Se bem os dados ainda som provisionais, as mortes nas estradas galegas aumentarom substancialmente durante o ano que vem de rematar. Em concreto, segundo informa a Direçom Geral de Tráfico (DGT), nas estradas interurbanas galegas deixarom a vida um total de 104 pessoas durante o ano 2018, umha cifra que supera em 28 ás vítimas do ano anterior. Os dados definitivos serám publicados como cada ano no informe sobre a “sinistralidade viária” que elabora anualmente este organismo. A esta cifra de 104 mortos, ainda há que somar-lhe as pessoas falecidas em acidentes de tráfico produzidos nas cidades e nos núcleos de populaçom.

Umha sangria que soma mais de 10 mil vítimas numha década

Sem contabilizar as vítimas do ano 2018, na Galiza falecerom nos últimos dez anos um total de 1.174 pessoas em acidentes de tráfico, e mais de oito mil pessoas forom feridas de tal gravidade que exigiam ser hospitalizadas. Nestes dados há que ter em conta que para as estatísticas da DGT, um falecido em acidente de tráfico é “toda pessoa que, como consequência do acidente, faleça no ato ou dentro dos trinta dias seguintes”, polo que se a vítima morre depois deste prazo, nom é contabilizado nas estatísticas oficiais. Sendo por tanto a cifra real ainda mais elevada. Veja-se o informe do ano 2017.

Desgraças vestidas de cotidianidade

Embora nos últimos lustros o número de vítimas em acidentes de carro tivera umha tendência decrescente, isto está a mudar. Contudo, os médios de comunicaçom já nos acostumaram a vê-los como umha desgraça forçosa, como umha consequência inevitável ligada ao progresso e ao estilo de vida capitalista. Os telejornais oferecem as novas destes acidentes de jeito rotineiro, com um estilo monótono onde apenas se mencionam as características técnicas, hora e lugar do sinistro e o número e os estado das vítimas enquanto se mostram imagens dos carros estragados ainda no lugar do acidente.

Como escrevia Andre Gorz, “Tornaram-se realidade as condiçons apocalípticas da festa semanal de matança no trânsito, da forma apropriada, como Jean Luc Godard evocou no seu angustiante filme Weekend (1968). O artista da grande matança, Ernst Jünger, que estetizou a batalha de material bélico da Primeira Guerra Mundial, admira-se com o fato de que as pessoas aceitam, ‘com umha certa naturalidade’, a quantidade enorme de vítimas de trânsito. Ele desconfia que as vítimas parecem ‘necessárias’ porque ‘som adequadas ao nosso espaço, isso é, ao espaço do trabalho’. Esse cinismo já é quase umha autojustificaçom. Onde está o protesto de todos esses humanistas liberais e esquerdistas socialistas, que habitualmente comemoram os seus dias antiguerra, contra o programa sistemático de vítimas fatais da produçom automobilística fordista?”

Este modelo absurdo, que bane de jeito violento umha importante porçom da populaçom galega, especialmente gente nova, longe de pôr-se em questom cada dia está mais normalizado. Qualquer inovaçom tecnológica que provocasse um número similar de vítimas (desde 1975 só no Estado Espanhol morrerom mais de 150.000 pessoas desde jeito) deveria estar proibida. Apenas a naturalizaçom das suas consequências, a ignorância e desprezo das alternativas existentes, e umha adoraçom quase mística dos valores que a publicidade tem conseguido associar ao facto de conduzir um carro, é o que fam possível esta aberraçom. No entanto, a sociedade torna-se cada vez mais dependente deste modelo de transporte baseado no automóvel particular e que já tem em circulaçom no nosso País, mais de dous milhons de veículos, de onde resulta umha proporçom de 8 veículos por cada 10 habitantes.