Por José Manuel Lopes Gomes /


O seu nome é Jorge Olcina; é catedrático de Geografia na Universidade de Alacant e representa os profissionais do ramo agrupados na ‘Associaçom de Geógrafos Espanhóis’. No dia de onte ganhou especial notoriedade nos cabeçalhos pola sua denúncia pública da ‘nula planificaçom’ em matéria de política urbanística, de costa e florestal do Reino de Espanha, num cenário de mudança climática acelerada e reptos de enorme magnitude.

Olcina compareceu diante da mídia estatal e empresarial para apresentar um estudo realizado em parceria pola Associaçom de Geógrafos Espanhóis e o Colégio de Geógrafos em Alacant. Os profissionais do sector deitárom luz a um crítico balanço dos diferentes governos que, baixo o mando do mercado imobiliário, mudárom a paisagem do Estado em menos dum quarto de século. Entre meados da década de 90 e 2016, as distintas administraçons esbanjárom oitenta mil milhons de euros em dinheiro público em ‘obras desnecessárias’.

Embora o informe ainda nom se fijo público e desconhecemos as obras citadas, às galegas e galegos venhem-nos rapidamente à mente alguns exemplos especialmente sangrantes : o mais conhecido, a Cidade da Cultura, obra faraónica desenhada para glorificaçom do fraguismo, e que no momento da sua construçom -a inícios do presente século- só recebeu a oposiçom organizada e contundente do independentismo galego. Hoje, já construída e em precário funcionamento, é alvo das críticas da esquerda parlamentar e de parte da intelectualidade crítica.

Mas os exemplos som, tristemente, abundantes: o ambientalismo criticou também com dureza a construçom dum porto exterior em Punta Langosteira, obra de gigantesca magnitude e grande investimento que se situa a pouca distáncia de outro porto exterior, o de Canelinhas, em Ferrol. Ecologistas em Acçom denunciara no seu momento que Punta Langosteira ‘reunia as piores condiçons possíveis’ para actuar como porto refúgio em caso de accidente marítimo.

Críticas muito semelhantes poderiam objectar-se a grande número de infraestruturas rodoviárias que partírom núcleos de populaçom rurais e supugérom o descarte definitivo da possível comunicaçom através do caminho de ferro de tantos núcleos populacionais da Galiza.

Sejam quais forem os exemplos que figurem sobre o esbanjamento estatal na nossa Terra, o anúncio da publicaçom do documento ganhou certa transcendência. Para Jorge Olcina, o planeamento urbanístico e infraestrutural hispano é “indignante e impróprio dum país democrático”.

Com a linguagem tímida própria da academia, pediu mais “prudência” aos governantes na hora de fazer planeamento urbano, esquecendo que habitualmente som simples correias de transmisom do capital imobiliário e financeiro.

O colapso aí que vem.

Mas quiçá o aspecto mais salientável do informe é aquele no que menos reparou a mídia empresarial. O documento -que conta com a colaboraçom de nove universidades- expom com toda clareza a necessidade de preparar o urbanismo para um cenário de mudança climática. Por outras palavras, o colapso ambiental chegará nas vindouras décadas -se é que nom está aqui já- e afectará a vida diária das populaçons. O trabalho intitula-se “Em defesa do território ante os novos reptos da mudança climática”, e assinala dous ámbitos onde os interesses curtopracistas fecham os olhos a problemas iminentes : a Lei de Costas, aprovada em 2013, e que permite longas ampliaçons urbanísticas até 75 anos, e a Lei de Montes, que dá possibilidade a se requalificarem os territórios incendiados.

A Península Ibérica, pola sua condiçom de fronteira climática entre as áreas eurosiberiana e mediterránea, vai ser das zonas que sufra com maior intensidade os estragos do efeito estufa : e com isso e contodo, segundo adverte Olcina, o Reino de Espanha “carece dumha lei estatal de adaptaçom à mudança climática”, como carece também de estratégias ‘nacionais’ em auga e energia. As secas crónicas som já problema gritante das zonas mais desertizadas do surleste espanhol, e os problemas de fornecimento energético som um cenário que já ninguém desbota nas décadas que venhem.