Por Marcos Abalde Covelo /

À entrada do Parque Natural das Fragas do Eume situa-se esta paróquia de Pontedeume. Hoje nada indica a barbárie perpetrada neste lugar de inquietante beleza. Dos catorze assassinatos efetuados no município de 1936 a 1939, oito deles forom cometidos em Ombre. Os esquadrons da morte marcárom no anuário da infâmia três datas concretas.

Sábado, 24 de julho de 1936. Na estrada dos Ferreiras, às 8 da tarde soldados do corpo de Artilharia fuzilam Juan Prieto Balsa, marinheiro e presidente da Câmara Municipal de Mugardos; Manuel Serantes Iglesias, vigiante de pesca; e Felipe Tejedor Torío, guarda municipal. Com esta execuçom extrajudicial, o fascismo espanhol inicia o seu plano de extermínio na comarca.

Quarta-feira, 2 de setembro de 1936. Som fuzilados José Fernández Ares, de Cabanas; Pedro Marcos Silvar, de Monfero; Francisco Miño Castiñeira, de Vilarmaior; e Benito Souto Corral, de Monfero.

Quarta-feira, 13 de janeiro de 1937. António Manso Fernández é assassinado. Este crime provocou umha profunda comoçom na paróquia. António Manso era mui apreciado polo seu carácter generoso. Pagava bons salários aos aprendizes e repartia o milho que lhe sobejava. Num primeiro momento, “o carpinteiro dos pobres” foge ao monte, mas em poucos meses um grupo de falangista consegue detê-lo. Atam-no a umha corda e levam-no arrastado até o cemitério de Ombre. Ali mesmo será torturado: Queimam-lhe a cara, arrancam-lhe as unhas e afundem-lhe um pómulo. Segundo as testemunhas, o falangista Francisco Fernández “O Cacholo” mete-lhe um tiro desde umha distância tam próxima que espalha os restos da cabeça polo adro da igreja.

As maos de António Manso lavraram os móveis da casa de Eva Veiga. “Todo reunido neste instante do mundo e do medo”. Assim começa um estremecedor poema que lhe dedicou a escritora eumesa.

Aquele povo organizado em diferentes partidos políticos e sindicatos, longe de ficar paralisado pola barbárie, reafirmou o seu compromisso com a democracia. Farto da impunidade, deu suporte a guerrilha. Oito anos depois do assassinato de António Manso, a resistência antifascista executa José Calvo Ponte, chefe de Falange de Ombre. Umha vizinha rememora: “Quando forom vingar a morte do Manso, aparecérom todos mui amanhados, de gabardinas claras. Quando lhes perguntárom onde iam, respondérom que a matar um porco”.

Em 1916 nascera nesta mesma paróquia Francisco Martínez Leira “Pancho”. Trabalhou de carpinteiro nos estaleiros da futura Bazán. Em 1946 o proletariado ferrolám rachou a atmosfera de terror e levou adiante a greve do azeite, a primeira realizada na Galiza depois do golpe de Estado. Umha feroz repressom bateu contra a oposiçom republicana clandestina. Neste protesto Pancho assumira umha forte implicaçom. Em defesa própria e comunal, bota-se ao monte.

Durante seis anos de militância armada distribui propaganda, efetua sabotagens, ajustiça destacados repressores. Esta atividade seria inviável se nom contasse com um apoio maciço e popular que lhe fornece comida e refúgio. Pancho Martínez Leira era tam admirado polo povo como perseguido polo regime. Oferecérom 300.000 pesetas pola sua captura.

A informaçom facilitada à Guarda Civil polo infiltrado Alejo Mora provocou um macroprocesso contra quarenta e oito democratas e o descabeçamento do Comité Galego do Partido Comunista. Gaioso e Seoane forom condenados a morte. Também caiu o guerrilheiro Eugenio Rueda Perosanz, chefe político da V Agrupaçom. Durante semanas, as forças de repressom torturam-no selvagemente. Em 16 de agosto de 1948 levam-no até Ombre e rematam-no ali. O fascismo sabia que da outra beira do Eume nos montes de Xabariz estava Cal do Barqueiro, capital do Exército Guerrilheiro da Galiza.

Francisco Martínez Leira erige-se como um referente na auto-organizaçom do povo galego. Contra as diretrizes de Moscovo e Paris de abandonar Galiza e ir para o exílio, este herói da resistência antifascista permaneceu fiel aos seus ideais. A pesar das imensas dificuldades, nom claudicou. Com trinta e oito anos será abatido por dous Guardas Civis numha cilada em Ombre. O seu exemplo ressoa em cada geraçom. “Eu daquela devia ter oito anos. Ele morreu com a pistola na mao. Foramos-lhe ao enterro toda a paróquia”, comenta um vizinho cheio de orgulho.

Segundo o comunicado redigido polo Governo Civil, com a morte de Pancho ficava “totalmente pacificada la región”. Longa guerra, de 1936 a 1954, infringida contra a gente mais humilde. Umha cronologia marcada polo assassinato de dous comunistas: Juan Prieto Balsa e Francisco Martínez Leira. Ao fascismo espanhol custou-lhe dezoito anos submeter o povo trabalhador galego. Aginha brotará de novo o carvalho da nossa resistência.