Por José Manuel Lopes Gomes /

Como informávamos na semana passada, a empresa concessionária da AP9, Audasa, visa umha suba abusiva das portagens para o ano que estamos a piques de encetar. O feito, longe de ser umha anedota isolada, constitui umha mostra perfeita da maneira de fazer de grandes conglomerados financeiros e industriais que vivem de costas viradas às necessidades elementais da nossa Terra.

A AP9, num início gerida pola franquista Empresa Nacional de Autopistas (ENA), foi amortizada anos depois da sua abertura, entre finais da década de 70 e inícios dos 80. O mega-projecto suscitara um movimento de oposiçom popular contra a política de expropriaçons, participado polo independentismo em forma de propaganda e sabotagens. A dia de hoje, é a infraestrutura mais lucrativa de todo o grupo Audasa. Cada dia, a AP9 recada por volta de 300000 euros em portagens, e mantém-se entre as mais caras do Estado espanhol. Por si só, recada a mesma cantidade de dinheiro por ano que as outras cinco autoestradas que gere Itínere neste território.

Cifras assustadoras.
E é que qualquer vista de olhos aos dados básicos de Audasa confirma as razons de todas as forças sociais que combateram este seu “projecto estrela”. A um tempo que é das mais caras do Reino de Espanha, mantém umha plantilha em constante diminuiçom, produto da instalaçom de máquinas automáticas que gerem as portagens. Mas nem só, a AP9 é a autoestrada que mais queixas de pessoas usuárias acumula em todo o território do Estado; a Audiência de Vigo, o julgado de Cangas, e até a Audiência Provincial de Ponte Vedra dérom a razom nos passados anos a denunciantes que chamaram a atençom sobre desperfeitos nas instalaçons e problemas de segurança.

Apesar das controvérsias desatadas por volta da AP9, a empresa foi quem de ampliar a concessom até o ano 2048 com cobro de portagem, no que supom de feito umha quase total impunidade para aplicar políticas de preços e de desprezo ao viageiro, na mesma linha que nas passadas quatro décadas.

Favores políticos.
Ainda se recorda a recente luita da vizinhança do Morraço contra as portagens que gravavam a passagem de milhares de trabalhadoras e trabalhadores que iam diariamente a Vigo, saldada com a eliminaçom deste cobro. Porém, embora Audasa eliminou estas portagens em Vigo e a Barcala graças à pressom popular, esta retirada fijo-se a custa dum acordo do governo espanhol com a empresa: o primeiro pagará à companhia quase 400 milhons de euros nos vindouros 40 anos; por outras palavras, o total da populaçom paga com os seus impostos os privilégios de Audasa.

Alheios e alheeiros a zugar riqueza da Galiza.
José César Canal, conselheiro de Gestom de Infraestruturas de Bizkaia S.A., é a pessoa encarregada de substituir Andrés Muntaner Pedrosa como director geral de Audasa. Muntaner, um galego-espanhol relacionado com o círculo pontevedrês de Rajoy, foi nomeado responsável da infraestrutura em 1996 e desde entom até o passado Setembro permaneceu como máximo dirigente da mesma; o seu irmao, Jaime Muntaner, foi também graças a Rajoy máximo representante da Agencia Tributaria; segundo as contas publicadas pola própria empresa, a sua nómina era de 172000 euros em 2016, sendo um dos executivos melhor pagados da Galiza. Renunciou ao seu cargo por vontade própria.

Sem embargo, seria desacertado ficar com nomes como este, representantes senlheiros da extrema direita galega, esquecendo o que realmente som: quadros ou burguesia intermediária dum poder mais distante e ainda mais alheio. Desde 2003, quando Aznar lança a privatizaçom das autoestradas, Audasa cai em maos dum consórcio liderado por Sacyr; e já nesta década, o fundo de investimento Citi entra a participar decisivamente no holding Itinere; ainda mais recentemente, o fundo estadounidense Corsair Capital toma o poder no conglomerado.

Aos tímidos chamados parlamentares à titularidade autonómica da infraestrutura, a dirigência política estatal respostou com orelhas moucas. Espanha nom renuncia aos seus suculentos negócios na Galiza.