Cristy Shedimar Tojo Velasco é a Campeá de Europa Sénior de parakárate na modalidade de diversidade visual, na categoria de Kata. Ativista feminista e LGBTI, tem o seu próprio Clube de Karate, em Compostela, onde dá aulas de karate e defesa pessoal dumha perspetiva feminista.

Quando começache a praticar karate e por que?
Comecei aos 8 anos, quando chegada de Venezuela comecei a ver Songoku e queria fazer a “onda vital” (risos). Mas a verdadeira razom foi médica. Quando meus avôs se percatam de que som cega do olho direito começam a percorrer meio mundo na busca dumha soluçom, Cuba, Estados Unidos, França… finalmente todos tenhem o mesmo diagnóstico que é que nom é reparável a visom e muitos médicos diziam que poderia levar umha vida com “relativa normalidade”.


Quando comecei a medrar viam que me desenvolvia bastante bem, mas tinha problemas,sobre todo no colégio ao ler e que era um chisco zoupona. Ao nom ter profundidade chocava com todo ou guindava a água fora do copo, era muito bruta porque nom controlava tampouco a minha força.
Um médico de Negreira recomendou-nos começar com o Karate para que aprendesse a medir melhor as distâncias, a verdade foi um acerto.
De entom, desde 1996 nom deixei de por o karategi. Pareceu-me umha disciplina complexa, que esige que dês muito de ti, e o é certo que aprendim muito graças ao karate.

O karate, as artes marciais, som um desporto masculinizado, que
referentes femininos tinhas ti?

Pois a verdade é que até que fum maior e tomei consciência feminista nom me dera de conta da gram masculinizaçom do karate.
Como referente cinematográficos nom tivem nengum até que chegou Xena, mas nom encontravas mulheres guerreiras que fossem a protagonista ou se salvassem sozinhas. Minha avó, para mim, foi um gram referente feminista a nível pessoal. Ela ensinou-me a ser independente e o certo é que sempre a admirei, ainda hoje a lembro em cada cousa que fago.
A minha amiga Alba, que para mim era um referente e admirava-a muito, também fazia Karate e a nossa mestra daquelas era da primeira geraçom de mulheres mestras da Galiza.


Com o paso do tempo tivem companheiras de competiçom que à vez que rivais no tatami admirava-as muito por como o faziam, caso de Noelia Cortiñas que agora é a selecionadora de Kata.


A mim a minha mestra e os meus selecionadores vendérom-me que o karate nom tem género, que umha vez pos o karategui todos somos iguais.
Pero quando te percatas de que há mais homens que mulheres em todos os chanços, que há mais homens dando aulas, que há mais pesos de homes, que de 100 arbitros estatais tam só 8 éramos mulheres, que os treinamentos nom estám adaptados para o corpo da mulher… pois dás-te conta de que as cousas nom som como chas pintárom.


Há um paternalismo extraordinário à hora de treinar, o machismo que vivim foi grande por parte dalgum selecionador e muitas vezes quando um homem e umha mulher tenhem o mesmo currículo valoram mais o currículo masculino. Disfarçam o machismo dentro dumha arte marcial que tem uns valores muito marcados como podem ser a humildade ou o respeito.

Entom, para as mulheres é mais difícil destacar nas artes marciais? 
Do meu ponto de vista sim, tens que choiar muito mais ou ser notavelmente melhor que um homem para se reconhecer o teu trabalho. Desde há uns anos existe muito mais apoio ao desporto feminino e sobre todo ao karate feminino. Por exemplo, Sandra Sánchez é a melhor karateka de Kata de toda a historia, para lhe reconhecer isto tivo que dedicar-lhe o duplo de trabalho e esforço que qualquer karateka homem. Nom é doado abrir caminho num mundo de homens. É certo que ao longo do caminho encontras grandes profissionais mas sem ir mais alá…toda a minha formaçom en cursos de auto-defesa fôrom com homens.

Porem, podo dizer que estou contenta porque estamos a fazer-nos visíveis, cada vez mais temos referentes mulheres no karate, e no karate Galego, há mulheres muito bravas a nível galego, a presidenta da federaçom é mulher, recentemente tivemos o Ouro de Enma Nuñez em kata por equipas femininas na categoria cadete junior, temos a competidoras a nível internacional…

Pode-se praticar karate desde umha perspectiva feminista?
É difícil (risos).
Mas é o meu dia a dia. Reinvindicar os direitos lgtbi ou declarar-te abertamente feminista é enormemente difícil.
“Bueno, no hace falta ponerse etiquetas, vienes a entrenar a nadie le interesa tu vida sexual”, “En el karate no hace el feminismo, todos somo iguales”… mil frases com as que tens que lidar com companheiros de estamentos ou profissom, mas pode-se desde logo dar aulas de karate sendo feminista e aplicando o feminismo nas tuas aulas. Eu tento que as minhas alunas e alunos estejam da maneira menos hierarquizada na aula e que tenham consciência feminista. Rachar com hierarquias ou estereotipes, assinalar que és abertamente feminista e ativista é muito difícil e muito duro porque te expós muito a críticas, e os meus companheiros nom gostam que se ponha o seu status e a sua masculinidade em questom. Muitas vezes recebim broncas ou repressálias polo meu posicionamento.

Tens umha escola de auto-defesa feminista, com que objetivos nasce?
A necessidade hoje em dia de aprender a defender-nos e de buscar espaços seguros para mulheres foi o que fijo que a auto-defesa feminista esteja a ser umha realidade em muitas de nós.
Nasce sobre todo com o objetivo de criar rede, de empoderarmo-nos e de aprender a responder quando cumpre fazê-lo. Estamos fartas de tanta violência machista. A auto-defesa feminista é um projeto de contra-adestramento, trata-se de deconstruir e re-construir a visom da nossa realidade como mulheres, mas sobre todo trata-se de aprender a viver melhor e em paz com umha mesma.

Também formas parte do projeto “Lésbicas criando”, que atividades
desenvolvedes?

Pois o projeto de lesbicas tivo noutro momento diferentes projetos com diferentes mulheres. Hoje em dia trabalha o empoderamento erótico e auto-defesa feminista.