Por Jorge Paços /

Segundo nos lembrava há poucas semanas o estudioso José Manuel Barbosa no Portal Galego da Língua, o silenciamento da nossa tradiçom política nom só agocha ou renomea reis, poderes e territórios, senom que leva à ignoráncia sobre aspectos fulcrais do artelhamento da proto-naçom galaica. Poucos compatriotas, por letrados que forem, tam sequer suspeitam que o primeiro parlamentarismo europeu nom agromou na Inglaterra ; fijo-o no Leom do século XI ; isto é, na Galiza.

A historiografia dominante ocupou-se de inçar os livros de texto da nossa adolescência com referências à Carta Magna que os ingleses sancionaram a inícios do século XIII, limitando assim os poderes do monarca John I Lackland. Os abusos do mais poderoso contra o povo e os outros notáveis eram assim vigilados e submetidos a fiscalizaçom.

Para quem estiver sempre à espreita das « falsificaçons nacionalistas » do passado, o professor José Manuel Barbosa recorre a umha referência de fiabilidade a priori indubitável : a UNESCO. A instituiçom, dependente da ONU, reconheceu há perto de cinco anos que o documento de maior antiguidade que provava o parlamentarismo europeu eram os « Decreta legionenses ». Redigira-os a « Curia Plena » reunida em Leom, capital do Reino da Galiza, há justo 870 anos. Baixo o reinado de Afonso VIII « O emperador », o texto reconhecia o que hoje nomearíamos direitos individuais, como a inviolabilidade do domicílio, a privacidade, a propriedade, ou a justiça contra o abuso. Pola primeira vez na Europa (de maneira documentada) os representantes das cidades som convidados a participarem da assembleia, a « Cúria », reunida em Sam Isidoro. Seis anos mais tarde de se decretarem tais medidas, em 1195, elabora-se umha constituiçom para a Galiza compostelana (aproximadamente, atingindo o espaço territorial da actual Galiza).

Na linha do que séculos depois será o primeiro parlamentarismo burguês, a Cúria que chanta as bases dessa conciliaçom de poderes representa os estamentos da época : nobreza, clero e gente do comum ; baixo este último termo, muito abrangente, incluiam-se sobretodo as classes abastadas urbanas que dariam origem ao capitalismo.

Umha Galiza urbana.

Também contra o tópico, devéssemos vincar no importantíssimo papel que para o desenvolvimento da nossa naçom tivérom as cidades : umha malha urbana diversificada e bem repartida no território, cujo coraçom era Compostela ; um conjunto de espaços urbanos fundados por iniciativa real e com um regime de auto-governo especial, no que os reis Fernando II e Afonso VIII tenhem enorme importáncia.

Só esta dimensom da Galiza urbana e do ideário político que elabora pode explicar feitos como a revolta irmandinha, acontecida dous séculos e médio depois da aprovaçom do documento que nos ocupa. A ideia dum poder político partilhado entre rei e estamentos, incluído urbano, prevalece durante os três anos de hegemonia das Irmandades no nosso território, no que Barbosa considera umha « monarquia republicana ».

Silêncios políticos e académicos.

Enquanto a cidade e a província de Leom mergulhavam, desde o ano 2011, em comemoraçons, congressos e ediçons de livros sobre o parlamentarismo e a monarquia sediada nesta cidade, o poder político, mediático e académico galegos -todos eles acomplexados e subsidiários- apostam no silenciamento das nossas raízes ; umha decisom calculada que tem por objecto aprofundar no auto-desprezo dos galegos e galegas, e ao cabo reforçar a sua fraqueza espiritual e inanidade política. Apenas a pesquisa voluntária, em papel ou nas redes, com o apoio do movimento associativo galeguista, possibilita deitar luz sobre capítulos de tanto interesse como este.