Por Jorge Paços /

A linha informativa da extrema direita governante vinca nas últimas semanas nas ‘condiçons privilegiadas’ das e dos trabalhadores do sector judicial para deslegitimar a sua luita. Num mundo laboral esnaquiçado em dúzias de categorias contractuais e salariais, as greves sostidas fam-se notícia. Mas a Galiza, apesar do tópico fabricado da constante mansedume, tem mantido um alto nível de conflitividade laboral no último lustro. Agora, o sector da justiça chama a atençom sobre a precarizaçom que avança sobre os empregos considerados intocáveis.

Com mais dum 90 % de seguimento, a greve no sector judicial continua : é indefinida, e os actores em litígio estám à espera da mesa negociadora da segunda feira. A greve supujo um passo adiante dumha estratégia mobilizadora que começara com paros parciais em meses anteriores.

Um raro consenso.

Para além do sindicalismo nacionalista representado pola CIG ou a CUT, historicamente situado em coordenadas nom pactistas, chama a atençom do envolvimento na greve em andamento de várias burocracias sindicais espanholas , desde as clássicas UGT e CCOO até o CSIF. Esta rara unanimidade -mantida quanto menos nesta primeira jeira- traz à tona o verdadeiro agrávio que movimenta os e as trabalhadoras do sector : a sua consideraçom como ‘funcionários de segunda’ no conjunto da administraçom. Entre os aspectos fulcrais da sua tabela reivindicativa acham-se a equiparaçom salarial com funcionários do sector em Espanha, o direito a gozarem das mesmas baixas médicas que toda a casta judiciária (juízes, fiscais e advogadas), ou a unificaçom salarial de fixos e substitutos. Obrigando a cumprir as palavras dos políticos do regime sobre a cacarejada ‘fim da crise’, as trabalhadoras em greve reclamam aliás a devoluçom das partidas salariais recurtadas entre os anos 13 e 16.

Razons do imobilismo.

Representantes da Junta bloqueárom qualquer possibilidade de acordo ao negarem-se ao incremento de salário exigido por sindicatos, e justamente no alegado ‘egoísmo’ dos trabalhadores estám a basear os políticos do PP o seu contra-argumentário. Fontes sindicais acusam a Junta de apresentar cifras falseadas para distorcerem a justa reivindicaçom : a volta à posiçom salarial media (no conjunto do Estado) que mantinham no 2008.

Os direitos em causa, a dívida em alça.

A análise de conflitos sectoriais esquece adoito o contexto onde estes se livram : no caso que nos ocupa, numha naçom empobrecida, ocupada por um Estado com um problema crónico de dívida. Só com esta perspectiva se pode entender a passeninha -mas inexorável- precarizaçom de sectores laborais noutrora intocáveis.

O Reino de Espanha leva adicando desde 2008 umha cantidade equivalente do 25 % do seu PIB ao pagamento da dívida ; bancos, fundos de investimento e asseguradoras zugam 25000 milhons de euros por ano, cantidade detraída do sector público. Por darmos algum dado ilustrativo, pensemos que em 2017, o pagamento de interesses duplicava já a cantidade asignada ao pagamento do desemprego (cifras que eram inversas no início das crises das finanças).

Como reconhecia há meses um representante da direita espanhola, ‘no caso dumha nova crise global, Espanha já nom teria margem para se endividar mais, e portanto para afrontar umha nova recessom’. E enquanto aguardamos um próximo estourido das finanças internacionais, o poder espanhol aproveita para dar verniz de legitimidade à liquidaçom de serviços, à supressom de vagas e à progressiva introduçom da temporalidade em sectores onde esta estava ausente.