Por Marcos Garrido/

O choque entre a principal força da agroindústria, Monsanto-Bayer, e as mobilizaçons ecologistas, que se leva certificando em multitude de frentes nos últimos anos, vai encontrar a sua culminaçom durante o dia de hoje, com a decisom da Uniom Europeia sobre a proibiçom do herbicida glifosato. Sobre a mesa, a possibilidade de prorrogar a sua licença até dez anos mais.

Glifosato, o produto estrela de Monsanto

Inventado em 1974 e comercializado sob a omnipresente marca RoundUp, o glifosato é o herbicida mais empregado no mundo, tanto na agricultura como em jardinaria. Tam exitoso é, que supom já o 40% das receitas da multinacional agroindustrial, ao ser o complemento forçoso às suas sementes transgénicas, modificadas para resistir este herbicida. A combinaçom de sementes OMG patentadas com o herbicida complementar converteu a maioria da alimentaçom humana num sector sequestrado por esta multinacional.

Desde há anos à oposiçom sistemática ao RounUp comandada pola agroecologia, que se opom em geral a todos os pesticidas químicos, somárom-se as crescentes evidências científicas da toxicidade do glifosato sobre o meio e também sobre a saúde humana. Em particular, encontrárom-se provas de que incrementa o risco de cancro.

A ciência, campo de batalha

Nos ámbitos científicos e académicos, longe da imagem de neutralidade e rigor que assumem entre a populaçom, desencadeou-se umha guerra de posiçons na que Monsanto participou com todas as armas, do financiamento de estudos favoráveis, até as pressons a científicos que, em última instáncia, dependem do gigantesco departamento de I+D da companhia.

Em 2015 a Agência Internacional para a Investigaçom do Cancro, dependente da OMS, declarou o glifosato como “provável cancerígeno”, num revés importante que ia provocar a reacçom do lobby industrial. Como resultado das suas pressons, dous organismos da Uniom Europeia, a Agência de Segurança Alimentar e a Agência de Substáncias e Misturas Químicas, negárom a toxicidade do glifosato, em informes destinados a conseguir a prórroga na licença de comercializaçom do RoundUp. Mas os seus informes baseárom-se em estudos científicos pagados por Monsanto, estudos cuja manipulaçom pola empresa já foi condenada mesmo pola justiça norte-americana.

Mobilizaçom ecologista em Europa

A oposiçom ao glifosato, fortalecida polo reconhecimento da OMS e acuciada pola iminência da renovaçom da licença de comercializaçom, incrementou-se nos últimos meses, dando lugar, por exemplo, a umha campanha de conscientizaçom no rural da Galiza, que demandava aliás aos concelhos que deixassem de usar RoundUp nos parques infantis, nos jardins e nas estradas. A nível europeu recolhêrom-se mais de um milhom de assinaturas a favor da proibiçom do herbicida.

Como resultado imediato das pressons o Parlamento Europeu pronunciou-se ontem mesmo contra a renovaçom da licença, embora a sua opinom nom é vinculante.

Decidem os Estados

Toda a soma de pressons contraditórias há de resolver-se hoje numha decisom em que só tenhem voto os governos dos estados membros. A priori, somente França, Alemanha e Itália recusam renovar a prórroga a Monsanto, enquanto no bando favorável à multinacional destaca a militáncia pró-química de Espanha. Baralha-se como resultados possível umha prórroga por três anos.

A postura de Espanha nom causa surpresa, já que é o estado mais alinhado com as teses da agroindústria, com negacionismo da toxicidade dos seus produtos e desconsideraçom cara os seus efeitos ambientais. Espanha é decididamente o estado mais amigável com os cultivos transgénicos, e o primeiro consumidor europeu de pesticidas químicos.