Por José Manuel Lopes Gomes /

Chega a cita anual que a APDR mantém para visibilizar a oposiçom a ENCE em Ponte Vedra e na Galiza inteira: amanhá, a partir das 19,30h, a Galiza mais consciente está chamada a mobilizar-se em manifestaçom na cidade do Leres. Fará-o de mao dumha das associaçons mais veteranas na luita em defesa da terra, que vem de fazer 30 anos de vida ; três décadas de incansável actividade e enorme prestígio acumulado a protagonizar a luita contra o emblema da eucaliptizaçom do nosso país. Agora, da APDR tentam espalhar a ideia de que a questom de ENCE ‘nom é apenas um problema pontevedrês, mas galego’.

A oposiçom a ENCE tem sido umha das bandeiras mais emblemáticas dos movimentos sociais galegos, e particularmente do nacionalismo e do independentismo, nas últimas três décadas. Catalizada pola APDR, esta batalha popular serviu para pôr no alvo um modelo industrial de enclave que chanta no nosso país infraestruturas de enorme cárrega ambiental e sérias consequências sociais. O envelenamento da Ria de Ponte Vedra, empobrecida polos verquidos da papeleira, supujo um sério deterioramento do sector pesqueiro-marisqueiro, e umha ameaça para a saúde do conjunto da populaçom da boa vila. E além do mais, como é sabido, a pasteira pontevedresa actuou como motor dumha política florestal que alimenta a monocultura eucalipteira e desenha um agro despovoado.

Consenso e trajectória

Cabe à APDR o raro mérito de agrupar baixo a sua bandeira e os seus argumentos um amplo leque de sectores sociais e políticos -desde o reformismo institucional até os movimentos rupturistas. No acto de homenagem à associaçom celebrado recentemente, o concelho da cidade, e até mesmo a responsável pola Deputaçom, Carmela Silva, concidírom em salientar o papel do colectivo na defesa da saúde e a riqueza natural de Ponte Vedra. Como lembrava o presidente da APDR numha entrevista, Antón Masa, ainda que a entidade é sobretodo conhecida pola luita contra ENCE, tem protagonizado inúmeras luitas ecologistas : algumha delas, como a livrada a prol da transferência de Tafisa, saldou-se com vitória. A APDR também tem lançado campanha em favor da reciclagem, contra os vertidos, ou em defesa da fauna autóctone. Som estas campanhas sostidas, segundo Masa, as que ao cabo do tempo “contribuem para calhar a conscienciaçom ambiental”. Dumha minoria social oposta à pasteira passou-se a umha oposiçom massiva a esta infraestutura daninha e poluinte. Estudos oficiais dim que mais do 60% da cidadania pontevedresa quer a marcha da factoria.

Recuperar a riqueza e a ria

A ideia força que defendendo a APDR e o conjunto do movimento popular é a da recuperaçom da ria : este espaço ambiental e geográfico, chamado a ser o motor da vida e da economia da comarca enteira, foi tradicionalmente sacrificada em favor dos usos industriais, sem consideraçom com as consequências sociais que estes traem. O mito da ‘criaçom de emprego’ -habitualmente apregoado polas burocracias sindicais espanholas para justificar a permanência de ENCE- revelou-se absolutamente falso. Masa lembra como “dos 10000 postos de trabalho que tinha a ria, passamos a 400 graças a ENCE”.

Parte da luita está hoje em dia nos tribunais. A APDR tem apresentado dous recurso contra a prórroga de 60 anos a ENCE, favorecida polos seus valedores políticos, e mantém alegaçons contra a sua autorizaçom ambiental.

Produtivismo espanhol e lavagem de cara verde

A história de ENCE nom pode dissociar-se do modelo produtivista desenhado pola ditadura nos tempos autárquicos, quando Espanha se empenhou numha repovoaçom massiva dos nossos montes, ignorando o modelo produtivo e a gestom de propriedade -comunal- de boa parte dos nossos espaços rurais. Fundada na década de 50 como empresa estatal, e totalmente privatizada nos 90 -ao alento da vaga neoliberal que agita toda a Europa-, ENCE tem acumulado numerosas denúncias por vertidos ilegais e incumprimento da legislaçom. O conjunto da sua junta directiva foi condenada por delito ambiental, e as denúncias acumulárom-se até 1994.

Constituída em importante grupo de pressom infiltrado na academia e na mídia galego-espanhola -particularmente em ‘La Voz de Galicia’-, ENCE tem reformulado nos últimos tempos a sua linha de marketing, conhecedora do descrédito popular que padece. A factoria pulou por obter vários certificados de qualidade ambiental da Uniom Europeia, e argalha umha forte campanha promocional para dar um novo acelerom à eucaliptizaçom da Galiza.

Numha intervençom recente em Barcelona, Ignacio Colmenares, conselheiro delegado da empresa, defendeu a importáncia da “bioeconomia para contribuir à economia baixa em emissons de carvono“. Se falarmos sem recurso a eufemismos, entenderemos que um novo capitalismo disfarçado de verde pretende investir massivamente em enormes monoculturas florestais orientadas à produçom de biomassa no nome da ‘transiçom energética’. Um modelo que contempla um consumo energético crescente e inviável dados os limites físicos da terra, e que aliás conduz à reduçom extrema da produçom agrária e gadeira no rural.