Nesta semana começou a campanha de recolhida da castanha na Galiza. Com umha producçom que anualmente se situa entre as 15 000 e 25 000 toneladas, o nosso País tem umha relaçom especial com a castanha e os soutos. Relaçom que se exprime através dos magustos e também da amplíssima presença da castanha no nosso refraneiro. Esta relaçom ancestral define-nos como povo diferenciado e também nos oferece chaves para resistir à invasom do eucalipto, a mudança climática e o despovoamento do rural.

A totalidade da “província” de Ourense e quase toda a de Lugo ( com excepçom da Marinha) estám consideradas zonas de producçom da castanha. No caso da Corunha e Ponte Vedra apenas os concelhos limítrofes com as anteriores entram nestas zonas, de carácter mais montanhoso. O sector está em processo de profissionalizaçom e regulamentaçom. Apenas desde o ano 2009 funciona a Indicaçom Geográfica Protegida castanha da Galiza. O valor estimado desta producçom, que no 95% é exportada, está entre os 30-40 milhons de euros. Pode dizer-se que o nosso País é líder indiscutível na producçom e comercializaçom de castanhas a nível estatal. Japom e Itália som, a nível mundial, as principais exportadoras. No marco do estado espanhol, estamos mui por cima do segundo productor e comercializador de castanhas, Castela e Leom, principalmente recolhidas na zona do Berço. Desde o 2012 as estatísticas indicam-nos que a nossa producçom vai em aumento. No passado ano contabilizou-se umha producçom de 151 toneladas.

Mapa das principais zonas de producçom de castanha em Galiza. Imagem da página da IXP

A castanha e a sua “ galeguidade”

Polos vistos hai certo desacordo na hora de fixar a origem autóctone da castanha na Galiza. Porém, o acordo geralizado é que o noroeste peninsular foi durante a última glaciaçom umha zona de refúgio. As análises de polínicas deixam sentado que a presença do castinheiro no nosso território remonta-se polo menos até o Pleistoceno. A sua presença neste momento nom era mui avondosa. O seu cultivo e introducçom mais maciça considera-se que está em ligaçom com a chegada dos romanos, no século I d.C. As legions mandadas por Augusto trazeriam variedades mais productivas e, com isso, tivo lugar a expansom da castanha e dos soutos.

O máximo ponto de cultivo e expansom dos castinheiros tivo lugar na Idade Média. Ligada a sua expansom à diferentes ordes de mosteiros, principalmente dos Benedictinos, a producçom de madeira era o principal objectivo da plantaçom de soutos. Assi figurava em muitos contratos entre servos e mosteiros: a plantaçom de soutos era exigida para produzir madeira utilizada em toneis. Destarte, a producçom de madeira de castinheiro estava ligada também à producçom de vinho.

Durante os séculos XVI e XVII a castanha na Galiza experimenta umha expansom mui marcada, com a plantaçom de variedades mixtas para a producçom de castanha e a producçom madeireira à vez. Ao mesmo tempo vam abrindo-se redes de mercados e feiras em toda Europa para a sua comercializaçom.

O geógrafo francês Abel Bouhier, conhecido pola defesa de umha tese na França de 1977 sobre o nosso País ( La Galice, essai géographique d’analyse d’interpretation d’un vieux complexe agraire), considerava que os soutos eram o elemento mais importante dentro da nossa paisagem agrária.

O geógrafo francês escreveu umha tese doutoral traduzida ao galego no 2001 por Benxamín Casal

Galiza diversa, castanha diversa

O nosso País é mui diverso e assi se reflicte no nosso meio natural. Como exemplo, o Centro de Investigaçons agrárias de Mabegondo tem documentadas em Galiza até dezassete variedades de tomate. A castanha nom fica atrás. A indicaçom geográfica protegida tem documentado em colaboraçom com o centro de investigaçom florestal de Louriçám até dezasseis variedades entre as principais, assi que se considera que existem mais. Dentro delas, hai-nas com maior valor comercial, principalmente polo seu sabor. É o caso da variedade amarelante e também da de parede. Esta última tem umha importante presença nos Ancares lucenses. Detrás da sua identificaçom andivo a Cooperativa A Carqueixa de Cervantes, que trabalha na sua comercializaçom desde hai anos. Com a colaboraçom do centro de Louriçám e o GDR de Montes e Vales Orientais seleccionárom 190 castinheiros para estudar as variedades mais interessantes a nível económico para esta zona. A nível comercial hai variedades que suponhem um aumento do 20-30% do seu preço no mercado.

A gente labrega cultivava diferentes variedades de castanha através do engerto nos soutos que explorava. Algumha delas som melhores para asar, outras para cocer e outras para secar. A sabedoria das casas de antigo da Galiza estava relacionada com o autoconsumo e o fornecimento de todo tipo de alimentos. Eram casas sustentáveis a nível productivo. A maioria das variedades som, aliás, cultivadas em zonas de rango mui pequeno. É o caso da castanha Garrida, que só se encontra na meseta lucense. Hai outras variedades como a de parede ou a amarelante que se podem encontar em várias comarcas da Galiza.

Amarelante, projecto de futuro para o rural desde a castanha

No nosso País a superfície dedicada a soutos extende-se até as 46 500 hectáres. Muitos dos projectos que estám a agromar centrados na producçom de castanha estám optando polo alugueiro de soutos. E é que hai soutos abandonados e sem limpar dos que nom se conhecem os seus proprietários. É a metodologia de trabalho que está a desenvolver a cooperativa Amarelante, no concelho de Maceda, em Ourense. Recolhem castanhas da variedade amarelante que depois transformam em farinha, castanhas seca ou bica elaborada com essa farinha. Estám constituidos como cooperativa desde o ano 2013. Plantejárom-se a recuperaçom de soutos abandonados como objectivo prioritário. E trabalham a dia de hoje com soutos em regime de cesom ou aluguer. Limpa-nos, recolhem as castanhas e ponhem-nas em valor através da sua transformaçom e comercializaçom.

Imagem de um dos soutos trabalhados pola cooperativa Amarelante

Para além do aspecto propiamente productivo, desde Amarelante realizam umha tarefa de espalhamento da cultura do castinheiro. Tenhem organizado visitas do apalpador e tamém campos de trabalho relacionados com a castanha e a sua conservaçom.

A castanha na nossa cultura

O magusto é a expressom mais popular e espalhada da nossa fonda relaçom com a castanha e os castinheiros. Porém, existem muitissimas crenças e ditos populares menos conhecidos e, pola mesma, em perigo de caer no esquecimento.

A sombra das árvores e a sua qualidade é umha das sabedorias do mundo rural galego. Nom todas as árvores fam boa sombra e parez, concretamente, que a do castinheiro nom é das melhores. Polos vistos é húmida e fria e fai dano a quem se deite nela. A do carvalho, por contraposiçom, é boa sombra. Especialmente considerado como negativo era o feito de comer castanhas crúas. Em zonas de Ourense e Ponte Vedra está documenta o dito de que se os raparigos e raparigas comem castanhas frescas podem colher piolhos.

O mês de Novembro em zonas de Lugo como O Incio ou Quiroga denomina-se como mês castanheiro. E é que a celebraçom do magusto no mês de Novembro constitui umha tradiçom de profunda pegada em toda a Galiza interior. Nesta festa outonal aproveita-se para provar os primeiros productos de factura caseira ( vinho ou matança). Hai teorias que relacionam o magusto com outras festas de carácter ígneo onde o lume é o protagonista. Tal seria o caso da festa de Sam Joám.

Murguia relacionava esta festa com os defuntos ( possivelmente pola coincidência de datas), considerando-a um banquete de defuntos: as castanhas simbolizariam os mortos e o vinho os vivos. Hai também mais relaçons documentadas da castanha com diferentes ritos funerários em Mariño Ferro e Bernardo Barreiro.

Hai, isso si, um acordo geralizado em considerar os magustos umha festa de origem pagá relacionada com os trabalhos e ciclos da terra, assi como com a fecundidade. A sua relaçom com os defuntos mui possivelmente estaria marcada polo seu intento de cristianizaçom, como acontece com a pratica totalidade de ritos populares.

Castinheiro de Pumbarinhos, a árvore mais antiga da Galiza em situaçom de desleixo

Souto de Rozavales, onde se encontra o castinheiro de Pumbarinhos, possivelmente a árvore mais antiga da Galiza

Radicado no souto de Rozavales, em Maceda, este castinheiro está considerado possivelmente a árvore da Galiza com maior antiguidade. Poderia estar perto dos 1100 anos. No ano 1995 declarou-se monumento natural galego. Apesar da sua inclusom no catálogo de árvores senlheiras, o deputado do grupo mixto Davide Rodríguez, denunciou o estado de total abandono em que se encontrava o souto de Rozavales no passado mês de Agosto. Os castinheiros do souto estám afectados pola avespinha e o chancro e também estám sem podar sem limpar, o que debuxa, segundo o deputado em declaraçons a Sermos Galiza, um estado lamentável do souto. O lugar é propriedade da Xunta, que deixa medrar sem controlo a maleça entre as árvores, aumentando perigosamente o risco de incêncios. É o retrato claro da política florestal da Xunta: desleixo das nossas espécies autóctones para promoçom do eucalipto.