Por Chema Naia /

Som as quatro e meia da manhá no bairro de Gràcia, é de noite e chove. Na rua caminho ao ponto de encontro atopas um goteio constante de pessoas saindo dos seus portais movendo-se apreciavelmente a algum lugar de votaçom. A mesma escena ecoa por todo o território catalá, milheiros de pessoas saindo de casa em direcçom a um centro eleitoral, 2.315 ecos por toda Catalunha. A vigília do 1 de outubro estende-se aos dias prévios, sacos de dormir, comida e passatempos fam dos colégios lugares agradáveis onde passar horas longas, a custodia dos centros constitue a sua vez a ponta dum iceberg de organizaçom popular vertebrada através dumha extensa e complexa rede cidadã.

Fora no colegio há muita gente, dentro estam as que pasarom a noite, entre nós nervos e miradas cúmplices nas que se entreve umha ilusom dificilmente comparável a outras. Num tempo chega ao centro no que estamos, o Josep Maria Jujol da Vila de Gràcia, o carro de um particular; dentro estam as urnas, aplausos e berros. Chegam os mossos, impossibilidade manifesta de atuar, marcham. As urnas que Piolín rasteja atopam-se a esta hora na maioria dos lugares de voto do território. Só queda pois os ataques o censo e a violência para impedir um referendum que nunca se celebraria em palavras do deposto presidente M. Rajoy.

A cidadania faria nesse intre real a legitimidade emanada na llei del referendum”. Nom era o corpo legal da norma do Parlament nem era tampouco a sentencia em contra do Tribunal Constitucional, em última instancia rixem os corpos, e eram centos de bocas, braços, pernas, anseios e sentimentos os que ali e em tantos sítios concretizariam o voto.

Ringleiras de gente aguardando o turno e o centro nom abre. Passam os minutos, as horas. Ataques informáticos ao censo. Lentamente mais a ritmo firme a gente vai entrando. Nós, espectadores do processo, comentamos com as companheiras catalanas os vídeos das cargas policiais; a tenssom mesclasse com a alegria de ver sair após exercer o seu direito a voto apoiada sobre um andador a umha pessoa maior que fai o signo da vitória e sorri. Movimentos na Vila de Gràcia, ameaças de intervençom policial, atençom e organizaçom das fileiras de voto, intercambio constante de massas entre centros. Conversas, sentires e lembranças que nom se difuminam no tempo.

O 1-O reuniu o movimento independentista e a favor do direito a decidir dum jeito diferencial, situando um ponto de nom retorno. O 1-O constitue sem lugar a dúvidas umha experiencia de participaçom política que nom se assemelha a nenhuma outra do Estado nas últimas décadas. A disputa de legitimidades entre o poder estatal e o movimento civil, social e institucional catalá acadou um ponto desconhecido até entom e o seu correlato a um nível micro traducese nos milheiros de pessoas que por primeira vez tomarom parte dumha assembleia ou se implicarom nas estrategias coletivas de desobediência civil.

La estaca” e “els segadors” e os berros e proclamas escutadas aos milheiros de gorjas que custodiarom o feche dos colégios eleitorais constituem umha boa mostra de como o 1-O elevou a consciência sociopolítica do povo trabalhador em Catalunha. Um ano depois podemos dizer que até o de agora o referendum de autodeterminaçom nom conseguiu o seu principal objetivo, mais o certo é que deixa um movimento popular muito mais amplo e extenso nos seus campos de intervençom e que também som hoje muito mais numerosos os sujeitos que integra. Resultará difícil mentres sejam as capas intermedias, e nom a classe trabalhadora, as que hegemonizem o movimento ver materializar-se a República na Catalunha mais abonda com ver as imagens de há hoje um ano para perceber a grande dificuldade das elites para deter o rumo da história.