Por Brais Loureiro /

“A burguesia recorre às armas quando vê perigar os seus privilégios, o que induze a pensar que se a classe obreira nom se formula o problema em termos semelhantes, teremos ocasiom de presenciar muitas matanças e poucas revoluçons”. Argala

Há pouco mais dumha década, os representantes das mais altas instituiçons políticas do Estado ainda repetiam invariavelmente a mesma mensagem: enquanto houver violência nom negociaremos, mas sem violência todo é negociável. A mensagem fazia alusom ao direito de autodeterminaçom do povo basco e à exigência do Governo de que ETA abandona-se a luita armada. O tempo demonstrou que a mensagem era um engano. ETA abandonou as armas e nom se negociou nenhum referendo em Euskal Herria.

Em Catalunha, logo vários de anos de mobilizaçons multitudinárias e apesar das surras indiscriminadas que a Policia Nazional e a Guarda Civil infligiram o 1-O, a reaçom do povo catalám foi totalmente pacífica, sem violência. E o Governo tampouco sentou a negociar.

Espanha nunca vai negociar um referendo que faça perigar a sua integridade territorial, apenas quere manter a legitimidade do uso da violência. Também da violência subjetiva mais explicita, além da violência sistémica e da violência simbólica que já exerce.

A resistência do povo catalám

A passada noite, quando se cumpria o primeiro aniversário do referendum do 1-O, registraram-se numerosos enfrentamentos entre os Comités de Defesa da República e os Mossos d´Esquadra. As pessoas manifestantes concentravam-se arredor do Parlament e a policia autonômica carregou violentamente contra elas chegando a disparar pelotas de goma e provocando abundantes feridos. O delito das manifestantes foi berrar consignas e pegar colantes nas portas do Parlament.

Hoje, a pesar de a violência provir unicamente dos Mossos, tanto a burguesia catalá como a burguesia espanhola condenam e criminalizam aos CDR, porque a fim de contas, a luita pola independência da Republica catalá também é umha questom de classe.

Os feitos acontecidos nas últimas horas começam a deslindar mais nitidamente dous bandos. Por um lado estám os que levam tempo vendendo fume e os que realmente luitam por umha república independente. Num lado estám os Torra e os Rufián que condenam “qualquer imagem de violência” mas ao mesmo tempo dirigem aos Mossos contra os do outro bando, a classe trabalhadora que sofre a repressom. Quando Rufián dize que “o processo democrático que vive Catalunha é pacífico, nenhuma imagem de violência representa ao independentismo”, está a justificar as agressons dos Mossos. Este discurso pacifista deixa desamparado a quem opta pola resistência, pois o que estám a fazer os CDR é apenas um ato de resistência, é defender o que legitimamente decidiu o povo catalám. Nom é que os CDR quiseram recorrer à violência, pois de querê-lo já o teriam feito há tempo, mas é a única saída que Espanha e o Capital lhes deixam. Aguardemos que os membros do CDR nom esqueçam as palavras do histórico militante abertzale arriba citadas.

É legitima a violência?

A pergunta é enganosa. Talvez seja mais ajeitado perguntar-se quem tem direito a dizer-lhe ao povo catalám, ou a qualquer outro povo ao que se lhe neguem os seus direitos nacionais, ou à classe trabalhadora explorada, que a sua resistência é ilegítima? Apenas aqueles que na prática querem submeter a outro povo ou à classe trabalhadora querem negar-lhe o seu direito à resistência e à rebeliom.

E aqui também compre lembrar que quando nom existe umha resistência popular que se enfrente à violência burguesa, esta, a burguesia, reage restringindo cada vez mais os direitos das classes populares.

Como escreveu Zizek: a violência defensiva é umha intrusom da Justiça além da Lei.