Por David Rodríguez /

Na suas reflexons sobre a questom meridional, Antonio Gramsci sinala a ascendência, em toda Itália, dos intelectuais naturais do sul da península, já fosse na sua versom de membros isolados mas sobranceiros de intelligentsia, como de quadros médios inseridos no aparato de Estado. Ideia que, em boa medida, se poderia aplicar à Galiza da Restauración, no fim do século XIX. Como indica Manuel Veiga no seu O pacto galego na construcción de España (ANT, 2003), as elites galegas, nos momentos da construçom de Espanha como Estado nacional, ham assumir o acordo implícito consistente em sacrificar a identidade cultural e política do país em troca da modernizaçom prometida pola integraçom deste no espaço económico espanhol.

Veiga enxerga, na defeituosa aplicaçom à realidade galega das leis de Desamortización, a origem do que, mais tarde e durante muito tempo, há ser caracterizado como “o atraso” de Galiza. Segundo Veiga, a Desamortización atraiu o investimento de incipientes capitais comerciais cara à terra —ainda afectada pola figura do foro, um resto do Antigo Regime— que contribuiu a umha refeudalizaçom e ao desvio do capital produtivo ao rentista.

Unido a isto, as leis espanholas proteccionistas co trigo castelhano, cos altos fornos bascos e co téxtil catalám, em detrimento dumha indústria galega (da carne, conserveira) debrocada na exportaçom (Inglaterra) e que há padecer fortemente a crise agrária europeia de finais do XIX, levará o país à sangria demográfica (do 15% da populaçom do Estado no s. XVIII ao 8% a finais do XX), até o ponto de que a emigraçom, convertida já no autêntico motor económico das burguesias dos portos atlânticos especializados neste tipo de trata, há atingir, a finais de século, umha envergadura a meio caminho entre dous movimentos migratórios europeus paradigmáticos: o irlandês e o italiano.

Neste estado de cousas, as elites galegas vam procurar a sua supervivência através do pacto co Estado sinalado por Veiga, e ham empregar a burocracia estatal —de igual jeito que os meridionais italianos de Gramsci— para o ascenso social. Desta maneira, podemos explicar a relativa abundância de ministros, mandarins e presidentes de governo galegos naquelas datas (e depois, como agora sabemos).

Passado o tempo, e posto que a prometida modernizaçom sempre chegará coxa e será insuficiente para igualar a economia galega à média espanhola, a via de crescimento das elites através da sua vinculaçom com o Estado nom vai ter marcha atrás, e só fará algo parecido a um caminho de volta quando (muito depois desse descabeçamento intelectual do país que foi o golpe franquista), após a chamada Transición, Manuel Fraga, quem foi quase que de todo no Estado espanhol, fracasse na sua tentativa de ocupar a presidência de Espanha e procure acovilho baixo o guarda-chuva regionalista na Galiza (embora para seguir servindo ao projecto espanhol a base de controlar e embridar o país desde as neonatas instituiçons regionais).

Porém, a este carácter mediador das elites galegas entre o groso da populaçom e o aparato do Estado, cumpre somar, coa criaçom dumha imitaçom pobre e serôdia do Welfarestate com o que adoçar a falta de ruptura co regime franquista e as reconversons (liquidaçons) industriais às que vai obrigar o projecto europeu, a incorporaçom de grandes quantidades de funcionários ás diferentes instituiçons que se iriam criando. Se bem existem outras CCAA que lhe fornecem de mais funcionários ao Estado que Galiza (Extremadura, Andalucia, Castela-Leom, Castela A Mancha…), o nosso país encontra-se no seguinte grupo mais numeroso, sendo, nom por casualidade, Catalunha, a que menos contribui. Também se encontra a nossa terra entre as que mais contribuem com efectivos a corpos como a Guarda Civil, além de contar com umha gram massa de populaçom, maioritária em nom poucos concelhos, dependente, directamente, de pagamentos do Estado através do sistema de pensons; umha massa que, hoje, conforma o principal bloco demográfico que sustém as maiorias do Partido Popular no Estado e na Galiza.

Mas que a modernizaçom do país —conceito que, como dispositivo ideológico, devemos problematizar e questionar de raiz— neste esquema de sujeiçom ao Estado espanhol, segue a ser defeituosa, demonstram-no as cifras. O PIB por habitante em Madrid era, em 2016, o 136,6% da média espanhola, no País Basco o 132% e em Catalunha o 119%, enquanto o PIB galego supunha o 89,1. Em termos demográficos, co 5,8% da populaçom do Estado em 2017, já se fala de colapso da demografia na Galiza. Quanto à emigraçom, esta regressou com força, encabeçando de novo, especialmente na gente moça, o ranking do Estado de pessoas emigradas.

Porém, um novo elemento, cada vez mais central, entra no tabuleiro de jogo desde a incorporaçom da Galiza e do Estado —após o longo e accidentado período de construçom nacional-estatal espanhol— no espaço da Unióm Europeia. Também esta incorporaçom continha umha promessa de modernizaçom; mas se esta nom vai ser completa para Espanha —como amostrou com crueza a crise financeira global de 2007 e a conseguinte agudizaçom da fenda entre Estados acredores e devedores—, menos ainda o vai ser para a Galiza, a sua periferia. O nosso país, no ano 1996, possuía arredor do 70% do PIB da média europeia, em 2003 chegava ao 80% e, no zénite da bolha imobiliária, o país chegou a atingir o 89% do PIB respeito da média da UE. Hoje, porém, o PIB regressou a dados de 2003, mas com umha realidade industrial, e uns visos de futuro (terceirizaçom baseada na mao de obra precária) muito mais pobres que quando se entrou no clube de Bruxelas. Umha desconvergência, cumpre engadir, que no Estado espanhol apresenta melhor cara quanto mais rica é a CCAA.

É bem pensarmos se, ante esta nova realidade pretensamente postnacional, as elites galegas (caso de que estas ainda existam) vam renovar o pacto sinalado por Manuel Veiga: renuncia à identidade e à política própria e integraçom na “Europa” através do Estado espanhol ou, de acordo com as arelas do independentismo europeísta catalám, incorporaçom ao espaço pospolítico europeu como ente geopolítico próprio. Se temos que fazer caso ás pacatas reacçons da imprensa e dos empresários galegos à exclusom do país das redes de movimento de mercadorias europeias (o famoso Corredor Atlântico de Mercadorias que, no Estado espanhol, nom toca o Atlântico), todo parece indicar que o pacto da Restauración há continuar plenamente vigente. Se atendemos ao carácter funcionarial (incrustado, por tanto, no Estado) do que resta de classe média e ao ingente número de pensionistas, é provável, salvo quebra financeira do Estado (algo que, visto o visto, tampouco se pode descartar totalmente), que esse bloco se mantenha sólido nos tempos que venhem.