Adaptaçom ortográfica do galizalivre /

Nas regions mais povoadas da Galiza falar normalmente em galego é quase impossível para uma criança ou umha meninha, e para uma pessoa adolescente pode ser um exercício de risco

Era umha vez uma meninha chamada Vitória que morava numha vila. Contrariamente ao uso local, a mae e o pai de Vitória falavam galego tanto na casa como fora dela. Mas o panorama de fora era diferente ao de dentro e Vitória começou a falar em espanhol com as amigas. Assim estavam as cousas: galego na casa, castelhano na escola e na rua, e quando coincidiam pais e amigas aí temos a Vitória a fazer equilíbrios para nom dececionar a uns nem parecer-lhes rara às outras. Como aquele dia no que Vitória, já case feita umha rapariga, recebeu na casa a visita das colegas e uma delas falou-lhe descontraída sobre el rollo raro de tus padres así en plan hablando gallego, ¿sabes?. Aquele dia Vitória, ainda que só fosse por um minuto, sentiu-se tam rara diante das outras que desejou ter uns pais normais que falassem como todo mundo.

Vitória, dizemos, entrara falando galego na escola, mas às poucas semanas já chilreava em castelhano? por instinto de adaptaçom e sobrevivência? e aos poucos meses já claudicara de tudo por causa da sua situaçom de singularidade idiomática: Vitória era a única meninha que falava galego num curso no que até as crianças da aldeia vinham falando em castelhano. Este papel de galegofalante em singularidade repete-se hoje nos centros de ensino para centos de crianças de pais e maes empenhados em manter a transmissom oral da língua. Ser falante normal de umha língua é mais que aprovar a cadeira de língua na escola, fazer uma peça de teatro ou ler poemas o Dia das Letras. Na Galiza, quem quiger atingir essa normalidade deverá ultrapassar os muros de cristal que enclausuram o nosso idioma em espaços acoutados. Para a tua criança, o problema começará quando puger um pé fora deles.

Após décadas a ouvir a música celestial do bilinguismo harmónico, nas regions mais povoadas da Galiza falar normalmente em galego é quase impossível para um meninho ou umha meninha, e para uma pessoa adolescente pode ser um exercício de risco. Mui provavelmente, será convertido em alvo de microagressons, às vezes disfarçado de piada. Além de fazer sentir vergonha de seus pais, pode ser que alguém lhe dê por cousas como fazer o “sotaque ganham” do galego como burla, colocar apelidos relativos ao seu hábito linguístico, identificar diretamente com umha ideologia política até acabarem fazendo-lhe troça a ela “os fachas da clase e algum que nom é facha “. Pode ser também que ela seja forçada a suportar a ironia pública de um professor até que toda a turma ri dela e acabe falando em espanhol. Todos esses fatos e aqueles que aparecem no primeiro artigo desta série som documentados a partir do testemunho daqueles que os viram e daqueles que os sofreram nos liceus das vilas. As expressons entre aspas som as textuais.

A ausência de umha política linguística digna desse nome coloca pais, maes, crianças e adolescentes na linha de fogo do conflito linguístico e os força a adotar táticas de sobrevivência. Estas som quatro dicas urgentes das muitas possíveis para ajudar a superar este estágio:

Um. Organiza-te com outros pais no mesmo caso. Partilha experiências, junta as crianças e impede o aparecimento da sensaçom de isolamento. Há adolescentes galegofalantes em situaçom de singularidade que acabam achando que estam eles sozinhos a luitar contra o mundo e, antes de abandonarem o uso do galego, tendem a auto-culpabilizar-se. É bom que, cada um ao seu nível (maes, pais, filhas e filhos) acabe percebendo o problema de umha perspetiva social e nom pessoal.

Dous. Cuidando da passagem da infância para a adolescência, etapa que coincide com a entrada no liceu e nos primeiros anos do ESO. Assim as chanças tornam-se mais amargas, preconceitos som assumidos e espalham-se com mais facilidade, e o castigo polo diferente é mais cruento e constante. A adolescência é um terreno abonado para o assédio de todo tipo, incluindo o galegófobo.


Três. Deixa-te ver pola escola e polo liceu do teu filho ou filha. Ajuda a escola a construir um espaço de segurança para eles e a prevenir as agressons galegófobas, como acontece com as de outro tipo. Com amabilidade e respeito, deixa claro tua posiçom sobre o tema da língua e busca a colaboraçom dos ensinantes. Pode acontecer que haja ali quem seja feliz com a tua visita ou que nom a compreendam bem e respondam com aquilo da cadeira de língua galega, da peça de teatro e dos poemas no Dia das Letras. De qualquer forma, deixa-te ver e ouvir.

Quatro. Nunca desesperes. As cousas geralmente tenhem um final feliz. Aquela meninha Vitória que um dia chegou a envergonhar dos pais porque falavam em galego é hoje umha universitária galegofalante à prova de tudo, que sabe como som esses assuntos do País e das línguas que nele se fala porque sofreu em própria carne. Hoje a Vitória professa um infinito agradecimento a sua mae e pai por ter perseverado, nadando contra a corrente, naqueles momentos decisivos.

Eu, que acho que vamos sair desta, acho também que se estamos ainda vivos é graças às Vitórias, aos seus pais e às suas maes que, expostos a tudo e dotados de umha paciência infinita, tapam com seus corpos os buracos do sistema e param com eles balas que nunca deveriam ter sido disparadas. Certamente, por essa razom, eles sabem ensinar seus dentes quando compre.