Por Jorge Paços /

Cincuenta e cinco anos depois da sua consagraçom oficial, o Dia das Letras já sobarda com muito o significado de celebraçom culturalista com o que nascera, de mao da Real Academia Galega. No vindouro 17, a Galiza mais consciente levará à rua a denúncia do lingüicídio em andamento, e socializará algumha das iniciativas orientadas à sobrevivência do idioma.

Como é tradicional na última década, o movimento galego quentou motores para o Dia das Letras com iniciativas variadas, entre as que salientou “A festa do 17 que se fai o 12”; nela, a Gentalha do Pichel combinou música, actividades para crianças e reivindicaçom idiomática em chave reintegracionista na zona velha de Compostela. Em várias localidades do país, os centros de ensino fôrom chamados a participar do ‘Correlíngua’.

Mudança institucional, reivindicaçom central de Queremos galego!

O acto central da jornada da quinta terá lugar na capital do país, e arrancará do empraçamento clássico das mobilizaçons nacionais, o passeio central da Alameda. Convoca-o Queremos galego com a legenda “Em galego dia a dia”, e estará reforçado pola presença de autocarros de manifestantes chegados de vinte localidades do país.

A manifestaçom está guiada por umha ideia força: a denúncia da inibiçom deliberada do PP galego em política linguística, favorecendo o processo substitutivo da língua de nosso polo espanhol. Longe de qualquer disfraz regionalista, o partido dirigido por Feijoo aposta directamente na burla e no desprezo dos defensores do idioma: além de permitir o incumprimento reiterado da raquítica legislaçom favorável ao galego, o presidente da Junta declarou na semana passada, em sede parlamentar, que a perda de falantes entre a mocidade era devida “ao fastio dos jovens com a política normalizadora do bipartido”.

Os preocupantes dados do retrocesso do galego na mocidade urbana complementam-se com notícias pontuais, mas igualmente sintomáticas: na passada semana transcendia a supressom do clássico programa radiofónico ‘Diário Cultural’, deixando o mundo da literatura e as artes em idioma próprio sem um firme baluarte. A inimizade do PP com o idioma está a empapar também a CRTVG, e era a CIG a que denunciava em dias passados mais um caso de vulneraçom de direitos linguísticos das e dos trabalhadoras por parte de Acicala Estilismo, empresa subcontratada polo ente público.

Independentismo e reintegracionismo, também presentes

Em chaves diferenciadas, embora como parte da corrente geral pola língua, estarám presentes dous movimentos especialmente activos no combate pola língua: o independentismo e o reintegracionismo. Precisamente numha linha de apoio crítico à mobilizaçom de Queremos galego pronunciava-se Causa Galiza nas suas redes sociais: “a denúncia frontal do discurso trapalheiro do “bilingüísmo harmónico” e a inexistente “liberdade individual” de eleiçom som elementos que fam parte hoje de qualquera estratégia que situe a hegemonia social do Galego como objetivo realista a alcançar a meio e longo prazo. Que Queremos galego oriente a mobilizaçom de 17 de maio face a exigência de políticas a umha administraçom sistematicamente etnocida é, da nossa ótica, um erro de perspetiva: a supervivência da língua, hoje, deve recair, principalmente, nas costas do povo”, manifestava a organizaçom política.

Por seu turno, o reintegracionismo acodirá à manifestaçom num bloco próprio, popularmente conhecido como ‘bloco laranja’. Concentrará-se às 11,45 na estátua das Marias com a legenda “Falar ao mundo com os pés na terra”, e agrupará boa parte dos centros sociais, as escolas Semente, entidades como a Associaçom de Estudos Galegos, organizaçons como BRIGA, e meios de comunicaçom como o Diário Liberdade e este mesmo portal.

As crianças como protagonistas

Mas quiçá a iniciativa mais original da jornada proceda também do movimento associativo ligado ao independentismo, que, como fijo com a fundaçom do projecto educativo Semente, tem posto as crianças em primeira linha na defesa da língua. Ourense foi a cidade escolhida para a celebraçom do primeiro festival #porquemepeta, um encontro de meninhas e meninhos galegofalantes que pretende homenagear e reforçar toda aquela rapazada que, contra vento e maré, e mesmo sofrendo marginaçom e mofa, se mantém no idioma galego. O Jardim do Possio acolherá diversas actividades lúdicas por e para as crianças.

Novas chaves do debate normativo

No terreno da controvérsia normativa, a AGAL aproveitará também a data para introduzir um novo elemento neste debate duradouro: o binormativismo, tese defendida nos últimos tempos por pessoas de filosofias ortográficas divergentes, mas confiantes na possibilidade de convívio e entendimento entre as duas famílias em que se dividem os defensores do idioma. Numha palestra celebrada no passado abril na Faculdade de Filologia da Corunha, os professores Freixeiro Mato e Sanches Maragoto chamárom a levar em conta realidades nacionais onde o convívio binormativo existe, como a Noruega. “Só entendemos avanços normalizadores que se produzam por consenso”, afirmou Maragoto. O 17 de maio também servirá para testar o eco popular desta inovadora proposta.