Os centro sociais -um dos primeiros foi a Fundaçom Artábria- ou as escolas da Semente som exemplos de projetos de construçom nacional à margem.

O completo ermo no que a historiografia oficial do nacionalismo deixou o campo de investigaçom do arredismo permite-nos levar, ainda a estas alturas, gratas surpresas sobre o nosso passado. Descobrir que a nossa orfandade política nom é tam grande como pensávamos, e que o nosso movimento nom tinha qualquer incapacidade congénita, alheia ao resto dos nacionalismos vizinhos, para poder lutar, sem rodeios nem circunlóquios, pola independência.

Apostar na construçom nacional

Na última década e média houvo umha mudança de paradigma no arredismo galego. Relativizaçom do papel da política convencional e ênfase na criaçom de projetos de construçom nacional que permitam viver desde já, sem esperar por condiçons objetivas, nos nossos próprios valores, à margem e enfrentados a Espanha e o Capital: os locais sociais espalhados ao largo do País, as escolas da Semente, a liga Gallaecia, o Novas da Galiza, a Associaçom de Montanha Aguas Limpas, etc.

No nacionalismo de pré-guerra já houvo projetos exemplares neste sentido, que por desgraça nom tiveram continuidade: agrupaçons de excursionismo como os Ultreia, criaçom comunitária de instituiçons académicas próprias como o Seminário de Estudos Galegos ou as “galescolas” das Irmandandes da Fala, meios de comunicaçom próprios e autosustentados como o periódico A Nosa Terra; as Missons Biológicas na modernizaçom das técnicas agrícolas; clubes desportivos intimamente ligados ao galeguismo, como o Eirinha, e um longo etcetera. Projetos que tiveram a sua concreçom teórica mais ambiciosa na proposta de Ramom Ovelha na III Assembleia Nacional do Partido Galeguista em 1934, pretendendo alargar a auto-organizaçom do povo galego a todos os espaços sociais, até construir um potencial “novo Estado Galego”.

O Partido Galeguista, após o fracasso nas eleiçons estatais de 1933, no que os 106.000 votos nom lhes alcançam para obter nengum deputado, e o triunfo da direita paralisa a tramitaçom do Estatuto, celebra em Ourense, o 13 e 14 de janeiro de 1934, a sua III Assembleia Nacional. Nela aprova-se umha linha política com três eixos básicos: a luita pola autodeterminaçom, a republicanizaçom da Galiza, e a dignificaçom da sua vida política -luita contra o caciquismo-; aprovando, aliás, a aliança estratégica com o republicanismo e socialismo espanhol.

Mas o realmente novidoso foi a proposta do médico viguês Ramom Ovelha Vidal, posteriormente fundador do grupo Zéltia, e que ocupava umha das vice-presidências da Assembleia- de ir configurando nas sombras um novo Estado Galego que puder sair à luz quando as condiçons o permitissem. A esta estratégia chamou-lhe “Autodeterminaçom funcional” da Galiza, que consistia em começar já a construçom nacional, sem aguardar por mais formalismos.

A proposta explica que “Para o Partido Galeguista a autodeterminaçom política da Galiza é um problema resolto na sua vontade. Nom importa que nom o tenha sido ainda na realidade galega. Nós estamos obrigados a proceder, vista a lonjania de consegui-lo polo vieiro formal, com arranjo aos procedimentos marginados pola audácia nacionalista de outros Países”. Para isso, “propom-se sem medos e sem prazos, a urgente constituiçom da Galiza em Povo ceive, com as obrigas dessa posiçom real e os órgaos de execuçom correspondentes”, criando umha Assembleia através das eleiçons de “todos os galegos acreditados de tais pola possessom do carné”, conformando um autêntico governo galego, com o seu Boletim Oficial, equipas técnicas, etc., de jeito “que o organismo parlamentar da Galiza trocaria em realidade real todos os enunciados que contém o programa do Partido”. O projeto centrava-se na construçom de um corpus de leis e medidas políticas, que seriam oficializadas namais se der o momento oportuno, para começar o governo do novo Estado Galego com garantias. O próprio Ovelha coloca como exemplo de projeto sucedido de construçom nacional o Seminário de Estudos Galegos, que nom aguardou pola resposta de qualquer umha reclamaçom às autoridades académicas espanholas para pôr em pé o seu próprio projeto nacional.

A proposta de Ramom Ovelha foi aprovada por aclamaçom, e como tal recolhida nas atas da Assembleia. Ainda, no seguinte número d´A Nosa Terra (nº 322, 3-II-1934), resenha-se com entusiasmo a proposta:

Galiza já é livre

O acordo da III Assembleia do Partido Galeguista, de criar a autodeterminaçom funcional da Galiza, coloca-nos, aos efeitos dum sério trabalho construtivo, na posiçom de supor ao nosso País governando-se a si mesmo.

Tempos, pois, que criar o organismo político, jurídico e administrativo da paróquia; reorganizar o município e fazer umha nova distribuiçom dos seus orçamentos; criar organismos para o cooperativismo agrário e marinheiro; estudar as terras para transformar os cultivos antieconómicos noutros de mais proveito; ditar várias leis encaixadas nos nossos costumes e nas nossas realidades étnica e social; organizar um plano de higiene e de estética rural.

Estamos, numha verba, construindo um país. Precisamos projetos, iniciativas, ideias novas e audaces. Precisamos projetistas, arquitetos, construtores e canteiros.

Rapazes estudantes e estudosos da Galiza. Mestres de escola. Mocidade campesina e marinheira. Eis umhagrande, umha gloriosa empresa, capaz de dar sastisfaçom à nossaaudácia e abrir um luminoso horizonte às nossas inquedanças.

A audaz proposta, ninguneada polahistoriografia oficial do nacionalismo, atingiu grande consenso noPartido, e nom tivo maior percurso por desleixo dos dirigentes domesmo. No artigo “Laboura construtiva” (A Nosa Terra, nº 325,24-II-1934), o jovem Francisco Fernandes do Rego coloca o caso basco, com a criaçom de um Conselho Nacional “encarregado de reger a vidado nacionalismo”, e entregado às tarefas urgentes da construçom nacional em todos os campos da vida basca apesar da repressom, como ocaminho a seguir na Galiza:

“Vê-l´aí o caminho que se nos marca e que temos a obriga ineludível de seguir. Ainda está recente a última Assembleia do P.G. Ainda está nas nossas mentes a acertadíssima ideia de autodeterminaçom funcional da Galiza, pensada e defendida por Ramom Ovelha. Fijo-se algo para que esta ideia se levasse a cabo? Iniciárom-se as primeiras gestons? Nom quigeramos por nengum motivo que a admirável proposta, ficara no esquecimento. Orçamentos de gastos e ingressos da Galiza. Sanidade. Ensino. Organizaçom. Política comercial. Pecuária. Pesca. Repovoaçom florestal. Agricultura. Trabalho. Direito… estám exigindo o troque de enunciados a realidade. Se a atual e a futura situaçom da Galiza, como povo, nom a requeresse, aí está Euskadi como exemplo”.

É-nos difícil rastrejar a evoluçom da proposta de “autodeterminaçom funcional”, pois dispomos apenas dos textos feitos públicos n´A Nosa Terra, ao nom ter acesso à documentaçom interna. Porém, em setembro de 1934 celebra-se em Compostela a segunda juntança do Conselho Nacional do PG, onde vários responsáveis do partido pergunta polo estado no que se encontra a materializaçom da proposta.

O desprezo da historiografia autonomista

O projeto de Ramom Ovelha que, como vimos, tivo a sua importância teórica, foi acolhido de forma entusiasta por amplos setores do partido, é despachado do seguinte jeito por Justo Beramendi no seu livro De provincia a nación:

“Aínda había algúns máis radicais ós que todo isto lles sabía a pouco [refere-se às linhas aprovadas na III Assembleia: autodeterminaçom, republicanizaçom, e dignificaçom da vida política]. O médico vigués Ramón Obella, que ocupaba unha das vicepresidencias da asamblea, presentou un relatorio sobre “Autodeterminación funcional” de Galicia, onde se propoñía, “sin medos e sin prazos”, que o PG promovese, entre os “galegos acreditados de tales pol-a posesión do carnet”, unha sorte de eleccións constituíntes alegais e a creación dun embrión de Estado galego dotado de todas as competencias previstas no programa de Lugo de 1918. A dirección, sabiamente, non a rexeitou de plano senón que a fixo pasar a mellor vida polo medio máis sutil de prometer que o Consello Executivo se encargaría do seu estudo e desenvolvemento. A Nosa Terra (nº 321, 28-I-1934) daría despois satisfacción a este sector do partido representando este acordo nada menos que como algo que creaba “potencialmente o novo Estado Galego con todal-as suas consecuencias mediatas e inmediatas”.