Semana carregada de acontecimentos no Reino de Espanha, semana que serve, tristemente, para ilustrar o Regime que vivemos e a fase política em que nos adentramos. Com a notícia de plena atualidade da condena à dirigência independentista catalá, imos lembrar alguns feitos sintomáticos dos passados dias.

Normalizar o supremacismo

Na passada quarta feira, um dos grandes expoentes da televisom lixo espanhola, o programa ‘El Hormiguero’, convidava o líder ultra Santiago Abascal ao seu programa. A formaçom extremista, assessorada polos seus líderes de marketing, tem ganhado os coraçons de parte da populaçom com o recurso a notícias falsas e com a repetiçom de frases ofensivas e provocadoras contra a esquerda que suscitam a ira e, paradoxalmente, dam popularidade nas redes sociais. Apesar de 40000 petiçons de boicote ao programa em twitter, o seu presentador, Pablo Motos, manifestou que ‘nom seria democrático nom convidar Vox, pois existe.’ Dá-se assim por legítima a exposiçom de ideias racistas, anti-feministas e apologistas da ditadura e da violência. Parte da imprensa comercial quijo contribuir com um tom de normalidade ao supremacismo na televisom: ‘Abascal nom dixo parvadas de mais, nom provocou o riso, todos os seus argumentos fôrom razoáveis dentro do seu ideário reaccionário’, afirmou um jornal.

A presença de ultras nos espaços televisivos espanhóis, normalizada. Imagem: formulatv

Prevendo umha explossom de audiência, a companhia A3 media programou sete minutos de publicidade, e continuou a sua estratégia -também alimentada por La Sexta- de alimentar o crescimento dumha nova extrema direita no Estado. Velha nas suas origens, pois procede do franquismo, mais nova em formato, formas de expressom mediáticas e tom. Os seus traços encaixam com a vaga do novo autoritarismo populista que temos analisado neste portal.

No País Basco, violência como sempre

Por outra parte, umha sentença judicial demonstra que o Reino de Espanha nom pretende mudar o seu paradigma contra os nacionalismos resistentes, mesmo se estes procuram o seu caminho longe das armas. Justo um dia antes de o líder supremacista Abascal ocupar o centro das grelhas televisivas, o Tribunal Supremo ratificava o grosso das condenas aos moços e moças de Altsasu por umha peleja contra guardas civis. As condenas rebaixam-se levemente, e passam a oscilar agora entre o ano e médio e os nove anos e médio. A reduçom é devida ao Supremo entender que ‘nom se pode aplicar o agravante de ódio à Guarda Civil’. Seja como for, oito jovens navarros estám a pagar, em condiçons mui semelhantes aos penados por ‘terrorismo’, terem participado dumha briga nocturna num local de hostelaria, como tantas que acontecem em distintos pontos da geografia estatal, e que se soem saldar com multas ou penas simbólicas de cadeia.

Excepçons judiciais ou normas aberrantes?

Curiosamente, uns dias antes de conhecermos a decisom final sobre as moças e moços de Altsasu, a opiniom pública enteirava-se também da toleráncia final com Francis Franco Martínez Bordiu, o neto do ditador, envolvido numha séria agressom a guardas civis. Em 2012, em Teruel, embestiu dous agentes com o seu veículo. Foi condenado em 2018 por ‘atentado à autoridade e delito contra a segurança vial’. Agora, fontes jurídicas confirmárom que está definitivamente fechada a possibilidade de o neto de Franco entrar em prisom; um julgado do penal impugera-lhe a pena de 30 meses de cadeia, mas a Audiência Provincial apostou na sua absoluçom. O tribunal considerou que ‘nom havia prova de cargo suficiente capaz de enfraquecer o princípio constitucional de presunçom de inocência.’

O neto de Franco, absolto trás atropelar dous guardas civis. Imagem: okdiario

Nom é o único extremista espanhol que nesta semana evitou a cadeia graças a umha interpretaçom flexível e garantista das leis. Nesta semana soubemos da condena de Néstor Franco Castelló, um membro da claque ultra valencianista ‘Yomus’, agressor reicindente de pessoas defensoras do catalám no País Valenciano. Franco tinha um cumprido historial de paliças contra esquerdistas, mas em 2017 cometeu a imprudência de agredir também um fotojornalista de ‘El País’, na sua tentativa de mancar seriamente, com a fibela dum cinto, uns moços valencianos que acodiam a umha manifestaçom em defesa da língua. Vários cámaras captárom a sua agressom, e a defesa fazia-se difícil. Porém, trás reconhecer os feitos e chegar a um pacto com o fiscal, Néstor aceitou a pena de 22 meses de prisom, polo que nom entrará na cadeia.

Junta ‘rojigualda’: adeus o PP regionalista

Num contexo de viragem para o autoritarismo mais aberto, pouco fica no PP autóctone do ‘galego coma ti’ fraguista, ou da ‘auto-identificaçom’ que apregoava José Cuiña na década de 90. Conhecidas som as adesons do PP de Feijoo as teses supremacistas sobre o idioma, que aparecêrom, apoiadas mediaticamente, no início deste século. Confirmando esta tendência, o governinho de Sam Caetano aproveitou o 12 de Outubro para celebrar a Hispanidade com a projecçom dumha enorme bandeira espanhola; aproveitou, portanto, para reconhecer publicamente a desfeita do Império espanhol na sua conquista de América e das naçons peninsulares. A campanha promocional do PP foi respostado em redes sociais polo independentismo, nomeadamente Causa Galiza: ‘Submissom canina ao reino como passaporte imprescindível para as mais altas responsabilidades. Administraçom colonial gerida por sipaios de ‘pura raça’. Regionalismo neofranquista’, eis a sucinta análise que dedicou a organizaçom ao comportamento de Núñez Feijoo.

Sam Caetano no dia da Hispanidade, toda umha declaraçom de intençons. Imagem:xunta.es

Catalunha baixo a bota

Finalmente, a sentença contra a dirigência catalá conhecida hoje, que estabelece severas condenas entre 13 e 8 anos por sediçom, despeja qualquer dúvida que um nacionalista pudesse ter sobre a hipotética toleráncia espanhola a vias autodeterministas baseadas no protocolo constitucional e na reforma do quadro jurídico-político. A tentativa espanhola de dividir o arredismo catalám e de dissuadir a mobilizaçom popular está a produzir a primeira resposta de rua; no nosso país, Galiza com Catalunha convocou hoje a cidadania nas principais cidades e vilas a dar resposta ao atropelo. A lei do funil universaliza-se, e ao que parece, qualquer mostra de descontentamento com o Regime vai motivar umha resposta violenta, alimentada no excepcionalismo judicial e na manipulaçom mediática.