Na manhá de hoje, o local da CIG na comarca de Vigo acolhia a rolda de imprensa que encausadas e encausados da ‘Operaçom Jaro’ convocavam para dar a conhecer a situaçom do processo judicial. As doze pessoas acusadas polo tribunal de excepçom davam conta polo miúdo das petiçons fiscais, recentemente conhecidas, e das iniciativas populares que se levarám a termo para dar-lhe resposta.

Ugio Caamanho e Borxa Mejuto, em nome das encausadas, anunciárom nesta manhá em Vigo que estám a preparar ‘umha resposta de país’, com a solidariedade activa de individualidades e agentes políticos e sociais. A pretensom é que a Operaçom Jaro nom se conceba apenas como um desafio para doze activistas, nem tam sequer para duas organizaçons que podem enfrentar ilegalizaçom. De se validarem as teses da fiscalia, dim os encausados, ‘eliminará-se por via judicial e policial umha opçom política.’ Com efeito, no caso de Causa Galiza e Ceivar ficarem fora da lei, abrem-se as portas a ulteriores perseguiçons penais de alternativas rupturistas, inclusive aquelas que -como aconteceu no caso catalám- nom sofreram repressom pola sua condiçom moderada.

Além das coordenadas políticas e repressivas às que responde este caso, e que analisávamos na passada semana neste portal, há mais um elemento que se perfila como chave na hora de entender o processo. Os meios de comunicaçom, seguindo um comportamento sempre unánime que nom parece obedecer à casualidade, apostam pola inasistência quando som convocados polo independentismo. No canto da interlocuçom directa com as e os protagonistas do processo, os jornalistas apostam sempre por recorrer a fontes externas ao movimento: autoridades policiais em primeiro termo, fontes ministeriais e judiciais e, chegado o caso, intelectualidade do sistema, encarregada de analisar o porque do ‘independentismo radical’ na Galiza.

Rusgas e saqueios de domicílios de independentistas, pontualmente cobertos pola mídia, que evita sem embargo a cobertura de qualquer actividade do movimento. Imagem: ABC

A parcialidade, a estudo

A valoraçom anterior nom responde apenas a posiçons independentistas mui marcadas, senom que é produto da análise científica dumha doutora em Jornalismo, Helena Domínguez. Em 2016, a pesquisadora defendeu na Faculdade de Jornalismo da USC a tese ‘A construcción política do conflito en Galicia: o tratamento de Resistencia Galega’ na imprensa. Um completo vaziado dos jornais ABC e La Voz de Galicia -representantes do modelo hegemónico de informaçom em Espanha e Galiza- dava como conclusom que os meios actuavam como propagandistas de facto de governos e foças policiais: mais do 50% da informaçom procedia de instáncias estatais, enquanto as declaraçons independentistas chegavam apenas ao 10% do total.

Salto qualitativo

Ainda, o acontecido nestes dias supom um salto qualitativo no tocante ao tratamento mediático histórico do fenómeno independentista no nosso país. No passado, o conjunto dos sucessos noticiados tinham a ver com o exercício da violência política e as detençons com prisom de sucessivas geraçons de militantes. Nesta ocasiom, e pola vez primeira desde 1936, trata-se da proposta de suspensom de actividades -na prática, ilegalizaçom- de duas organizaçons políticas, Causa Galiza e Ceivar, conhecidas polo seu trabalho público, e com caras reconhecidas por todas.

De se consumarem os planos da fiscalia, manifestaçons solidárias como esta virariam ilegais. Imagem: galiza.lahaine.org

O fraco argumentário de ambas estruturas serem de feito ‘organizaçons criminais’ que existem para glorificar a resistência galega iria supor, de feito, banir do panorama político duas das forças representativas que espalham o ideário independentista com toda claridade, e que tenhem como um dos seus objectivos a denúncia do tratamento penitenciário de excepçom contra as independentistas galegas.

Presos de primeira, presos de segunda

Quiçá por acaso, no mesmo dia em que as encausadas convocavam rolda de imprensa, um conhecido vozeiro jornalístico do Regime noticiava que ‘O nacionalismo galego pede amnistia para os presos políticos’. A nova nom fazia alusom aos militantes do nosso país presos em cadeias espanholas desde o 2011, senom aos dirigentes cataláns encadeados pola sua responsabilidade no referendo de autodeterminaçom de 2017. Continua-se assi umha linha discursiva, desenhada polo nacionalismo institucional e secundada pola mídia, que consiste em pôr no primeiro plano reivindicativo a situaçom catalá, enquanto se secundariza e esquece a severa situaçom penal da militáncia galega.

Tais processos nom som privativos do nosso país. Na Catalunha, a vaga repressiva contra os CDR e as dúzias de presas do protesto de rua motivou umha controvérsia semelhante no movimento, desde que a fracçom mais institucional do independentismo nega-se a manter umha solidariedade aberta com as e os presos que caírom detidos nas dinámicas mobilizadoras.

Invisibilizar arredismo

Em qualquer caso, o que está em jogo com o processo repressivo em andamento vai mui além do tratamento mediático e político da questom das presas, como vai além dum contencioso de orde pública. As elevadas petiçons fiscais -entre 12 e 4 anos- contra activistas que desenvolviam à luz do dia o seu trabalho político pom acima da mesa a hipotética exclusom da cena política todo um sector da populaçom. No horizonte dos estrategas da repressom, provavelmente, estará o objectivo, procurado por décadas a fio, de banir de vez o independentismo organizado da Galiza. No processo de involuçom autoritária que atravessa o Regime de 78, neutralizar umha das questons nacionais em jogo pode resultar importante para o Estado.