Por Júlio Teixeiro /

Levando em conta a actualidade, todo o mundo intui que o medo joga um papel protagonista na retórica política. E é certo. Os debates políticos nascem de se propor publicamente a mudança dalgum aspecto, relevante, do status quo; e, o medo, acompanha habitualmente esses debates como a principal arma argumentativa daqueles que se oponhem a estas mudanças. Neste sentido, para o poder estabelecido, torna-se sempre fulcral politicamente a economia do medo; quer dizer, a administraçom das mensagens que transmitem -à sociedade- incerteza sobre o futuro, insegurança pessoal, ou vertigem perante o novo. Uns significantes que nom se limitam apenas ao âmbito verbal de, por exemplo, a descriçom mediática de cenários apocalípticos decorrentes das mudanças propostas. Longe disso, estes significantes, incluem também a difusom gradual da violência policial, as detençons selectivamente decididas, as sançons econômicas exemplificadoras, etc.

Em muitos casos, além de todo o anterior, na economia do medo integra-se o seu inverso formal: o medo à economia. Um medo compreensível nas pessoas, à pobreza, a perder o que se tem, ou em relaçom com o futuro dos filhos. Nestes dias, no marco do conflito catalám, o debate político está a ser influído pola economia do medo em todos os sentidos mencionados, mas sobretudo é o medo à economia o principal argumento (até agora) do discurso unionista. As deslocalizaçons, de bancos e empresas, configuram-se neste contexto como a mensagem que transmite de jeito mais claro a ameaça de crise, recessom e desemprego.

Também é certo que a capacidade ameaçante das deslocalizações supom assumir que ‑a independência de Catalunha‑ nom é um delírio duns poucos, mas umha possibilidade real no curto prazo. O governo espanhol, a despeito desta implicaçom, está a favorecer quanto pode a fugida bancária e empresarial; algo que só se pode qualificar dum jeito: política de terra queimada. Eis, pois, como a dialéctica do medo joga um rol essencial no conflito político entre Espanha e Catalunha.

Seria –porém- ingénuo pensar que, os bancos e as empresas, deslocam o seu domicílio social ou fiscal só para lhe botar umha mao, ao governo espanhol, no seu pleito com Catalunha. Em realidade, o fundamento destas decisons empresariais, a origem –pois- do medo, nom é outro que o poder incontornável do Banco Central Europeu. Hai que lembrar que o BCE destina, cada mês, sessenta mil milhons de euros –o PIB galego anual- á compra de dívida europeia, pública mas também privada. Os grandes bancos, e algumhas empresas do IBEX, som beneficiárias directos desta formas de financiaçom. É óbvio aliás que, o sistema económico espanhol em geral, depende desta gigantesca expansom monetária constante que se vem produzindo desde 2015. E o empresariado sabe-o. De facto, a política monetária do euro, é umha das duas patas –junto co turismo- sobre as que caminha a, aparente, recuperaçom económica espanhola.

O papel do poder monetário no debate político, como fonte última do medo à economia, merece umha reflexom por parte de todas. A ninguém se lhe oculta, a este respeito, que o processo catalám está a ser umha aprendizagem importante para outros povos como o nosso. Nessa liçom, joga um papel político fundamental o euro e as instituiçons jurídico-políticas que lhe dam valor á moeda. Vimo-lo no caso grego, no que a vontade popular –expressada também num referendo- foi tronçada polo poder monetário e financeiro. A pergunta que deve ser colocada, pois, é: tem Galiza algumha possibilidade, como povo, dentro do capitalismo?

Os Rothschild fôrom umha saga de banqueiros sem os quais nom se entenderia a evoluiçom do capitalismo que conhecemos. Umhas palavras do seu fundador, Mayer Rothschild, podem ser neste assunto ilustrativas:

“Permitam-me a mim emitir, e controlar, o dinheiro e tanto me tem quem formule as leis.”

 

 

 

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