Durante a semana passada, os médios empresariais vangloriavam-se sobre a mais que provável apertura da primeira universidade privada que funcionará em território galego. O jornal de maior tiragem abria a sua ediçom do dia 11 com um entusiasmado cabeçalho onde só faltavam os signos de exclamaçom: “Galiza terá a sua universidade privada”. A universidade pública, que foi um dos espaços do bem comum que mais resistiu a vaga privatizadora, será deste jeito parcialmente amputada polo capital.

Publicaçom do anteprojeto de lei

A Junta continua com o trâmite iniciado no mês de outubro do passado ano, quando Afundación apresentava por registro a solicitude para criar a primeira universidade privada da Galiza, e publicava o anteprojeto de lei para o reconhecimento da Universidad Intercontinental de la Empresa, promovida por Abanca. Com a publicaçom do anteprojeto abre-se também o prazo legal de vinte dias úteis para o envio de sugestons para a modificaçom da norma.

Segundo o próprio documento disponibilizado pola Junta, este projeto parte do atual Instituto de Educación Superior Intercontinental da Empresa (IESIDE), centro adscrito à Universidade de Vigo, e estará especializada no eido da empresa e com umha atividade académica centrada em duas áreas: as ciências sociais e jurídicas e a engenharia e arquitetura. A nova universidade contará com dous campus académicos, situados em Vigo e A Corunha, embora a sede social permaneça em Compostela. Num primeiro momento a oferta académica será de quatro graos, dous másters e dous programas de doutoramento. Também poderá expedir os seus próprios títulos, ao contrário do que acontecia até agora com EISIDE, cujos títulos tinham que ser emitidos pola Universidade de Vigo.

Já por informaçom extraída dos médios empresariais, a intençom da nova instituiçom é iniciar a atividade para o vindouro curso 2020-2021, ainda que esta data é apenas umha estimaçom.

Cumplicidade mediática

A aliança entre o capital e a mídia fica patente em novas como esta, pois contam com mais informaçom da que os próprios grupos parlamentares presentes no Parlamento Galego, tal e como denunciou umha das suas deputadas.

Os médios empresariais canalizam a opiniom pública para que esta seja favorável aos processos privatizadores dos serviços públicos com novas onde o público é demonizado em favor do privado. Este mes, o mesmo médio queixava-se que a Galiza era a única Comunidade Autónoma de todo o Estado sem centros privados concertados de bacharelato. Esta insistência mediática ecoa no grosso da populaçom e só assim se entende que logo de resgatar Abanca com 9.000 milhons, para o qual foi necessário recortar fundos da universidade pública, agora parte deste dinheiro sirva para criar a primeira universidade privada no País.

Ademais de alentar a gestom privada fronte à gestom pública, o discurso dominante reforça umha visom produtivista da educaçom, que tem como objetivo criar umha massa de trabalhadores eficientes e produtivos para as empresas: competitivos, flexíveis, desarraigados, egoistas, sós.

Acumulaçom por espoliaçom

Como bem analisou Jorge Paços em reportagem publicada neste mesmo portal, a privatizaçom do ensino universitário nom é mais que outro exemplo de acumulaçom por espoliaçom, que na nossa Terra trazerá mais colonialismo. Este termo foi acunhado polo teórico marxista David Harvey e faz referencia ao processo de mercantilizaçom de âmbitos até o momento pechados ao mercado com a finalidade de manter o sistema capitalista. Um dos métodos mais empregados para levar a cabo este processo é a privatizaçom de empresas ou serviços públicos abrindo deste jeito novos espaços onde o capital pode fazer negócio.

Em palavras do próprio Harvey, “a medida que a privatizaçom abre novas oportunidades de acumulaçom, os capitalistas podem dizer que temos uma economia mais dinâmica, mas o preço que deve pagar-se por ela é que as pessoas perdem os seus direitos comunitários em todos os domínios que som privatizados. Por essa razom é que chamo a isso acumulaçom por espoliaçom“.

Harvey explica que a acumulaçom por espoliaçom nom é outra cousa que umha nova volta de porca ao que Marx denominou acumulaçom primitiva. É nesse sentido que deve entender-se a acumulaçom primitiva, como um processo ainda em progresso.