Entrevistamos à equipa de trabalho do novo projeto de comunicaçom local e autogerido da comarca de lugo: Pensa Lugo. Um jornalismo que nasce das juntas do asfalto para acabar com o monocultivo da informaçom sementada polas elites económicas da cidade. Um novo olhar desde abaixo e para todas, um espelho vergonhento para os poderosos, um altofalante de liberdade para as silenciadas. Bem-vindas!

O jornalismo de âmbito local e independente de poderes económicos e institucionais nom é frequente no nosso país. Por que valorizastes necessário criar um meio de comunicaçom deste tipo na cidade de Lugo?

Precisamente por causa dessa escassez de jornalismo, decidimos começar isto. Deve-se dizer que o projeto surge da necessidade de contar o que os meios convencionais nom contam. As cadeias ”estatais” nom tenhem uma preocupaçom ativa pola Galiza, muito menos polo que acontece em Lugo, e mais nas áreas rurais, por isso consideramos necessário começar a informar neste âmbito e na realidade mais próxima. Também como uma maneira de achega à leitora. Cremos que muitas vezes podemos perder-nos no abstracto, o que dificulta a comunicaçom fluída com a leitora comum. Em vez disso, situar-nos na nossa realidade mais imediata permite-nos manter o interesse dos interlocutores e, em seguida, estabelecer os quadros teóricos de acordo com os nossos mínimos ideológicos. Nom é o mesmo falar de despejos, cinguindo-nos só as estatísticas, que situar na notícia o retrato de Lugo, os bairros… e do abandono, por exemplo, das vivendas, bem como o aumento de despejos por falta de pagamento do aluguer. A proximidade permite-nos nom apenas um retrato mais fiel, mas também uma atitude mais ativa na leitura de quem nos lê.

Ademais, entendemos também que existem meios alternativos ao poder económico e institucional que cobrem essa necessidade noutras escalas (quem nos entrevista é um exemplo), nom assi a nível local. Se o que está mais próximo de nós é sempre contado a partir de um prisma nocivo, levando-nos a dissociar a nossa realidade quotidiana dos problemas sociais que percebemos noutros contextos, é mui difícil interiorizar o pensamento crítico.

Imagem promocional do jornal Pensa Lugo

Como equipa de trabalho, fundamentastes o vosso modelo organizativo no carácter aberto e assembleário de participaçom, promovendo a colaboraçom externa para tratardes temas específicos. Que benefícios pode achegar ao vosso projeto este modo de organizaçom?

Achega-nos sobretudo a liberdade de açom e de debate, bem como uma distribuiçom equitativa do trabalho. É necessário enfatizar que este é um projeto sem fins lucrativos, polo que a cooperaçom é a base de Pensa Lugo. Ninguém, nem como redaçom nem como colaboradores externos, obteremos mais rendimento que o pessoal. Também nom entendemos que poda existir uma estrutura hierárquica ou fechada de organizaçom, pois isso significaria limites auto-impostos ou obstáculos ao nosso próprio trabalho. Enfatizamos a importância da colaboraçom externa e da abertura do jornal, nom só como um slogan, senom por absoluta convicçom.

Queremos que o Pensa Lugo seja um jornal de referência para vozes dissidentes, desde os seus diferentes marcos, e onde uma ampla e aberta participaçom seja em si uma parte essencial do jornal. Nom apenas Lugo precisa doutros meios, senom as próprias pessoas precisam deles para poderem expressar-se. Cremos que o direito à informaçom é a possibilidade de escrever e fazer chegar a tua mensagem. Isso tem muito a ver com maximizar a democratizaçom dos meios.

Além disso, ao garantir uma estrutura aberta, garantimos também que haja diversidade ideológica, sempre dentro duns mínimos.

Nos últimos anos, os jornais de caráter empresarial tenhem perdido muita credibilidade ao optarem por uma linha editorial que priorizou a defesa dos interesses de grandes empresas e dos partidos ligados ao regime espanhol sobre as necessidades e problemas da maioria social da cidade. Vós, em troca, defendedes um jornalismo comprometido socialmente. O que isso significa?

O jornalismo comprometido socialmente é feito com o objetivo principal de informar, de dizer a verdade e evitar a manipulaçom, enfrentando a opressom ou a desigualdade social no eido da informaçom. Isto é assi porque o nosso interesse nom é o benefício económico privado ou individual; nom recebemos nada em troca dos esforços dedicados ao jornal. Queremos que este novo projeto seja a voz da comunidade, nom dos bancos nem das empresas, com uns valores intrínsecos ao jornal, como o ambientalismo, o feminismo, o anticapitalismo e a inclusividade em termos de etnia, orientaçom sexual ou qualquer sujeito que se afaste da normatividade imperante. Nós nom vamos responder aos interesses do capital ou das elites políticas.

Na vossa página web falades da necessidade de construir um jornalismo pausado, que fomente o debate e a aprendizagem. Que valorizaçom fazedes da produçom informativa atualmente em relaçom à quantidade e velocidade da mesma?

Vivemos no século XXI, a denominada “era da informaçom”. Obviamente, numa sociedade como a nossa, uma sociedade do ”imediato ”, as informaçons que nos chegam também som imediatas, o que deveria ser benéfico. Porém, o que nos atopamos é uma saturaçom constante de informaçons que, em muitos casos, é, se nom falsa, de baixa qualidade, ademais de produzir-se uma espécie de colapso: de tanto que lemos, tantos inputs que recebemos de qualquer dispositivo eletrónico, nom o processamos nem o interiorizamos. No final do dia, nem nos lembramos da metade do que limos porque o excesso de informaçom e o excesso de estímulo dificultam cada vez mais a nossa capacidade de concentraçom.

No Pensa Lugo defendemos um jornalismo pausado, entre outras cousas, porque colocamos a qualidade das informaçons acima da quantidade de informaçons. E, sobretudo, deveríasse fazer um inciso no âmbito de fomentar o debate, porque, além de oferecer informaçons, como é lógico num jornal, gostaríamos de que das nossas páginas as pessoas se lançassem ao pensamento crítico, sem aceitar absolutamente todas as informaçons que lhes chegam que, como já se mencionou, muitas vezes se nom som falsas, som de má qualidade.

A língua galega é um dos valores transversais do projeto. Num contexto agressivo de aplicaçom de políticas linguísticas espanholistas contra o galego, pensades que o jornal pode contribuir para a normalizaçom da nossa língua entre as leitoras mas castelhanizadas, quer dizer, as mais novas?

Claro que si. Tristemente, vivemos uma realidade de hegemonia do castelhano sobre o galego que, com certeza, deve desaparecer. Para contribuir para isso, a leitura e a escrita em galego devem ser incentivadas acima de tudo. Fai falta, nom um jornal, senom moreas deles que redigam as suas linhas em galego, primeiro para normalizar o seu uso e segundo, para converter o galego na língua veicular da informaçom na Galiza. Pensa Lugo estará inteiramente escrito em galego, quer normativo quer reintegrado, segundo desejem expresar-se as colaboradoras.

Na era digital, defendedes a necessidade de recuperar o papel. Por que?

O facto de fazê-lo em papel permite-nos chegar a lugares aos que nom chega a Internet, e nom nos referimos a lugares distantes da mao da civilizaçom, senom que nos referimos a todas as pessoas que rexeitam usar as novas tecnologias ‘smart’ para qualquer âmbito da sua vida, ou que assumindo-as, nom deixamos de ser objetos duma nova forma de controlo, como som as redes sociais. Estas funcionam como pequenos grupos. O que partilhas nelas tem umas parcelas limitadas que evitam que determinadas informaçons cheguem além dos circuitos limitados, como as amizades imediatas ou pessoas com gostos pré-determinados nessa conformaçom de pacotes de dados associados. Em certa medida, podemos dizer que é falso que a Internet nom tenha fronteiras. Tem-nas e som chamadas algoritmos. Nós, também no campo da informaçom, queremos derrubá-las.

É por isso que um dos objetivos do Pensa Lugo, se nom a principal motivaçom que nos levou até aqui, é romper com essas fronteiras da informaçom sobre as quais estávamos a falar. Como? Além da fórmula clássica das assinaturas, queremos achegar-nos a essa outra leitora ou leitor que deste jeito nom chegaríamos, e para isso temos planejada uma campanha que nos permitirá estar em bares ou quiosques, compartilhando balcom com os meios covencionais. Queremos ser um jornal que poda ser lido enquanto se toma café, quer no centro social ou na ocupa, quer na taberna do bairro de toda a vida.

Pode parecer que romantizamos o papel e condenamos as novas tecnologias, mas é um facto que a leitura em papel é muito mais pausada e reflexiva do que a digital, o qual vai ligado a um jornalismo pausado. Também nom vamos renunciar à difusom digital. Subiremos de balde os jornais antigos na nossa web e também publicaremos artigos que requeiram maior urgência, mas esta tarefa, por enquanto, será secundária até que o projeto for consolidado.

Indicades que ides tratar temas que ficam fora dos meios convencionais. Quais som estes assuntos e por que os outros meios nom informam sobre eles?

Estes assuntos som, principalmente, temas que lhes proem aos nossos governantes e ao capital, e que nom permitem que se conheçam demasiado. Neste ponto colocamos, por exemplo, a cobertura que foi feita no seu dia da já batizada “ordenança mordaça” do governo de Lara Méndez. Tanto a sua tentativa de publicaçom -gravíssimo na nossa opiniom- quanto o triunfo da plataforma cidadá “Lugo Sem Mordaças”, botando abaixo a proposta de ampliaçom a nível local da “Lei Mordaça”. As questons relacionadas com este assunto forom silenciadas ou, no mínimo, minimizadas polos meios convencionais. Nom estavam interessados em informar sobre as limitaçons à liberdade individual e coletiva que esta ordenança acarretaria para a cidadania, assi com também nom interesava dar-lhe a mesma voz a Lugo Sem Mordaças como a outros atores envolvidos, como lobbies empresariais ou policiais. Uma manifestaçom, com agenda própria em Lugo, que mobilizou por volta das mil pessoas nas rua e mais de 30 coletivos, apenas foi notícia.

Trata-se, antes, de mudar o foco e colocar a notícia onde objetivamente, e sempre levando em conta uma perspectiva crítica, entendemos que está. Isto é, nom nos grandes casos mediáticos (ainda que às vezes seja necessário), nem em todo o que poda acarretar um grande movimento económico, senom na raiz das problemáticas (o problema do acesso à vivenda em vez do alarmismo da ocupaçom), ou nas iniciativas populares (concertos ou festivais autogeridos, em vez de grandes investimentos, como o recente Caudal Fest). A decisom sobre o que escrever tem muito a ver com o posicionamento ideológico dum meio, e nós temos claro que a nossa posiçom é a de quem tem menos voz.

Para financiardes o vosso projeto desenvolvestes umha cuidadosa e bem sucedida campanha de angariaçom de fundos. Que balanço fazedes dela?

Por enquanto, fazemos um balanço mais do que positivo da campanha, atingindo o mínimo necessário. As pessoas apoiarom o projeto como se fosse seu e a verdade é que estamos mui contentes com o apoio recebido. Agora, queremos alcançar o ótimo, o que nos permitirá consolidar-nos, já que começar um jornal do zero precisa da maior solvência financeira possível.

Campanha de angariaçom de fundos do jornal Pensa Lugo

Queredes achegar mais algumha cousa?

Esperamos estar à altura das expectativas e aspiramos também a converter a quem nos apoiar económicamente em sujeitos ativos na própria elaboraçom de conteúdo do jornal.
Muitas graças pola entrevista e a difusom!