Por Ana Macinheira /

A nossa terra é umha terra carregada de lendas e mitos. Por volta do final de ano há diversos rituais na nossa tradiçom que dam conta disto, e entre elas topa-se um ser mágico que rebole arredor de nós nos inícios do ano novo. Em datas como estas, nom todo é a média noite em formato televisivo e com acompanhamento de uvas à espanhola. A nossa cultura popular é um tesouro de práticas ainda por descobrir e popularizar.

O Demo Assobiador “nom se ergue umha polegada do chao, veste polaininhas de pana luída com um furado na croca para abanar o rabo, camisa azul de franela e chaleque de festa. Nos pés, calça uns velhos tamancos, sempre desamalhoados, com os que achanca ligeiro corripas, levadas e peares. A maiores disto, gasta monteira de feltro, enfeitada com umha pluma de alavanco. A pucha outorga-lhe o dom da ubíquia invisibilidade; assim o descreve o Colectivo Vaipolorio de Vila Boa (Ponte Vedra), que desde 2001 está trabalhar para recuperar esta personagem da nossa mitologia. Com a ajuda do investigador Calros Solla, a associaçom tem dado a lume um texto sobre o ainda pouco conhecido demo.

Diz-se que o Demo Assobiador bota-se aos caminhos em aninovo na procura dum paisano qualquer, um por ano. Umha vez que o escolhe, gabea-lhe polo lombo e investe todo o seu tempo em assobiar-lhe no ouvido umha cantarela. A vítima passa o ano alelada, pampa, “desorientada, aboubada, respostando sem lhe perguntarem, a acodir aonde nom o chamam; por umha palavra, antarujado”.

No ano seguinte, este deminho rexoubeiro ha de escolher outro coitado que se cruzar no seu caminho, e assim ano trás ano; pois segundo contam, isto leva a acontecer desde que as orelhas penduram da cachola.