O que começara no passado mês de junho como um protesto que se somava à denúcia da manipulaçom governamental na TVE, enraizou na RTVG com umha dimensom impensável. O descontentamento larvado na rádio e televisons públicas coalhou em greves, manifestaçons, e numha denúncia simbólica cada sexta feira que, com o negro como emblema, está a pôr muito nervosa a dirigência do PP. Na passada semana transcendia mais um caso de repressom laboral a um dos trabalhadores. O desprezo e a ignoráncia das reivindicaçons está a ser a resposta a um conflito que dura já mais de corenta semanas.

O descontentamento com o controlo férreo da RTVG por parte da direita espanhola vinha de longe. A decisom -qualificada como ‘política’ por boa parte do jornalismo- de liquidar o Diário Cultural trás 28 anos de história acendeu todas as alarmas. A suspensom das conexons locais de rádio ainda agravou o descontentamento.

Com o passo das semanas, demonstrou-se que um sector importante das e dos trabalhadores do meio estavam prontos para dar passos adiante: as jornalistas Tati Moyano e Afonso Hermida renunciárom a apresentar o telejornal da noite como protesto pola tergiversaçom informativa imposta polo comissariado político; a medida foi respostada com um expediente de falta muito grave mas, pouco tempo depois, o colectivo Defende a Galega organizava greves parciais com um seguimento do 80%; aliás, centos de trabalhadoras ocupárom as ruas de Compostela, unidos pola demanda ‘Dignidade dos meios públicos.’ Junto a exigência da veracidade informativa, os e as mobilizadas pediam postos de trabalho de qualidade, numha companhia onde a regulaçom dos contratos de práticas é ‘fraudulenta.’

O PP, inquieto

Quiçá o nervosismo do PP, visível em toda comparecência pública relacionada com a mobilizaçom de jornalistas, tenha relaçom com o seu desgosto por enfrentar o conflito num terreno como esse. Durante todo o período ‘democrático’ de hegemonia caciquil da direita espanhola na Galiza, o domínio dos de sempre assentou numha rede muito nutrida de jornalistas lacaios, dispostos a propagar a mentira sem corar sempre que isto beneficiasse o seu acougo e promoçom laboral. Da mesma maneira, por baixo dum verniz ideológico aparentemente inocente, o do folclorismo humorístico e gastronómico, a TVG propiciou durante décadas um relato ridiculizador da Galiza que vendia um falso panorama de paz e concórdia, invisibilizando o país organizado e em luita. Se a isto somamos que a Junta desenvolve um programa de generosas subvençons aos principais cabeçalhos do regime (1,13 milhons de euros apenas em 2017), faremo-nos umha ideia do monopólio mediático que padecemos na Galiza

Mas agora o controlo do discurso resulta nom sê-lo tanto. Por isso Núñez Feijoo, carente de argumentos sólidos, defendeu sem fisuras Sánchez Izquierdo, director da RTVG, apostando em criticar outras televisons, no canto de argumentar em favor da própria: ‘A TVE nom é um modelo sério, independente e profissional’, afirmou, para dizer também que ‘nom vai converter a TVG em ‘La Tuerka’.

Repressom

Neste contexto, as medidas contra os e as mais inconformistas vam-se sucedendo. A seguinte na lista foi Marga Pazos, veterana jornalista que se significa pola sua participaçom activa nas reivindicaçons das sextas feiras, pola defesa da língua, e pola denúncia do boicote da TVG à greve feminista do 8M. Pazos foi arredada das tarefas de redacçom e obrigada a actuar apenas como locutora, numha medida tomada pola directora de informativos, e executada polo departamento de recursos humanos.

Há apenas umha semana transcendia a sançom do locutor da RG Carlos Jiménez. O motivo alegado é a ‘incompatibilidade’ do seu trabalho num programa da TVG, mas os jornalistas apontam outra causa: a sua implicaçom activista nos ‘Venres Negros.’ de facto, Jiménez estivera oito anos compatibilizando ambas dedicaçons, sem que houvesse problema algum. Agora afronta umha ‘falta grave’ e nove dias sem emprego e soldo.

A ditadura dos meios
Ainda que a visom mais simplória apresenta os conflitos nos meios públicos como mais umha parte da luita pola quota mediática dos partidos do regime, a questom tem muita mais fondura. Desde os inícios da contrarrevoluçom neoliberal, os meios de comunicaçom -nomeadamente os privados, mas também os estatais- tenhem-se colocado na vanguarda do confronto político como agentes fundamentais no retrocesso de conquistas e direitos.
Segundo Pascual Serrano, intelectual crítico espanhol especializado no estudo da mídia, o seu poder acrescentou-se de tal maneira que ‘estám a a suplantar os partidos políticos, o sistema judicial e o debate social. Os políticos já nom debatem nos parlamentos, senom em shows’. Serrano, autor, entre outros muitos livros, da obra ‘Medios violentos’ denuncia este imenso perigo: ‘as instituiçons quanto menos tenhem umha contraparte. O governo tem umha oposiçom, o empresário tem um sindicato, as empresas tenhem a defesa do consumidor, mas frente aos meios nom há contraparte. Aliás som os menos democráticos porque ninguém os elegeu.’
Ainda que se aponte como causa da sua degeneraçom a procura de lucro, por vezes esta nom é a principal motivaçom: ‘nem sequer tenhem que ser rendíveis, porque a prioridade é dedicar-se a ser um departamento de imagem, de valores e de política dum empório económico cujos interesses estám muito por cima do ámbito da comunicaçom.’

Neste complicado panorama, Serrano tem apostado no papel de contrapeso dos meios estatais, mas com um desenho bem afastado do que conhecemos: ‘devem ser meios públicos e democráticos, participativos, que reflictam a pluralidade social.’ Aliás, o Estado ‘teria que nutrir de recursos a iniciativas cidadás colectivas, movimentos sociais, para terem os seus próprios meios.’ Umha realidade por enquanto utópica, que força as pessoas interessadas na informaçom rigorosa a se auto-organizar e auto-gerir para lançar os seus próprios projectos.

A exploraçom, de fundo

Por trás dos discursos acríticos e cúmplices polo poder nom estám apenas submissons ideológicas ou identificaçom com os amos. Está também a lei da selva da sobrevivência económica num sector, o jornalístico, marcado como poucos pola precariedade. É assi que milhares de jornalistas de ideário apriori crítico calam e outorgam para assegurar os seus ingressos de fim de mês.

Segundo o informes anuais da imprensa no Reino de Espanha, como o publicado a finais de 2018 pola Asociación de Prensa de Madrid, esta profissom continua marcada abrumadoramente por dedicaçons de mais de 40 horas semanais, salários estancados (normalmente entre os 1000 e 1500 euros), e mesmo índices de exploraçom gritantes (por volta do 16-18% dos trabalhadores percebem soldos de 600 euros).

Afirma o inquérito que 71% das jornalistas crem que a profissom ‘se tem proletarizado’. Além do mais, os e as trabalhadores do sector sentem como umha lousa umha consideraçom social à baixa. Três quartas partes das pessoas enquisadas crem que a imagem do jornalismo é negativa, e um 20% muito negativa.’ A associaçom do grémio com o amarelismo e a submissom política incidem nesta ideia.