Por Victor Lenore (traduçom do galizalivre) /

O grande problema do pop-rock espanhol: é colonizado por crianças de milionários ; pop-rock espanhol é como umha fazenda da classe alta

Alguns meses atrás teve a sorte de entrevistar a roqueira Josele Santiago, vocalista lendária de Los Enemigos. A sua resposta mais escura nom teve nada a ver com o IVA cultural, nem com o apoio nulo para a música de entidades públicas, mas com outro problema muito menos visível, porém mais devastador. Estou me referindo a um processo, sem pressa, mas sem pausa, pelo qual os jovens da classe alta estam colonizando a música espanhola. E nom estamos falando de umha trama projetada em Davos ou Sotogrande, mas dumha dinâmica econômica, acelerada pela queda financeira de 2008. “Agora é costume chamar um grupo para tocar e cobrar-lhe umha taxa. Quando é que se viu isso? Nas duas primeiras turnês, bandas jovens costumam perder dinheiro. É algo que rapazes do bairro nom podem pagar. A este ritmo, apenas as crianças dos milionários poderám formar grupos. Parece absurdo ou muito suspeito “, lamentou. Eu decidi verificar suas palavras e nem demorou muito. Infelizmente, vivemos umha situaçom em que a música realmente popular é muito menos ouvida.

Papai, eu quero ser umha estrela

Qual é o grupo emblemático dessa tendência? Sem dúvida, Stool, cuja origem de classe alta conhece o grande público, já que nele milita o filho de Luis Bárcenas, extesoureiro imputado do PP, junto com o neto de Gerardo Diaz Ferrán, ex-presidente da CEOE. Nom som umha exceçom, muito menos. Sofía Ellar, umha rainha orgulhosa de baladas e estrela no Instagram, é filha de um banqueiro de investimentos que multiplicou a sua fortuna em Londres. Santiago Isla, líder do Chelsea Boots, é o primogênito de Pablo Isla, presidente e CEO da Inditex, que cobra mais de dez milhões de euros por ano. Em abril de 2017, o desconhecido Chelsea Boots assinou um contrato com a Universal, apesar da sua modesta atraçom do público. Jacobo Miralles, filho do famoso jornalista Melchor Miralles, chamou a atençom da indústria por sua participaçom em umha música intitulada Pura Vida. Apesar do sucesso, ele esclareceu ao jornal ABC que ele nem considera abandonar o seu trabalho no setor bancário. Enquanto isso, os filhos de José Manuel Soto tentam seu grupo Mi Hermano y Yo, um projeto planejado durante as férias na Índia. Você sabe, o escape típico da visita de seu mundo espiritual que os jovens espanhóis costumam fazer.

Pressões

O jornalista Manu Piñón, da revista GQ, denunciou o Grupo PRISA favorecendo o tratamento para The Monomes, grupo do filho de seu presidente na altura, Juan Luis Cebrián. Ele também confessou umha anedota pessoal eloquente. “Eles estavam com pressa para ter sucesso. Os 40 colocaram-nos em sua lista, eles até gravaram videoclipes a custo zero, eles apareceram entrevistados em El País e a ediçom em espanhol da Rolling Stone certificou o seu personagem como artista de revelaçom. Ele teve que aprender a pronunciar seu nome para que a folha de pagamento nom estivesse em perigo. Eu mesmo me vi entrevistando-os sem comer ou beber porque a mãe de Rafael e atual ex-esposa de Cebrián, Teresa Aranda, apareceu com o grupo na sala de redaçom”, lembra. A pressom geralmente é feita de maneira mais sutil, mas há aqueles que nom se importam. As últimas notícias do setor? Santiago Trillo, filho do ex-ministro da Defesa de Aznar, lançou um projeto musical chamado Modo Avión. Sem abandonar o seu trabalho como advogado, ele embarca em música com três de seus primos. “Eles sempre jogam juntos como umha família e nem se planejaram dedicar a isso. Mas no ano passado, no final de um casamento, com umha ressaca e vestidos com ternos, eles começaram a tocar e fizemos um video que alguém postou mais tarde nas redes sociais. Tinha muito sucesso”, diz Quico Trillo em El Mundo.

Você ja pode imaginar o que aparece no Google ao digitar “Trillo” e “modo aviom”.

Quem ouve os pobres?

Claro, a tendência nem é nova, mas está se tornando endêmica. O ensaísta pop e ex-executivo recorde Adrián Vogel lembrou em seu livro bem sucedido Bikini, futebol e rock and roll que o primeiro baixo Fender que chegou à Espanha o teve Los Pekenikes graças a Juan Domingo Perón, ditador argentino e vizinho da urbanizaçom exclusiva de El Viso (Madrid). O pop dos anos 80 nom está livre da sua generosa raçom de pijerío.

Ana Torroja (Mecano) é a sobrinha do polêmico procurador Eduardo Fungairiño; Nacho Canut, baixista dos Pegamoides, filho de um famoso dentista que tinha entre seus clientes a família real.

O pai de David Summers (Hombres G) foi um diretor lucrativo de cinema, embora nom tam prestigiado como o de Carlos Berlanga (também Pegamoide). O mais famoso discjockey do hipster de Barcelona, ​​conhecido como o Sideral era filho de um ginecologista de elite que era muito confiável para esposas da alta sociedade e estrelas trans como a Bibiana Fernández. Falamos, é claro, sobre um problema de capital cultural, um conceito popularizado pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu nos anos 70 : um conjunto de recursos intangíveis que dam vantagem às classes superiores, além de proporcionar rituais de reconhecimento. As famílias mais ricas educam os seus filhos em certos hábitos socioculturais, desde reservarem tempo para ler até a expectativa de ir para a universidade, através de um estreito relacionamento com as instituições e a indústria cultural (que nom vêem como algo estranho, mas próprio). Lá, umha relaçom de cumplicidade, proximidade e contatos é tecida, o que facilita a coleta das melhores posições. Como sabemos que essa teoria está certa? É verdade que os estudos empíricos confiáveis ​​sobre a cultura nom abundam, especialmente na Espanha. Aqueles feitos na Inglaterra, por exemplo, som bem reveladores. Em fevereiro de 2016 foi publicado: Like Skydiving without a Parachute: How Class Origin Shapes Occupational Trajectories in British Acting, conduzida por Sam Friedman, David O’Brien e Daniel Laurison, professores da London School of Economics e a University of Goldsmith. Recolheu 402 pesquisas completas por atores, bem como entrevistas em profundidade com outras 47 pessoas, para conhecer sua carreira profissional e sua origem social. Eles descobriram que 73% dos atores e atrizes vieram de umha classe social favorecida (eles eram filhos de gerentes e profissionais qualificados), enquanto os restantes 27% pertenciam a famílias com menos recursos (os pais eram quadros intermeios ou realizavam tarefas manuais ou que exigiram pouco treinamento). O salário médio que os profissionais das classes médias superiores obtiveram com seu trabalho foi de 46.100 libras por ano, enquanto os da classe baixa receberam uma média de 11.000 libras menos. Um dos fatores cruciais foi poder sobreviver às etapas nom comissionadas. “Sua carreira como ator depende em grande medida da possibilidade de chamar a sua mãe durante períodos de escassez financeira”, reconheceu Andy, um dos inquiridos, cujos pais eram médicos.

Dentro da escassa tradiçom espanhola, podemos mencionar a recente tese de doutoramento Rockeros insurgentes, modernos complacientes. Un análisis sociológico del rock en la Transición 1975-1985. Umha análise sociológica do rock na Transiçom 1975-1985, publicada em 2017 pelo sociólogo Fernán del Val. No texto estam claras as enormes vantagens de grupos da alcumada La Movida pop (da classe média alta) contra as bandas de rock do bairro (toda classe trabalhadora). A indústria cultural pode parecer um terreno neutro, mas os dados ficam de início manipulados. Como você pode impedir as pessoas com mais tempo, contatos e dinheiro de colonizar a oferta cultural? A soluçom nem parece mesmo simples, muito menos na Espanha, onde a mídia trata os grupos “de baixo” com desinteresse, desprezo ou censura.

Os artistas admirados pela classe trabalhadora como Camela, La Polla Records, Rosendo, Óscar Mulero e Violadores de Verso, entre muitos outros, sofreram formas abertas e subtis de discriminaçom.

A música popular sempre foi um espaço para a crônica das dificuldades diárias. Hoje, parece condenado se tornar o patrimônio privado da alta sociedade.

Por acasso um sinal -que coincidência- parece que estes dias Felipe Juan Froilán de Todos los Santos de Marichalar e Borbón fez os primeiros passos como DJ.

*Publicado em lamarea.com