Por Jorge Paços /

Na passada semana as pessoas interessadas no património liam com pavor como a Junta estava disposta a pôr em venda Pena Grande, um dos mais importantes jazigos paleolíticos do norte do país. De se consumar este atropelo continuaríamos a botar escuridade sobre umha das etapas mais apaixonantes do nosso passado. O movimento associativo a prol do património, um dos mais viçosos da Galiza, leva anos a chamar a atençom sobre certas jóias que oculta o nosso chao, em perigo por desleixos populares e ameaças empresariais.

Segundo analisam em onosopatrimonio, a tradiçom histórica da arqueologia galega tem deslocado para um segundo plano o estudo do Paleolítico. E com efeito, a grande vitória dos precursores foi elevar a símbolos populares os castros, os petróglifos e os dolmens; porém, já poucos lembramos que Villaamil y Castro, em data tam recuada como 1873, defendera já a presença de populaçons primitivas. O peso do dogma eclesiástico -na sua negaçom do evolucionismo- fazia da abordagem deste tema um tabu que só encaravam os mais afoutos. Também no mais duro da posguerra, dous galeguistas incansáveis, Álvarez Blázquez e Bouza Brey, dérom a lume estudos sobre achados paleolíticos na comarca do Baixo Minho.

Um pulo no novo século.
Há dez anos, o pre-historiador Fábregas Valcarce salientava que ‘o interesse social polo Paleolítico medra’, desde que há umha certa curiosidade por conhecer como viviam os habitantes remotos deste recanto norocidental da Península. Porém, e apesar de os estudos profissionalizados terem um percurso importante -mais de cincuenta anos-, a pesquisa de tempos tam recuados precisa de dotaçons económicas e técnicas muito superiores às de outras jeiras. Os restos estám muito mais erodidos e as dataçons precisam maiores recursos tecnológicos.

De Budinho a Cova Eirós.
Sem tanta releváncia simbólica como Baronha ou Dombate, nos nomes de milhares de galegos e galegas sonam topónimos como as Gándaras de Budinho ou Cova Eirós. Na paragem privilegiada do Porrinho -cercada por umha industrializaçom destrutora- aparecêrom mais de 250 jazigos de homínidos; e nas montanhas do leste galego, há restos dum ‘homo antecessor’ que morou há 120000 anos numha natureza distinta à que hoje conhecemos, radicalmente transformada polas glaciaçons.

É na zona calcária do nosso país, onde os solos menos acedos permitem certa conservaçom, onde jurdiu toda umha veta de tesouros paleolíticos galegos: Cova do Rei Cintolo, Valdavara, Encinha da Lastra…

O recordo e a humildade.
Quem quiger recriar mentalmente aquele território, que hoje chamamos Galiza e identificamos como umha naçom em luita pola sobrevivência, há de fazer um esforço de imaginaçom importante; e livrar-se portanto de toda imagem preconcebida. Terá de pensar num território selvagem, coberto de mato, habitado por rinocerontes, uros, cervos de grande tamanho.

Seguindo de novo Fábregas Valcarce, conviria levar em conta que o Paleolítico, com a presença de exigentes forças naturais a dominar a vida dos humanos, recorda-nos a nossa fragilidade radical. “Somos hóspedes, nom donos da Terra”, afirmava o professor compostelano. “E qualquer dia o proprietário nos dá o cheque de expulsom”. Quiçais os nossos ancestros remotos tenham cousas que ensinar-nos.