúsculas minorias sectárias. Liberais e democratas, ateus, crentes no progresso, cientistas puros, feministas. Subsistindo à margem da sociedade ou cindidos entre umha imagem pública respeitável e umha vida clandestina heterodoxa ou conspirativa. Negociando distintos graus de diálogo e assimilaçom com a sociedade dominante.

Na verdade, ser parte dumha minoria é um assunto seríssimo, e chama a umha reflexom profunda. As conviçons minoritárias podem defender-se, ou preservar-se, de muitas maneiras diferentes. E em funçom de como se afronte esta condiçom, o porvir das ideias será um ou outro bem distinto.

Estudos centrados na Alemanha nazi demonstrárom como o segmento da populaçom oposto à tirania tinha mais dimensom do que sempre se pensou. Porém, numha dinámica sociológica que se impom como a força da gravidade, as pessoas opositoras repregavam o seu ideário para se homologarem às maiorias dominantes, convertendo assim as suas teses em mais minoritárias do que realmente eram. Argumentará-se que actuavam em boa lógica, pois umha ditadura sanguinhenta elimina sem compaixom qualquer mostra pública de dissidência. Ora, as cousas nom som tam singelas. O antifascismo nom se recolhia só à intimidade para salvar a vida: recolhia-se também para conservar a harmonia no espaço familiar e evitar discussons incómodas; para nom perder o favor do grupo de amizades; para evitar o transo de estar sempre assinalado, mesmo no círculo pessoal, como ‘distinto’. Ou simplesmente por aforrar o desgaste psíquico de viver em tensom latente com os nossos semelhantes.

O caso alemám é dramático e sem embargo aluma muitos outros exemplos históricos que demonstram como as maiorias se fam mais maioritárias polo seu carácter fachendoso e voziferante; e como as minorias se autominorizam por calarem e mimetizarem-se com o ambiente. Todas as pessoas temos a tendência a procurar o reconhecimento do nosso contorno; e se esta tendência -que de seu nom é nem boa nem má- se complementa com a fraqueza de espírito e conviçons ideológicas vacilantes, o desenlace é péssimo: o minoritário torna-se invisível.

Desde os anos 20, a dirigência nacionalista chamou a autosilenciar o independentismo argumentando as impopularidades e incomodidades que este ia acarretar. Como um historiador do nacionalismo institucional apontou com termos certeiros, parte dos dirigentes galeguistas fórom ‘arredistas vergonzantes’. Reservárom a paixom patriótica para os cerimoniais internos, e na prática adiárom a única reivindicaçom verdadeiramente central, a soberania plena, para um futuro sempre inconcreto. Enquanto Espanha mobilizava ano trás ano todo o arsenal da sua nacionalizaçom -pacífica ou armada, aberta ou insidiosa-, nós perdíamos um tempo precioso em circunlóquios.

Obviamente existiu e existe o independentismo, e isto matizou o panorama com poderosos contra-exemplos. Ora, também as minorias consequentes podem malbaratar a sua potência com umha afirmaçom errada. Em todo radicalismo há um risco semelhante. Umha minoria pode embriagar-se na satisfaçom da razom moral, da superioridade ética, e a partir daí construir todo o seu discurso construindo hierarquias de coerência: entregados contra ambíguos, desinteressados contra arribistas. Mas por razoável que pareça, um discurso sempre irritado, competitivo, obsessionado pola comparaçom, nom abrirá nunca dináminas colectivas animadas e envolventes. Tampouco umha mensagem que ensine as chagas e as cicatrizes, regodeando-se no padecimento do eterno sofredor.

As minorias, isto vai de seu, devem deixar-se ver; nunca falar titubeantes, atrincheirar-se em ambiguidades, ou esperar esses melhores tempos que ninguém sabe quando chegam. O seu valor demonstra-se na prática e na qualidade da sua conduta limpa, nom nas comparaçons, nem no ranking dos méritos. Se há penalidades no caminho -como houvo e haverá- estas tenhem que afrontar-se com naturalidade, sem estridências, com a calma do dever cumprido.

Eliminadas estas distorsons, é mui provável que vejamos -e que seja vista- a qualidade da nossa minoria. Poucos e poucas, mas nom tam poucas como o pessimismo crónico nos leva a pensar; desejosos de ampliar mais e mais o seguimento das nossas ideias, mas sem o mínimo complexo por ser quem somos ou estar como estamos; humildes, mas com qualificaçom profissional e militante em campos mui diversos; jovens, mas com experiência abonda para transitar territórios exigentes. Sem confessá-lo publicamente, o Estado espanhol já tracejou este mesmo diagnóstico, e lançou-se a sofocar-nos com ruído mediático, cordons sanitários, juízos e prisons. Quando assumamos o nosso verdadeiro potencial, os frutos farám-se bem visíveis.

.