Por Isaac Lourido /

Antón Figueroa é um dos autores imprescindíveis nos estudos literários galegos contemporâneos. Dos trabalhos iniciais sobre as repercusons do conflito linguístico no funcionamento da literatura galega transitou para outros centrados nas relaçons internacionais da nossa cultura e, mais recentemente, aplicou o modelo sociológico de Pierre Bourdieu para estudar o campo literário galego e as tensons com o campo de produçom ideológica. O seu último livro, publicado há uns poucos meses por Laiovento, amplia de certa maneira estes horizontes, já que se debruça sobre a trajetória vital e intelectual da investigadora alemá Margot Sponer. Trata-se da mulher que em 1935 apresentou na Universidade de Berlim a – provavelmente – primeira tese sobre a língua da Galiza, só dez anos antes de que a Gestapo acabasse com a sua vida nos dias imediatamente anteriores à claudicaçom da Alemanha na guerra.

O estudo de Figueroa é na verdade muito mais do que umha simples aproximaçom biográfica, dado que integra umha hábil reconstruçom da romanística do primeiro terço do século XX e umha clara compreensom das tensons que a academia alemá experimentou baixo o regime nazi. É este quadro histórico alargado o que permite explicar de maneira mais precisa as decisons tomadas, as relaçons estabelecidas e as posiçons assumidas por Sponer, elementos todos que, como reconhece o autor, só pudérom ser reconstruidos de maneira parcial. As dificuldades documentais e as lagoas que ainda persistem na trajetória desta professora fôrom compensadas com um laborioso trabalho de indagaçom, entrevistas e contactos pessoais, nomeadamente com descendentes de amizades que Sponer tivera em França, aspetos que modelam um determinado tipo de compromisso intelectual assumido por Figueroa em toda a sua obra e acrescentam emotividade à narrativa desenvolvida.

Temos informaçom de umha única viagem realizada por Sponer à Galiza, em 1926, ano em que visitou Ourense, Lugo, Ponte-Vedra, Compostela, a Corunha ou o Zebreiro, e em que se dedicou a compilar documentaçom histórica e informaçons dialetológicos que estudaria na sua tese. Sabemos também que mantivo relaçons com a intelectualidade galeguista da altura, que frutificárom na publicaçom de um seu artigo na revista Nós (“Algunhas notas dos meus estudos sobre filoloxía galega”, n. 37, 1927). Apesar deste relacionamento continuar em anos posteriores, por exemplo durante a estadia de Risco em Berlim, parece que o vínculo de Sponer com os intelectuais do Seminário de Estudos Galegos foi muito menos intenso e proveitoso que os estabelecidos com o Centro de Estudos Históricos de Madrid ou com a catalanista Oficina Romànica de Lingüística e Literatura. As explicaçons dadas por Figueroa para explicar este facto som extremamente sugestivas: “Os intereses de Risco diferían moito dos de Sponer quen (…) en Galicia, aínda tendo moitos amigos, parecía non ter un interlocutor real naquela época”.

Nom menos interessante é o estudo da trajetória de Sponer na universidade alemá, progressivamente precarizada com a consolidaçom do nazismo até a sua expulsom definitiva em 1942. No relato de Figueroa, a vida de Sponer é vista com frequência através de olhos galegos que a conhecérom e tratárom na Alemanha (Felipe Fernández Armesto, Lois Tobio ou o próprio Risco), mas é abordada sobretudo como exemplo antagonista frente à ambiguidade ideológica de Ernst Gamillscheg, orientador da tese de Sponer e diretor do Romanisches Seminar em que ela trabalhava, e frente ao assédio que com certeza sofreu a mans de companheiros falangistas da área da língua espanhola, designados pelo franquismo como parte da sua estratégia de afirmaçom internacional.

De Margot Sponer nom podemos dizer que ocupou um papel de liderança no plano político ou ideológico, nem que cumpra o protótipo da heroína revolucionária. Aprendemos com esta obra, porém, que foi umha brilhante investigadora, que nunca claudicou perante a asfixia nazi e que pujo em risco a sua vida por ajudar pessoas injustiçadas polos fascismos naquela encruzilhada histórica. Se bem que na análise de Figueroa notamos a falta de umha mais explícita e elaborada atençom à perspetiva de género, nom podemos menos que concordar com o retrato ético e político que dela nos propom em determinada passagem: “Ao revés do que algúns ‘pensadores’ da súa época, M. Sponer sabía moi ben o que por riba de todo debía facer, a quen con risco certo da súa vida debía axudar, as cartas de adhesión que debía asinar… Coñecemos parcialmente a súa biografía, pero si dabondo para decatarnos de que este interese polas culturas e particularmente pola galega e esta loita firmemente coherente de resistencia constituíron o cerne da súa vida”.