Por Jorge Paços /

Na semana de comemoraçom do centenário da Revoluçom de Outubro corrêrom rios de tinta para analisar os efeitos do que seguramente fora o feito mais marcante de todo o século passado. Que inspiraçom tivo na Galiza? Que pegada deixou o seu máximo ideólogo e estratega, Vladimir Illich ‘Lenine’? Umha vista a voo de paxaro sobre o ideal revolucionário na nossa Terra, e também na sua causa nacional.

Entre os conduzidos à morte polos pelotons de fusilamento franquistas, ou entre os que se enfrentavam ao matonismo ‘incontrolado’ da Falange, era habitual despedirem-se da vida com o berro ‘viva Rússia’. E é que o derrubamento dos tsares e a edificaçom do primeiro sistema socialista da história inspirou o conjunto do movimento obreiro do século XX, independentemente da sua particular adscriçom política ou sindical. Também o franquismo aproveitou o poderio e o medo que a URSS causava nas classes dominantes para dizer que se enfrentava ao ‘comunismo’; e baixo esta etiqueta incluía umha listagem vasta de inimigos políticos, desde anarquistas a socialistas, passando por nacionalistas galegos, ou republicanos. Também obviamente marxistas leninistas, que fôrom perseguidos a ferro e lume polo Regime.

Um triénio ‘bolchevique’.
Poderia ter eco o ideal leninista na Galiza de há cem anos? Umha naçom maiormente agrária e sujeita a relaçons feudais -o foro-, com centros urbanos fracos, e um ideário galeguista nom pronunciado na questom social parece desmenti-lo. E sem embargo, o leninismo também foi o grande desmentido ao marxismo clássico, pois desatou umha revoluçom num império feudal, com escassa burguesia e fraca classe obreira.

Portanto, se bem na nossa Terra a luita social urbana nom acadou a virulência de outras áreas relativamente próximas (como Catalunha), si se desenvolveu um sindicalismo forte, mormente relacionado na Corunha com o anarquismo, e em Vigo com o socialismo. A ele chegou a inspiraçom de Lenine, que tivo seguidores confessos na chamada ‘cisom terceirista’ da Internacional. Eis as origens do PCE na Galiza, dirigido polo pedreiro compostelano José Silva Martínez desde 1925, e logo galeguizado como PCG no exílio francês da década de 60.

E além do seguimento mais ou menos fiel a Lenine, o conjunto da classe trabalhadora organizada foi permeada polo impato tremendo da revoluçom obreira e os seus ecos internacionais: quando as o capitalismo era abalado na Alemanha ou na Hungria, o Estado espanhol vivia o chamado ‘triénio bolchevique’, a fase mais álgida da reivindicaçom popular na altura. O regime da Iª Restauraçom esboroava-se, e só sobreviviu mudando na ditadura de Primo de Rivera. A social-democracia cumpria mais umha vez o seu papel histórico, pois o PSOE e a UGT apoiavam o ditador; CNT e PCE eram perseguidos.

Poucos, mas influentes.
A estrutura social galega fazia minoritários tanto PSOE como, nomeadamente, o PCE, com a exceçom de certos núcleos urbanos e espaços sindicais da província ourensana; alô, setores do agrarismo e do magistério secundavam as teses comunistas, unidos por lideratos carismáticos como o de Benigno Álvarez, veterinário de Maceda cujo cadáver foi passeado polos fascistas em 1936. Hoje tem umha praça na sua vila natal.

Na realidade, os e as leninistas fôrom sempre minoritários, como corresponde a umha façom política que defende a conspiraçom e a existência de revolucionários profissionais. É esta condiçom a que fijo o leninismo protagonizar a guerra civil na zona republicana e sobrepor-se à caçaria iniciada em 1936 e fazer-se hegemónico na esquerda da Galiza: som os comunistas os que recomponhem células obreiras nos asteleiros de Ferrol ou nos quartéis na dureza dos 40, ou os que artelham a guerrilha mais operativa e afouta no quadrante noroeste do País. Com a retirada da Federaçom de Guerrilhas de Leom Galiza, influenciada sobretodo por socialistas e anarquistas, o Exército Guerrilheiro da Galiza situa-se na vanguarda da resistência contra Franco. Gómez Gaioso e António Seoane, executados na Corunha pola ditadura, passárom à posteridade como o seu emblema, imortalizados no famoso poema de Rafael Alberti.

Nacionalismo e leninismo.
É sabido que a reorganizaçom nacionalista da década de 60 se fai também baixo a sombra de Lenine. O seu pensamento, que formulou o direito de autodeterminaçom em chaves obreiras (dando logo lugar a interpretaçons divergentes) encaixava como umha luva nas arelas das novas geraçons, alimentadas polas vagas descolonizadoras do ‘Terceiro Mundo’. Luís Soto, o mestre comunista ourensano, personifica esta síntese que alumou o nascimento da UPG.

E paradoxalmente, namentres o nacionalismo fortalecia a sua adesom leninista, o PCE relegava com mais ou menos claridade a figura do líder russo à categoria dos ‘inspiradores de outra época’. Cozinhava-se o apoio à monarquia e o pacto com a direita franquista: a ‘reconciliaçom nacional’ que ia dar lugar ao regime que hoje padecemos, onde os franquistas sem Franco ocupam resortes fundamentais dos grandes poderes: do económico ao judicial.

Lenine na ‘democracia’
A influência de Lenine nas últimas quatro décadas da história da Galiza sofreu um deslocamento. Tanto o nacionalismo maioritário como a esquerda reformista adotárom a estratégia eleitoral como o seu empenho preferido, numha tentativa (ainda nunca provada) de conseguir mudanças radicais no mercado dos votos. Que fazer neste contexto com a figura de Lenine? O bolchevismo desconfiou sem matizes do parlamentarismo, considerado umha armadilha burguesa que só cumpria utilizar taticamente; creu na importáncia de vanguardas organizadas para dirigir os movimentos de massas, numha filosofia totalmente distante da ‘política de tempo livre’ que reina no capitalismo seródio, e ainda, considerou que quando as contradiçons se agudizarem ao máximo, o salto qualitativo ia vir dado polo enfrentamento violento: a insurreçom.

Com tal bagagem, o reconhecimento a Lenine ficou relegado aos actos internos da política partidária, a jeito de afirmaçom grupal; e, pola contra, a sua defesa incondicional emergeu com força nos setores comunistas do independentismo, que abandeirárom a sua figura em mobilizaçons e propaganda. O Partido Comunista de Libertaçom Nacional, na década de 80, ou Primeira Linha, desde a década de 90 até a atualidade, representam esta adesom.

Leninistas também fôrom, tentando um seguimento literal e escrupuloso do seu mestre, os e as comunistas galegas que desde a década de 70, nutrírom as fileiras do PCEr e do GRAPO, pagando com longas condenas de prisom e até com a morte a sua militáncia clandestina. O PCEr foi ilegalizado a primeiros do século XX pola Lei de Partidos, pola sua pretensom confessa de querer o ‘derrubamento do regime’.

O século XXI, Lenine à espreita.
Além do debate sobre a natureza mais ou menos autoritária do leninismo, que ocupou milheiros de reflexons da esquerda, sobretodo libertária, ninguém pom em causa que as grandes previsons da sua escola se confirmam amargamente: a concentraçom de capitais numha escala internacional, a superaçom de conflitos entre potências pola guerra e polo saqueio, a conversom dos parlamentos num cenário de monicreques movido a vontade polo poder financeiro, ou a perseguiçom ditatorial da dissidência.

Vivemos quiçais num dos piores cenários previstos: e quem agite a bandeira leninista fará-o, como ele mesmo alviscou, desde a conspiraçom e a ilegalidade.