Sem mediar violência física direta nem coerçom aberta, a paisagem do interior galego semelha-se à que deixa ao seu passo um genocídio. Milhares de lugares despovoados, comestos polo mato. Património a esboroar, e também umha riqueza incalculável de saberes, memórias, modos de vida e formas de relaçom que desaparecem em tempo de vertigem. É o resultado da morte planificada do rural: modelo económico, desenho das vias de comunicaçom e os modelos culturais antigalegos levárom a este cenário. Bem é certo que há pessoas que nom se rendem, e ainda ponhem enriba da mesa o desafio da sobrevivência das aldeias.

O Instituto Nacional de Estatística reconhecia no passado ano que eram 2028 as aldeias baleiras em território galego (levando apenas em conta a demarcaçom da comunidade autónoma). Mais de mil subsistiam apenas com um vizinho ou vizinha, habitualmente sofrendo as dores da soidade, a falta de atençom em idade avançada, e a carência de serviços sociais. Sendo isto assim, provavelmente em menos dum lustro forem mais de 3000 os núcleos abandonados. A província de Lugo encabeça este sinistro ranking, mas concelhos da área cantábrica corunhesa também padecem com virulência o fenómeno.

Num encontro propagandístico chamado ‘Next’, o grande cacique ourensano Manuel Baltar dizia que ‘repovoar a Galiza é um alvo comum por cima de enfrentamentos políticos’. A que tipo de repovoamento se referia? A imprensa comercial deu-nos recentemente algumhas pistas.

Mais sonhos distópicos: aldeias para a elite

Publicitados pola imprensa do regime no conhecido formato da notícia-propaganda, Mark Adkinson e Rosa Maria Costoya começam a ser um casal afamado na Galiza. Moram em Rábade e, segundo a filosofia emprendedora de acumular dinheiro com o infortúnio, lançárom a empresa ‘Galician Country Homes’. Som intermediários entre proprietários rurais idosos, mormente desesperançados e desejosos de venderem um património que rui, e novos compradores de riqueza rural. A priori, a ideia parece gorentosa, desde que qualquer iniciativa semelha legítima para levar nova seiva ao nosso agro. A atençom cuidadosa ao projeto dá, sem embargo, outros elementos de juízo.

Os correios eletrónicos acumulam-se a centos nas suas contas demandando informaçom de casas e lugares a comprar, afirma o casal. E segundo a imprensa comercial ‘nom é raro que parelhas ou grupos de hippies os contactem, ficando todo em tempo perdido para uns e outros’. Os empresários deixam claro assim que nom se trata de recriar nenhuma comunidade utópica a baixo preço: ‘pensamos principalmente em executivos e profissionais de alto nível que podem trabalhar com umha simples conexom à rede’, esclarecem; pensam também em ‘reformados que querem viver um retiro de contos de fadas’ ou, ainda ‘empresários que precisam enclaves maravilhosos que fomentem a criatividade.’ Elites ociosas, num 80% chegadas da Europa ou América opulenta, totalmente alheios à realidade e à cultura galega, estám a apropriar-se, por outras palavras, do património popular. ‘Há um cliente que ficou abraiado. 70000 euros um Castelo? Quero-o!’, dizem os promotores na sua entrevista. Recentemente vendêrom na Fonsagrada um conjunto de paço, morgado e capela que se remontava ao século XV.

Património esboroado e em venda para foráneos abastados, um fenómeno frequente na Galiza

Doenças urbanas, fugida rural

Som conhecidas as taras que a vida moderna está a provocar em capas maioritárias da populaçom, nomeadamente desde que a ideia de colapso e a convicçom de futuros sombrios prende nas massas. Ansiedades e depressons, adicçons, malestares psicosomáticos e vazio de sentido estendem-se nas metrópoles europeias. Num certo revival do acontecido nas décadas de 60 e 70, um movimento alternativo de perfis difusos, mais contracultural do que político, toma posiçons, também no agro. Na Península Ibérica organiza-se arredor da Rede Internacional de Ecoaldeias, concebida como promotora de núcleos de produçom alternativa e decisom assemblear. A Rede leva organizando encontros desde finais dos 90, e ainda que a Galiza reúne condiçons bioclimáticas idóneas para tais projectos, o seu peso na estrutura é numericamente escasso. Em 2011, as Corceriças acolheu o encontro de ecoaldeias peninsular, e a dia de hoje, o lugar de Couso, em Samos, foi escolhido para promover umha ‘nova cultura ética’, por palavras das e dos seus promotores. O tempo dirá se o fenómeno, ainda incipiente entre nós, atinge o eco que na década de 70 conseguiu em lugares arredados da Galiza, como a conhecida comuna de Negueira de Moniz.

Resistência autóctone

Atender às contra-tendências é básico para enxergarmos um futuro esperançoso. E contra os prognósticos, e contra o pessimismo elevado a modo rotineiro de pensar, a Galiza mais voluntariosa dá grandes exemplos. Na década que estamos a rematar, segundo dados da imprensa comercial, quase 4000 moços e moças voltárom ao agro com um plano produtivo; com umha média de 400 incorporaçons anuais, o fenómeno reflete umha Crescente desconfiança com o modelo de desenvolvimento e vida urbana, que nos anos da crise padeceu umha crise de legitimidade funda. Recentemente, a rede asturiana ‘Resistência Neopaisana’ publicava um manifesto que bem se podia aplicar à realidade galega: ‘ante a imposiçom de emigrar, nós voltamos e aliás ficamos’, dizia o texto assinado pola entidade, lido na localidade de Cabranes. A soberania alimentar aparecia como eixo, e guia umha filosofia que defende ‘a existencia de muitos projetos pequenos, antes de poucos grandes.’

A cachena, umha das raças bovinas recuperadas polo recente esforço rural

Precisamente por serem muitos os projetos, na Galiza, qualquer enumeraçom resultaria injusta, porque sempre deixaria fora boa parte do número crescente de iniciativas. O jornal soberanista Novas da Galiza tem recolhido nas suas reportagens importantes tendências positivas que tendemos a esquecer: entre elas, o aumento da atividade apícola, que já supera as 4000 exploraçons, ou a recuperaçom gadeira de raças autóctones como as cachenas, as caldelás, limiás ou vianesas. Pequenos projetos familiares, como Rego de Coedo, em Arnoia, ensaia a venda direta e acode a mercados locais. A cooperativa A Carqueixa, cujas iniciativas noticíavamos há pouco neste portal, desafia o esquecimento da Montanha galega com fomento da produçom de nosso. Entidades como o Sindicato Labrego Galego organizam jornadas abertas em granjas para dar a conhecer os potenciais e alternativas desta forma de vida e produçom.

A riqueza que possui o nosso rural, desprezado durante séculos, abraia o espetador urbano. Em campos tam desconsiderados como a produçom frutal, a Galiza é um vergel que muitos voluntários se negam a deixar morrer. No Eume, a Associaçom Galega de Fruita Autóctone leva anos a promover espécies condenadas à extinçom por umha normativa que favorece a introduçom do monocultivo forâneo. Combatem a ‘erosom genética’, segundo declarava em 2016 Martínez Picos, um dos seus responsáveis. Em colaboraçom com o Concelho de Sam Sadurninho, a entidade deu a lume umha guia com 120 variedades fruiteiras apenas das comarcas do Eume, Trasancos e Ortegal. Umha pequeninha mostra do potencial da nossa Terra, que só recuperará o esforço coletivo em chave soberana.