Por Marcos Abalde Covelo /

Como pintor, cenógrafo e artista gráfico, Camilo Dias Valinho vai pôr o seu talento ao serviço da naçom. Em 1920 instalou-se em Compostela. Entre outras atividades, realiza o desenho dos cartazes das festas do Apóstolo. O cartaz de 1936 vai ser reutilizado em 1950 polo governo municipal, mas eliminam três elementos: a bandeira republicana, a bandeira galega e o nome de Camilo Dias Valinho. Esta anedota é bem ilustrativa. De maneira consciente o franquismo quer roubar-nos os nomes. Chama a atençom como Dias Valinho sorri em cada umha das suas fotografias. Por que é tam perigoso esse sorriso?

A pesar de termos um busto de bronze no Cantom de Ferrol, nom é umha figura mui conhecida. Morava a poucos metros de ali na rua Madalena nº 5. Quando a rua Madalena começava no cruzamento com a rua da Terra. Nasceu em 1889. Em 1917 aparece na comitiva de bem-vinda aos membros da Irmandade da Fala de Corunha. O irmao Vilar Ponte, o irmao Lugris Freire, o irmao Ricardo Carvalhal vinham a estender o ideario irmandinho. Aquele fevereiro de 1917 realizam um fito: o primeiro ato público em idioma galego de Ferrol.

Emociona a dedicatória do seu Conto de guerra, precursor da nossa literatura infantil: “Às Escolas da Irmandade da Fala, novo lar onde arde o lume sacro da Raça. A Ângelo Casal, meu irmao bem-querido, luitador que acende os coraçons dos rapazinhos das escolas irmandinhas”.

Acender os coraçons irmandinhos, esse é o objectivo. Do seu atelier saiu o mais emblemático dos cartazes em prol do Estatuto: Galiza com a estrela branca da liberdade, o ramo da oliveira da paz e a roda do progresso. Dias Valinho quer representar umha Galiza livre para trabalhar em paz. Na campanha em prol do Estatuto forom impressos 70.000 destes cartazes que encherom de esperança os muros do Pais. Em 28 de junho de 1936 o Estatuto vai ser referendado por umha amplíssima maioria do povo galego.

Poucas semanas depois produze-se o golpe de Estado e encarceram Dias Valinho na prisom da Falcona, nos baixos do paço de Raxoi. Conservamos um testemunho daqueles momentos, o de Gerardo Dias Fernandes. “Falava todo em galego” salienta este supervivente do extermínio. Lembra-o sentado no chao com as costas à parede e o lápis na mao. Dias Valinho intuindo o que podia acontecer desenha os rostos dos seus companheiros. Vinte seis rostos que permitem achegar-nos à dimensom humana da barbárie. Vinte seis rostos que desde o silencio nos apelam e clamam justiça.

O 14 de agosto apareceu o corpo de Camilo Dias Valinho junto o de Sixto Aguirre numha gávia da paróquia de Meixide, Palas de Rei, ao carom da atual N-547. Ainda hoje desconhecemos onde estám os seus restos mortais. A sua companheira, a irmandinha Antónia Pardo Mendes, ao conhecer a notícia perdeu o sentido e morreu aos dous anos. Deixavam umha filha e um filho orfos.

Isaac Dias Pardo cumprirá o luminoso mandato do seu pai:

Prendim-lhe na cabeça de meu filho,
umha estrelinha forjada na Irmandade
e quero ver brilhar a luz dessa estrelinha
até chegar a cegar.
Que vejam os demais nessa estrelinha
a luz da Liberdade.
Que vejam que o tesouro mais querido
o tem o seu brilhar.