No dia de hoje, segundo informa a imprensa comercial, a clínica POVISA de Vigo, o maior hospital privado da Galiza, passa a maos da empresa Ribera Salud. Doravante será gerida por um grupo fincado no País Valenciano, mas participado maioritariamente por capital estadounidense. O grupo Centene Corporation conseguiu já umha boa porçom do negócio sanitário no Reino de Espanha, auxiliado por políticos amigos e nom longe da polémica. Na nossa Terra, a direita galego-espanhola continua supervisando e alentando desde as instituiçons processos que agravam a privatizaçom, consolidando o domínio foráneo dos negócios.

Ribera Salud saltou aos manchetes da imprensa por popularizar o chamado ‘modelo Alzira’, um desenho sanitário auspiciado polo PP que, baixo o nome de co-gestom público-privada, insere o direito universal à saúde nos cálcuos empresariais. No País Valenciano, um dos campos de provas preferidos pola direita, ergueu já três centros hospitalares. A transiçom a um governo quatripartito valenciano motivou choques cada vez mais intensos entre o empresariado hispano-norteamericano e a nova casta política, que refuga vínculos tam directos entre instituiçom e empresa. A conselheira de sanidade Carmen Montón enfrentou-se no seu dia com Alberto de la Rosa (novo gestor do POVISA viguês), o que motivou umha chamada de atençom de Centene Corporation à embaixada espanhola. Pouco tempo depois, Alberto de la Rosa e Pablo Gallart, outro alto responsável de Ribera, eram investigados por um suposto cobro de comissons na compra de próteses.

Alberto de la Rosa, o homem de Centene Corporation em território espanhol. Imagem: OKDiario

Burguesia autóctone, em devalo. POVISA em venda

Há apenas três anos que a imprensa económica escrevia o seguinte cabeçalho: ‘o grupo Silveira ganha já mais com POVISA que com as navieiras’. Silveira alude ao grupo de capitalistas dos Silveira Martín, umha saga iniciada por Silveira Cañizares no Vigo dos anos dourados do ‘desarrollismo’. Mais um exemplo do capitalismo autóctone, que se organizou arredor do mar, e fijo florecer o seu negócio com a mao de obra dos novos arrabaldos do sul. O grupo Remolcanosa abriu asteleiros na Galiza, Portugal e Sudamérica, e chegou a ter 5000 assalariados. Ocupou-se aliás do tráfico de vários portos da Ria de Arousa.

Construçom de POVISA na década de 70, nos anos dourados da burguesia autóctone. Imagem: vigopedia

A finais do século XX, em plena década de 90, o grupo NOSATERRA XXI, holding das empresas de Silveira, compra Policlínica Viguesa SA (POVISA). Esta iniciativa privada nascera no Vigo de 1969, alentada por vários profissionais da sanidade que aproveitavam a procura existente na primeira área urbana da Galiza. A primeiros deste século, o grupo Silveira adquire também a clínica privada ‘La Esperanza’, em Compostela.

O pico mais alto da vorágine neoliberal estava a piques de chegar, com a venda maciça de grupos galegos a maos foráneas, e nada parecia predizer o desenlace que vivemos estes dias.

Treze centros privados, três deles gigantes foráneos

A venda indiscriminada do bolo público, nomeadamente no ámbito sanitário, foi umha das prioridades do PP, a começar por autonomias como Valência ou Madrid. O processo produziu umha reconfiguraçom radical do mapa hospitalário, acompanhado de denúncias de irregularidades e escándalos por parte dos defensores da sanidade pública.

Na Galiza funcionam hoje treze centros hospitalários privados, que representam o 19% das vagas sanitárias. Neles trabalham perto de 5000 pessoas, segundo se regista no web da ‘Asociación de Hospitales de Galicia’. O directório fornece as ligaçons com todos estes centros, nas que vários aspectos chamam a atençom: a primeira, a predomináncia do capital estrangeiro; a segunda -derivada do anterior- a absoluta invisibilidade do galego num sector, teoricamente, dedicado a atender directamente a cidadania.

Quirónsalud, HM, Vitha e Nisa: gigantes estrangeiros

Em 1998, Quirónsalud era umha relativamente modesta empresa sanitária que geria apenas 4 centros no território estatal. Hoje dirige 43, num processo imparável de medre que nom se pode dissociar das suas vinculaçons políticas. Desde a sua fusom com a transnacional alemá Fresenius Helios, fijo-se o primeiro grupo sanitário privado da Europa, com prolongaçons mesmo na América Latina.

Na Galiza possui um hospital na Corunha e um outro em Ponte Vedra (HQ Miguel Domínguez), por enquanto livres de controvérsia pública. Porém, o crescimento vertiginoso da companhia nom estivo livre de polémica. Mesmo baixo governos do PP, em 2016, enfrentou cinco inspecçons de facenda por irregularidades contáveis; em 2018 foi sancionada polo Ministério de Trabalho, já que vulnerava a normativa laboral. A corporaçom ainda estivo no cerne da actualidade trás se descobrir que em Madrid aproveitava de graça ambuláncias públicas para o transporte dos próprios pacientes entre hospitais privados.

Dirigência do PP facilitou a entrada das corporaçons sanitárias no sistema público através da ‘co-gestom’. Imagem: El País

HM, quarto grupo privado do Estado, também fijo o seu desembarco no país. Por palavras da imprensa empresarial, ‘Galicia ha pasado a ser uno de sus feudos’, junto a Madrid. Em Compostela, comprou precisamente ao grupo Silveira o Sanatório La Esperanza. Fijo-se aliás, também na capital, como o Policlínico La Rosaleda. Em Vigo, possui o Centro Médico ‘El Castro’ e a Clínica de ‘Nuestra Señora del Perpetuo Socorro.’ E ainda, quem observar com detimento o mapa da reconfiguraçom sanitária decatará-se da presença galega de mais outro conglomerado empresarial de peso na saúde privada: Vithas e Nisa, neste caso com capital 100% espanhol, era conhecida por centrar o seu mercado no arco mediterráneo. Nos últimos anos instalou-se em Vigo (Vithas ‘Nuestra Señora de Fátima’) e pujo em andamento laboratórios e clínicas especializadas em Marim, Estrada, Sam Genjo ou Vila Garcia.

E a pública?

Qualquer análise deste processo privatizador em chaves coloniais nom pode desconsiderar o que acontece na sanidade pública, pois o processo de despossessom é o reverso do deterioramento daqueles serviços que, trás décadas de pressom popular, serviam a toda a populaçom sem distinçom de classe. O colectivo SOS Sanidade Pública, que agrupa de maneira transversal sindicatos, associaçons e profissionais da saúde, leva protagonizando toda a década algumhas das mobilizaçons de massas mais importantes do país, em denúncia permanente do encolhimento orçamentário e o caos organizativo, deliberado, que a Junta promove. As mobilizaçons celebradas em Vigo fôrom das mais concorridas, e aquelas organizadas contra a supressom de áreas sanitárias, como a Marinha, contárom com umha ampla implicaçom social.

O afortalamento do sistema privado só se entende com o pano de fundo dos ataques à sanidade pública. Imagem: CIG

O enfraquecimento dos serviços sanitários, a falta de meios dos profissionais, ou a concentraçom de infraestruturas sanitárias em grandes áreas urbanas, em detrimento das comarcas periféricas, conseguírom unir sectores muito diversos na defesa dum serviço essencial.