Por Michelle Donoso e Simón Manríquez (traduçom do galizalivre) /

Pola sua fondura temática, compartilhamos a entrevista realizada em Outubro deste ano a Laura Zuñiga, filha de Berta Cáceres, quem se refere à luita feminista, indígena e meio-ambiental.

Na passada quinta-feira 6 de outubro conversamos com Laura Zuñiga nos pastos da Lagurna de los Patos da Universidade de Concepción. Laura tem 24 anos, é estudante de obstetrícia da Universidade de Bos Aires, e filha da reconhecida Berta Cáceres, líder indígena do povo Lenca, pertencente ao CONPINH (Consejo Cívico de Organizaciones Populares e Indígenas de Honduras), assassinada por sicários no passado Março.

A seguinte entrevista permitirá-nos dilucidar a luita meio-ambiental que se está a levar adiante em Honduras. Falamos sobre o capitalismo, a luita pola autonomia do território, feminismo e indigenismo.

Há que salientar que em Honduras leva-se vivendo um período político de crise dende o Golpe de Estado do ano 2009. Isto permitiu o modelo extrativista poder instaurar-se através da violência: forças do estado e paramilitares resguardam os projetos transnacionais. Através do rescate destas vivências poderemos percatar-nos de que o que ocorre em Honduras nom é um caso isolado, e tem muitas similitudes com outros processos de luita em Latinoamérica, como o é a luita do povo Mapuche.

Qual é o estado actual do processo de luita meio-ambiental em Honduras, quais som as dificuldades que se evidenciárom?
Eu creio que por aí de Honduras, o que vimos vendo, e na Latinoamérica em geral, é a instalaçom do modelo extrativo com umha forma e método bastante selvagem, é seguir profundizando o rol de Latinoamérica como fornecedor de todos os seus bens e recursos.

Os territórios que se invadem fôrom histórica e ancestralmente cuidados polos povos indígenas. O golpe de estado de 2009 marca umha avançaada no sentido de habilitar abertamente a instalaçom de projetos e também articulá-los entre si para poderem ser sostíveis. Também está a introduçom desse modelo a partir da violência, o golpe de estado também propicia isso e permite o que é a militarizaçom da populaçom, o fortalecimento do aparelho militar e repressivo, porque também está a policía militar e também a paramilitarizaçom da sociedade com a introduçom das empresas privadas e o sicariato.

Quando umha empresa entra ao território, entra resguardada legalmente por toda a instituiçom fraudulenta que sai do golpe de estado, e há que soportar que cada vez se coartam mais os processos para juridicamente poder apelar a essos projetos; deve-se também aturar e soportar a militarizaçom, as estruturas armadas do estado e por outro lado a paramilitarizaçom e o sicariato, todo isto também baixo o contexto da criminalizaçom e perseguiçom dos luitadores e luitadoras.

Estas som as problemáticas que vivemos, ante isto também creio que a cosmovisom dos povos indígenas, e particularmente do povo Lenca e a capacidade histórica de luita, as aprendizagens que se tomárom em conta nos 500 anos de resistência, no que se vivírom distintas guerras, é o que ajuda a soster e seguir vivendo a luita e dando toda a batalha, e por isso também a importáncia de como de outros lugares podemos respostar à altura a estas situaçons que vivem os povos e que também se logram vitórias, que é botar o Banco Mundial, botar a Sinohydro, botar as empresas extrativas dos territórios, ainda com todo isto.

Antes falávamos acerca dos procesos de luita que levam os povos originários em Latinoamérica, como aqui em Chile o povo Mapuche, vocês estám enteirados desta luita? Crê você que há semelhanças, que também podam existir aprendizagens entre as luitas?
Eu creio que esses som os retos, que como movimentos sociais latinoamericanos, que fazemos também parte dos povos indígenas logramos construir também as formas de luitas históricas ancestrais. Lembro que o que fumos aprendendo do povo mapuche era esta vinculaçom com o território concreto, os controlos territoriais. Era entender, assumir e exercer a autonomia e a decisom dos povos sobre os territórios, o que implica tirarmos as empresas e também demonstrar nesses feitos, protestos e atos, que esses som os nossos territórios, e fazer valorar a nossa autoridade como povos para decidirmos sobre eles.

Como se vincula a luita indígena com a ánti-patriarcal?
Eu pensaria-o do lado das luitas emancipatórias, por outro tipo de sistema, que tem a ver com o enfrentamento do capitalismo, que entra, saqueia os territórios, mercantiliza os nossos corpos, a nossa vida, o neo colonialismo e o racismo que passa por cima dos povos indígenas, que sobretodo segue a colocar fora dos lugares de importáncia estas visons do mundo, que segue assassinando-nos impunemente e aí, nessa luita emancipatória, pensar e repensar outras maneiras de viver, outros mundos, outras realidades.

Está qual é o rol que nos fixérom jogar durante muito tempo às mulheres dentro do patriarcado capitalista e racista, e também qual é a nossa achega concreta à luita. As mulheres som umha parte fundamental, e muitas vezes motor das mobilizaçons que estamos vivendo, pola mesma conexom que temos com a terra, com entender esta relaçom de vida e esta capacidade de criarmos estas redes de vida, entom também é isso. O anti-patriarcado, e asumir-se deste jeito, e livrarmos esta luita, é defender os nossos territórios, fazer achegas emancipatórias, e eu creio que se nos sonhamos e pensamos umha realidade distinta tem que ir, digamos, a destruir todas esas opressons.

Qual é o impato que causou a morte da tua mai e qual é o significado que tem? No sentido de que por este feito dá-se a conhecer a nível internacional (de maneira mediática) a criminalizaçom das luitas sociais em Honduras, e é através dessa nova também pola que muitos nos enteiramos destes processos.
Pensaria que significa e que implica a vida de minha mai, Berta Cáceres, para o movimiento social e para isto de seguir a construir e a desputar a vida, e é isto, a minha mai é a líder, a coordenadora geral de umha das organizaçons sociais em Honduras, que tem umha história de 23 anos na que se acadárom vitórias para os povos, botar empresas, organizar a luita, enfrontar-se dende o sistémico na procura de umha estratégia que permita enfrontarse à ditadura, entom é umha vida que nos vai ensinando isto, é um símbolo, um exemplo e que logra dende o seu trabalho coletivo, porque cumpre pensá-lo coletivamente, trascender nom só à realidade nacional senom também à internacional, o que a torna umha figura internacional muito conhecida.

O seu assassinato implica o ataque concreto cara a luita do COPINH, que é a organizaçom da que a minha mai é parte, o povo Lenca, e por outro lado também do movimiento social hondurenho. Busca-se gerar o medo e o terror.

Assassinárom a luitadora com mais perfil internacional e isso é o que chega a mobilizar o mundo enteiro em torno a este assassinato, e também assassinam o símbolo andante, digamos, de rebeldia e dignidade, entom estám a nos ameaçar, com assassinatos, a ameaçar o movimento social inteiro. Eu acho que evidencia o selvagem que é o modelo extrativo. Nom damos a defesa da terra pola terra, senom a defesa do território, que implica a defesa das nossas vidas, aqui nom estamos só a mudar o mundo, senom que também estamos a pensar em viver, mesmo a viver no sistema atual militarista e violento, mas estamos nessa, na disputa concreta das nossas vidas, e eu creio que isso é o que demonstra este assassinato, a necesidade de articular-se, de gerar dende distintos lugares disputas de pensamento, em acçons concretas, de organizaçom de masas, e sentir que o mundo está rematando, que estamos levando um límite que é real, e que nesta urgência estam-se-nos indo os nossos companheiros e companheiras, que estam sendo assassinadas e assassinados.

Assumindo que América Latina se compom de várias sociedades, nomeadamente a que predomina em distintos países é umha sociedade profundamente colonizada; também é certo que existem umha moreia de povos originários que seguem dando a resistência dende a sua luita cultural; porém, para dar a cara a este extrativismo, a este sistema nefasto, acho que é necessária a aliança entre povos. Como crês ti que se devera começar a dar esta aliança, este choque de distintas cosmovisons pola defesa da vida como ti dixeche?
Ao principio também é começar a entender e reconhecer a nossa existência, já que muitas vezes, os povos indígenas que fôrom invisibilizados históricamente tivérom a posibilidade de ser nomeados, e depois é isto da acçom, unirmo-nos nas açons e nas luitas, solidarizar-se entre povos. Sempre que penso em como artelhar e como unir as luitas creio que é um trabalho coletivo que vai além, essa resposta constrói-se dende a colectividade e desde as mesmas organizaçons que começam a trabalhar e interagir.

 

*MapuExpress | Por Michelle Donoso e Simón Manríquez, publicado em Polémica Universitaria | Resumen Latinoamericano.