O Golpe /

Em Julho do ano 2012 saia à rua o primeiro número de O Golpe, Revista Galega de Pensamento Arredista, e fazia-o com este artigo que marca os seis pontos que devem marcar o nosso caminho.

1 – Defender o cerne da naçom. A naçom surgiu dumha relaçom forte, estável e duradeira das pessoas entre si e co território: sem comunidade e sem ruralidade, a naçom apenas subsiste como marca. Ao falarmos de comunidade referimo-nos à existência de um sujeito social preeminente ao indivíduo, e às relaçons de solidariedade, interdependência e estabilidade que tornam isto possível. Por ruralidade entendemos integraçom respeitosa da vida nos espaços, ciclos, ritmos e frutos da terra ou do mar; continuidade e interdependência entre a Terra e a vida humana, à margem de que esta se desenvolva no campo ou na cidade.

A histórica pretensom espanhola de destruir a naçom galega, fracassada durante séculos de dependência e violência política e militar, atingiu o seu ponto de inflexom através da hegemonia social da modernidade capitalista, e do seu poder corrosivo sobre estes dous alicerces. A reconstruçom e defesa da Galiza rural e comunitária (que nom é só chave de pátria, mas também de autonomia, de soberania e de sustentabilidade) deveria ser prioritária para os e as nacionalistas galegas.

2 – Sementar já a Galiza de amanhá. A revoluçom como momento é apenas o mecanismo mediante o qual se assegura a hegemonia das novas formas sociais. A revoluçom como processo é o decurso histórico através do qual se vam gerando e extendendo as relaçons de produçom, os valores culturais, e as formas éticas e políticas da nova sociedade, ainda no seio da velha, em convívio e conflito com ela. Se nom vivemos um momento revolucionário, o nosso labor é alimentar o processo de destruiçom da hegemonia capitalista.

A toma do poder político é, nas circunstáncias actuais, um objectivo tam distante que nom fai sentido marcar grandes linhas entre quem defende diferentes visons a respeito de como, quando e para que fazê-lo. A prioridade, antes da sua institucionalizaçom, é a recuperaçom e o exercício do poder real por parte dos indivíduos e das comunidades, assim como a construçom e defesa dos espaços e as relaçons sociais, económicas e culturais que permitam botar raizes à revoluçom.

3 – Saber-nos em minoria.
 Houvo um tempo, é certo, no
que a espanholidade no nosso
país era a forma que definia
apenas as elites e quem desejavam parecer-se a elas, mas
por desgraça esse tempo passou. Hoje as formas de viver,
de identificar-se e de expressar-se da maioria clara das
novas geraçons de galegas e
galegos, é nitidamente espanhola. O nosso conflito já nom é facilmente categorizável baixo o modelo dum país que se enfrenta a outro, mas em alguns aspectos começa a parecer-se notavelmente a certos conflitos étnicos encalhados no coraçom das metrópoles modernas. Na medida em que perdeu sentido inspirar-se na FLN argelina, ganhou-no fazê-lo nos Black Panthers.

Cada vez mais, somos imigrantes no nosso próprio país: como aos nossos antepassados na América, corresponde-nos juntar-nos, ajudar-nos, construir as ferramentas que permitam conservar a nossa identidade num entorno hostil. Como ao resto de seres humanos sem carta de cidadania, toca-nos enfrentar o Poder, ocupar os nossos espaços, defendé-los, e tecer desde eles a nossa própria institucionalidade.

4 – Resistir por todos os meios. Se a nossa geraçom tem umha tarefa histórica, esta é a de impedir a desapariçom da naçom galega, reconstruindo os seus alicerces e combatendo a assimilaçom do seu povo e a destruiçom do seu território. Isto é o que está em jogo: deixarmos às geraçons vindeiras umha pintoresca regiom espanhola docilmente integrada no processo suicida de destruiçom capitalista, ou bem manter levantada, em forma de comunidade e de projecto nacional, umha barricada galega contra a barbárie imperial. A nossa é, portanto, umha luita de resistência, encaminhada tanto a erosionar a hegemonia espanhola quanto a afirmar e empoderar a comunidade nacional galega.

A luita ilegal é mais um elemento desta resistência. Ela interfere no monopólio espanhol da violência, sabota a sonífera normalidade democrática e permite os movimentos imporem a sua própria legitimidade. Ela é, ademais, um factor inassimilável por um sistema que nutre a sua legitimidade engolindo dissidências, e umha poderosa ferramenta para o exercício real do poder popular.

5 – A uniom nom sempre fai a força. Amiúde a fragmentaçom orgánica do nosso nacionalismo tem sido comparada co minifundismo galego. É um símil que se acostuma a fazer em tom pejorativo, tal vez mais umha expressom do auto-ódio galego. O certo é que a repartiçom da horta em pequenos eidos, tam disfuncional para a lógica industrial e produtivista, foi a soluçom que permitiu ao nosso povo subsistir durante séculos na nossa terra: dividindo a produçom em diferentes espaços, a labrega ou o labrego pode aproveitar as características de cada eido para as necessidades de cada espécie, e ademais consegue evitar que qualquer contratempo (umha praga, a saraiva, o porco bravo, a geada…) estrague de vez a totalidade da horta. Cumpre lembrar que o minifundismo nunca impediu a cooperaçom entre as vizinhas e os vizinhos para aquelas tarefas comunitárias que requeriam da participaçom de todos, enquanto a falta de respeito à estrutura e à integridade das terras (na forma de movimentos de marcos, de expropriaçons, da parcelária…) foi sempre origem de conflitos.

A preocupaçom das e dos nacionalistas nom deve ser o recrutamento de todas e todos os militantes numha única estrutura (objectivo, por outra banda, duvidosamente possível nem desejável), mas o respeito e a cooperaçom desde as diferentes leiras nas que cada quem, como quer e com quem quer, trabalha construindo e libertando país.

6 – Caminhar sem dogmatismo. A conceiçom de que unicamente há umha proposta válida, já for esta ideológica, política ou organizativa, é possivelmente umha das mais nocivas achegas do monoteísmo ao pensamento revolucionário europeu. A realidade é que os problemas tenhem múltiplas soluçons, que os cúmios das montanhas se podem conquistar desde diferentes vertentes, e por sendas distintas. Apostar por um caminho concreto (porque intuimos que é o mais acertado, ou simplesmente porque gostamos mais dele) nom devesse levarnos nunca a rechaçar a ideia de existirem outros, nem a despreçar a quem aposta por eles. A nossa revoluçom é umha ascensom a pé -lenta, em equipa, dura, fermosa e cheia de possibilidades- longe das autovias asfaltadas numha só direcçom. O nosso caminho é só um dos caminhos possíveis cara a independência, o comunismo e o fim do patriarcado na nossa terra.