Por José Luis Serrano (traduçom do galizalivre) /

Homens, jovens, musculosos, dançando. Essa é a imagem despolitizada e parcial que muitos meios estatais dam todos os anos ao LGTBI Pride, também com foco em Madri. José Luis Serrano fai piada sobre esse tratamento de informaçom.

Masha P. Johnson e Sylvia Rivera numa imagem do documentário “The death and life of Marsha P. Johnson”

1. Tente usar as palavras “desfile”, “carnaval”, “cabalgata” ou “carroza” no título. Nom deixe ninguém pensar que isso é uma manifestaçom da reivindicaçom de direitos que ainda nom foram alcançados. Certifique-se de que no seu artigo nom há uma única referência histórica para os inícios do movimento LGBT. Stonewall? As Ramblas? Isso que é? Nem, é claro, relacioná-lo aos movimentos polos direitos civis das mulheres ou dos negros: isso é outra cousa.

2. Trate gays como uma realidade única, terá que dizer Orgulho Gay. Nem pense em falar sobre lésbicas, trans, bissexuais, intersexuais, queer … Demais. Este é o orgulho gay e acabou-se. Orgulho crítico? Esqueça isso, som quatro “perroflautas”. Além disso, o orgulho gay é apenas um: o de Madrid. O resto som parvos. Nom os mencione.

3. Fale sobre lixo, toneladas de lixo. Das intoxicaçons alcoólicas. Das drogas. Dos nus. Das associaçons de bairro que protestam contra o barulho, apenas os quatro dias que dura o Pride. Nom relacione o assunto a outras partes como La Paloma, Sanfermines ou Fallas. Nada a ver. Nessas outras partes, nem se suja nem se fai barulho. E estes som uma vez por ano. Nom como o orgulho, que deveria ser uma vez por mês ou mais. O orgulho é como o Eurovisom: Orgulho de novo? Que chatice.

4. Decida por sua conta e risco que a homofobia na Espanha já nom existe e que, desde a aprovaçom do casamento igualitário (que chamaria de casamento gay ou casamento de Zetapé), este é um paraíso orgiástico no que os gays dedicamo-nos a nos tocar e a fazer selfies na casa de banho.

5. Que nom lhe ocorra falar sobre o facto de que uma grande parte da manifestaçom é composta de grupos LGTBIQ e ativistas de todo o Estado e do mundo que carregam faixas relacionadas com a homofobia social, à discriminaçom no local de trabalho, a invisibilidade lésbica, o abandono na terceira idade, as agressons à comunidade (que aumentam ano após ano), os direitos dos nossos filhos … Porque nom há filhos, filhas, pais, mães ou famílias , nem trabalhadores, ou precários, ou qualquer cousa assim: aqui só há diversom, travestismo, suores, músculos e discotecas . Nom falo da situaçom irregular de muitos deles, imigrantes, sem documentos, dedicados à prostituiçom, sem cobertura de saúde, expostos a operaçons estéticas sanguinárias e clandestinas. Isso é pura folia.

6. O HIV nom existe mais. Se nom se tomar medidas desde instituiçons públicas é que tudo está controlado. Tornou-se uma doença como outra qualquer. Como um resfriado. Com algumas pílulas suficientes. Nom fale sobre o HIV no seu artigo. Isso é mui vintage .

7. Descreva em detalhes a parte da orgia e devassidom. Coloque exclusivamente fotos de mamas, nádegas, músculos, cabelos, couro, penas, pestanas longas, lantejoulas e avestruz. Se achar difícil encontrar algo absolutamente impactante, deve recorrer sem vergonha às fotos de arquivo: todos os anos é o mesmo. Certifique-se de que uma dessas fotos seja a principal delas.

8. Tem a mente aberta e tem muitos amigos gays, explique isso. Entreviste um dos seus amigos, um gay numa rua lateral, um que diga que nom gosta do Pride porque há muitas penas e muitas lantejoulas e isso é um circo e isso dá uma má imagem daqueles que som normais e isso nom o representa. Nom pergunte quem começou com isso, nom fale sobre quem é quem leva os paus, quem é vítima da LGTBfobia. Nom diga que aquele que tem mais lantejoulas é aquele que recebe mais insultos, o que mais pancadas atinge. Nom insulte ou ataque aquele que é gay, mas sim a aquele que o parece, aquele que o mostra.

9. Todos os gays somos giros, somos jovens, parecemos musculosos e estamos bronzeados . Nós mantemos o ritmo no nosso sangue. Se depois de duas horas de demonstraçom non conseguiu encontrar algo assim, nom se desespere: ele aparecerá. Embora tenha que ser trazido de Israel, dos EUA ou do Brasil. Todos nós comemos em restaurantes caros e passamos nosso veram em Ko Phi Phi. Nós nom estamos desempregados ou despejados.

10. Vigie o fotógrafo, para ele nom tirar algumas fotos de faixas com mensagens políticas da primeira página do seu jornal, um homem careca, com óculos, magros, com mamas caídas e barriga cervejeira, ou o que eu sei? Tudo isso está em desacordo com o Orgulho Gay. Sabe exatamente o que é o orgulho gay. Como ele sabe que quando ele fala sobre a África, ele tem que levar os negros cantando e dançando nus antes de um espetacular luscofusco com baobás de sombra. Como sabe, no Estado todos nos vestimos como toureiros e sevilhanas e tiramos uma soneca. Porque sabe escrever sobre o Orgulho Gay. Nom deixe a realidade estragar um bom artigo. Nom deixe que uma faixa cubra a foto de um bom cu suado.