Por Marcos Abalde Covelo /

Às mulheres

Quebrai, minhas amigas, essa terrível cadeia que vos oprime, avançai entusiastas e recusai essas rançosas ideias que cada dia aumentam a vossa situaçom de escravas e fam mais dificultoso o vosso caminho. Revoltar-se contra essa classe de miseráveis que nos convertem em rebanho de ovelhas roubando-nos a saúde e a inteligência.

Como nom ignorades, a terrível Inquisiçom torturou os ossos de milhares e milhares de infelizes, que se revoltavam contra os carrascos que em nome dum deus que nom se comprovou a sua existência, matavam sem compaixom e eram as feras mais sanguinárias. Eles eram entom os amos do povo, porque naquela época se achava mais ignorante do que hoje e os que se revoltavam eram vítimas dos maiores tormentos, mas hoje, minhas caras, os ideais avançam a passos de gigante.

A Inquisiçom ainda nom terminou, a que agora temos é mais lenta e continuará a ser enquanto a mulher continue fanatizada polas religions. Avante, minhas amigas, avançai à sociedade moderna, onde todo será harmonia e amor e em tempos nom afastados a mulher nom será a escrava do homem, será a sua companheira e juntos partilharám as suas alegrias.

Amália Fraguela assinou este texto publicado em 9 de julho de 1913 em Tierra y Libertad. O ano anterior fundara em Ferrol o primeiro grupo de galegas anarquistas. Para deixarem de ser “escravas do escravo” e cientes da necessidade de “educar e educar-se”, constituirom um coletivo denominado a Antorcha. Desejavam cooperar com a propaganda libertária e relacionar-se com todos os grupos da sua índole. O seu primeiro labor foi distribuir um manifesto titulado “Às mulheres”, possivelmente o mesmo reproduzido mais arriba e onde ressoa a palavra luminosa e rotunda de Teresa Claramunt. Apesar de sofrer cárcere, tortura e desterro, aquela operária da indústria têxtil de Sabadell dedicou toda a sua vida a luitar pola dignidade das mulheres. Claramunt converteu-se no principal referente do anarquismo ibérico:

Nom esqueças que a mulher tem que se preocupar pola sua sorte, elas devem ler os livros que ensinam (como som as obras anarquistas), devem estar associadas as suas irmás e formar cátedras populares onde aprender a discutir ou para ir aprendendo o que precisamos saber.

Assim figerom Amália Fraguela, Rosário Sardinha e Emília Cora naquele Ferrol tam dinámino e combativo de princípios de século. Advertidas contra a resignaçom e os seus predicadores, passarom de escravas a companheiras. Estas proletárias da estirpe de Louise Michel bem sabiam que a emancipaçom das trabalhadoras só podia ser obra das próprias trabalhadoras.