Por Iago Santás /

De parladoiro com umha das muitas que falam a fazerem. Das de levar à prática as utopias pessoais de cada umha que revertem no bem estar colectivo.

Noe, a da Arca.

Tocam A Ronda da Auriense, Tánghete Gaiteiros, Pandereteiras Cantaralai, As Outras e Mazadoiro junto com um recital de poesia com María José Castelo, Concha Roussia, Carlos Rafael e José Nogueiras Santana acrescentando a inauguraçom da mostra de fotografia: No Nú, de Sabela Iglesias. Sona-che o evento?
Foi quando abrimos as comportas da Arca. Um dia muito louco e lindo. Parece que passou uma eternidade e ao mesmo tempo que foi ontem. Muitas destas pessoas continuam a puxar polo projeto e som fundamentais para que a Arca navegue.

Quatro anos de projeto, de trabalho, de ilusom e algumha cousa feia imagino também. Contavas que quatro anos depois o espaço que gerides fosse como é agora? Achas houve umha evoluçom? Era o que tinhas na cabeça?
Cumpre dar-lhe continuamente à cabeça para procurar que o dinheiro nom seja um problema. É uma loucura bonita, mas também supõe muito esforço e trabalho. A pressom do dinheiro sempre está aí…

A verdade é que o sonho foi mais alá do que esperava.

Como lhe explicas a umha moça de Londres o que é A Arca da Noe?

Um espaço de encontro cultural intergeracional e de realidades diferentes para promover principalmente a nossa cultura e língua, tentando que seja um lugar de respeito de todas as sensibilidades.

Taberna, sala, local, espaço? Como gostas de chamar a Arca?
Local de todo tipo de alimanhas

De todas as actuaçoes que passárom poderias dizer-nos qual foi a que mais te ilusionou e o por quê?

Todos os concertos e actividades som especiais, tenho chorado de emoçom em muitos deles. Há quatro anos se me dizem que passariam por aqui certas cantoras e cantores nom acreditaria.

Um dos dias mais especiais foi o primeiro concerto. Agosto de 2014 abrimos com Narf e Uxia antes de tirar o cd da “Galiza Imaxinaria”. Para mim que vieram estas duas pessoas foi incrível, tanto a nível do trabalho que tem feito pola música deste país, como pola sua sensibilidade para projectos deste tipo. Gente muito generosa tem passado pola Arca.

Na hora de gerir as atuaçons optas/optades por un modelo misto entre o “todo grátis” e a entrada fixa. Recadades ou pondes um bote para o artista. Nom é demasiado arriscado quando toca de sufragar segundo que gastos? Somos, o público, responsáveis/ conscientes nesse aspecto para colaborar com o assunto?
Considero que temos que optar por esse modelo se o local está aberto para todo tipo de público. Isto nom é apenas uma sala de espetáculos, é um projecto onde entra gente tomar um vinho ou comer uma tosta. Fica na consciência de cada quem aportar o que considere justo. Também creio que cada vez mais as pessoas som mais conscientes de onde é que estão e que a Arca se faz entre todos e todas e deixam na cesta o que podem.

A aventura de re-volta ao rural e fazer ali a vida profissional (e intuo pessoal): sempre estivo aí, foi premeditada ou improvisada?

Foi premeditada, é claro.

Aprofundando nisto, achas que na Galiza é possível (a nível vital) estabelecer-se no rural sem ter que dedicar-se necessariamente ao sector primário?
Depende do trabalho. Hoje em dia há trabalhos relacionados com a tecnologia que se trabalhas desde casa nom implicam teres que fazê-los na cidade. Nestes casos tanto faz estar numa aldeia ou numa grande cidade. Os projetos artesanais ou negócios já som mais complicados porque tens ir tu ir procurar os clientes ou conseguir que venham até onde tu estás.

É complicado e supõe muito esforço, nom falo apenas por mim, falo também pelo resto do pessoal que está a tentá-lo. Muitas vezes desabafamos umhas com as outras. Deveríamos ter mais apoios da administraçom ou pelo menos mais facilidades. Eu além de trabalhar na Arca, desde há dois também me mantenho com substituições de português nas Escolas de Línguas. Como eu, há várias pessoas integradas em projectos no rural que lhes está a acontecer a mesma coisa, precisam de outros ingressos para poder levar avante o seu projeto e estes normalmente provém de trabalhos vinculados com a administração.

No interior de Lugo e Ourense temos o nosso próprio Detroit: umha perda de populaçom incessante, nom relevo geracional, feche de escolas por falta de crianças e umha populaçom cada vez mais velha. Desde diferentes âmbitos fala-se da importância de reocupar, reestablecer-se, algo que, ainda que se vem exemplos de projectos fantásticos nom deixa de ser minoritário (os censos e IGE assim acreditam). É factível sonhar/pensar com umha re-ruralizaçom destas zonas? Poderia-se pular por que esse fenómeno se desse?
Hoje em dia uma re-ruralizaçom extensiva eu acho que é muito difícil. Nom se trata apenas de voltar, trata-se também que as pessoas que moram no rural fiquem já que som as conhecem o terreno e a realidade social onde se movem.

Também se necessita uma rede de projectos no rural, as pessoas que empreendem tinham que estar mais conectadas. É importantíssimo agrupar-se, criar conexões e força entre todas. Geralmente reproduzem-se os mesmos esquemas individualistas da cidade e muitos dos projetos acabam por desaparecer aos 3 ou 4 anos por falta de implantaçom.

Nom se pode chegar a construir algo no rural partindo da idealizaçom sem saber que tipo de políticas continuam a funcionar. A nível das administrações nom fazem nada por assentar populaçom no rural, mais bem o contrário.

Ainda levando em conta isto tudo, agora mesmo eu nom mudaria a minha situaçom atual. Continuaremos sonhando…

Políticas públicas, pedagogia desde os sectores mais proclives a esse no status, etc…qual é o erro? Vilar de Santos, Limia, Ourense e governo da Marea. Duas com respeito, tendes colaboraçom/sintonia/aopio por parte do Concelho à hora de focar o vosso projecto?
Há uma boa relaçom com a corporação municipal, com o concelho e com os vizinhos. Há que diferenciar entre concelhos grandes e pequenos, isto é como se fosse uma aldeia grande. A corporaçom som uns vizinhos mais e também acodem ao local e aos concertos.

Nunca colocaram problemas ao que organizamos e sempre nos deram facilidades à hora de levar atividades para frente, embora isso nom implique que estejamos a receber ajudas económicas já que somos uma entidade privada.

És uma pessoa vinculada diretamente com artistas e acostumas a ter trato constante. Achas que se perdeu ese componente de reivindicaçom que, por exemplo no tradicional, existia nos setenta ou nas primeiros eventos públicos e festivais das músicas em galego?
Os tempos mudaram e existem novas reivindicações e modos de contar. Nom significa que haja menos, de facto creio que na Galiza aumentaram as bandas e cantoras que usam o galego nas suas composições. Também hai muita mais presença das mulheres e com isso modos diferentes de expresar. Surgiram novas reivindicações, como a feminista ou a Lgtbi, que antes não se dava. Mudaram as maneiras, acho que estão menos vinculadas a siglas políticas e mais como formas de expressom particulares.

As galegas e galegos teríamos que estar ogulhosas do potencial musical e cultural que temos hoje em dia na Galiza

Militaste no CS A Esmorga de Ourense e levavas o balcom na sua segunda etapa, ou segundo local, como se prefira. Com o passo dos anos que lembranças ou erros ficam dessa experiência?

Levei o balcom com três pessoas mais os últimos quatro meses que estive na Esmorga porque não havia mais ninguém. Eu estive quatro anos por trás das atividades culturais, mas não gerindo o balcom. Foi através do MDL (Movimento de Defesa da Língua) que eu cheguei à Esmorga, organizávamos atividades e colaborávamos com os centros sociais. Quando eu cheguei o local arrastava uma dívida importante de investimento inicial que conseguimos com muito esforço saldar. Havia um grupo humano muito bom e tenho lembranças maravilhosas daquele tempo. Tentamos que se mantivesse, mas nom conseguimos por causa do lastre que supunha centrar-nos na dívida e as despesas que tinha mensalmente o local.

A princípios dos dous mil foi a eclos
om dos centros sociais, chegando à vintena. Dérom-se dúzias de debates sobre o seu funcionamento, sobre se balcom si ou nom, sobre as cotas, sobre o dever ou nom de associar-se, sobre ter ou flexibilizar umha ideologia determinada, sobre a funçom que deviam ter ou todos os aspetos que cada assembleia do CS considerasse oportuno. Como vês a situaçom dos CS anos depois desse agromar?
Por um lado, desconheço os locais e funcionamento dos centros novos porque ainda nom estive neles, e por outro lado, tem muito mérito os que levam anos e estão consolidados porque supõe muita dedicaçom pessoal e esforço e também, suponho, muito trabalho para mantê-los economicamente.

Algumha cousa salientável na programaçom do 2018?

Temos em mente organizar em rede entre vários projetos da zona: Faragullas, Carabuñas, Ludo3, Sabor de Aldea, Albergue Bolboretas Vermellas, Museu da Limia, Enchidos Brincas…. organizar fins de semana na Límia para grupos com atividades programadas e visitas turísticas onde se incluem concertos e comidas na Arca.

E com isto fechamos nom sem antes parabenizar-te polo trabalho e desejar-te umha longa travessia!

Obrigada. Isso espero!