Como intra-história entende-se o conjunto de acontecimentos da vida ordinária e tradicional das pessoas, aquilo que nom sae nos grandes meios de comunicaçom ou que passa despercebido, mas que funciona como pano de fundo permanente à História oficial. Também se pode referir à história dos coletivos marginados, da gente e povos sem História, dos ‘ninguém’. E o certo é que parte importante da história do povo galego foi eliminada da História –com maiúsculas– para ficar agachada na intra-história. Ficamos à sombra, marginadas polos historiadores e ainda hoje há grandes lagoas no nosso passado.

Esta sensaçom de marginalidade também a deveu perceber Neira Vilas, que na sua primeira obra narrativa, o livro mais lido da nossa literatura, em voz do seu protagonista escreve ‘Eu som Balbino, um rapaz da aldeia, coma quem dis, um ninguém…’

O jornalista Eduardo Galeano, estava mui interessado pola intra-história e escreveu muito sobre os “ninguém” e assim, em ‘Espelhos, umha história quase universal’, relata a história de Bebel Garcia, outro ‘ninguém’ galego:

Derradeira vontade

A Corunha, verão de 1936: Bebel Garcia morre fuzilado.
Bebel é canhoto para jogar e para pensar.
No estádio, viste a camisola do Depor. À saída do estádio, viste a camisola da Juventude Socialista.
Onze dias após o golpe militar de Franco, quando acaba de fazer vinte e dous anos, ele enfrenta o pelotom de fuzilamento:
Um momento –manda.
E os soldados, galegos como ele, futeboleiros como ele, obedecem.
Entom, Bebel desabotoa as calças lentamente, botom após botom e, de frente para o esquadrom, lança umha mejada comprida.
Depois, abotoa as calças:
Agora sim.

Bebel Garcia era militante das Juventudes Socialistas Unificadas (JSU) e dianteiro do Depor quando foi do golpe fascista. El e seu irmao France fôrom fuzilados em Ponta Hermínia o 29 de Julho de 1936. Junto com outros antifascistas, fôrom condenados a pena de morte após um juízo-farsa acusados de rebeliom militar por ajudarem na defesa do Governo Civil ante o golpe fascista que se acabava de produzir. Outro dos acussados era seu irmao pequeno Jaurés, mas nom foi condenado a morte por ser menor de idade; apareceu assassinado meses despois no cemitério de Sam Amaro.

O ano antes, segundo relata o jornal ‘El Compostelano’, também junto a seu irmao France, e outros quarenta camaradas, Babel já fora detido, enviado a prisom e multado com 250 pesetas por “fazer exercícios de formaçom e entoar cánticos subversivos” frente o fortim militar de Adormideras.

Babel e seus irmaos, eram conhecidos na cidade como “os filhos da lixívia” –devido a que seu pai, militante socialista, que já fora desterrado da sua vila natal por questons políticas, tinha um pequeno negócio de fabricaçom e venda de lixívia no bairro de Monte Alto– aos que décadas mais tarde, lhe dedicárom umha pequena rua no mesmo bairro.’